Existem lugares remotos no Litoral paranaense em que a areia é branquinha, o mar está livre de poluição e a cultura caiçara se manifesta a plenos pulmões. E tudo isso bem pertinho da agitação do Porto de Paranaguá. Nas Ilhas de Superagui e das Peças é possível visitar comunidades pequenas e receptivas, onde só se chega de barco. Belas paisagens e pratos caprichados à base de peixes e frutos do mar completam o passeio.
A região faz parte do Parque Nacional do Superagui, que tem 34 mil hectares de área protegida em Guaraqueçaba administradas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente. Com a sua criação, em 1989, todo o ecossistema do entorno passou a ser preservado por lei. Por isso, é fácil encontrar uma grande variedade de espécies de plantas e animais inclusive ameaçados de extinção, como o mico-leão-da-cara-preta.
Pequenas comunidades de pescadores vivem nas ilhas desde a época da colonização do Brasil. Segundo Guadalupe Vivekananda, chefe-substituta do Parque Nacional, um dos objetivos do órgão é preservar a cultura caiçara. "Incentivamos um turismo diferente, em que as comunidades tenham vez. São os pescadores que cuidam das pousadas e restaurantes, que se tornam uma opção a mais de renda, junto com a pesca", afirma.
Com a oferta de cursos de capacitação para os jovens nativos, voltados às artes pesqueiras e ao turismo, criam-se oportunidades para que eles permaneçam em suas comunidades de origem. "O turismo é de base comunitária. E os visitantes geralmente gostam da experiência, porque ela não existe mais em outros lugares. É uma área intocada, com populações tradicionais e espécies ameaçadas. O visitante sai sensibilizado com a conservação da natureza", explica Guadalupe.
PasseioRestaurante de Barbados serve quitutes pescados ali mesmo
Uma dica para conhecer as belezas da região é se hospedar em pousadas de Superagui ou da Ilha das Peças e conhecer as outras comunidades da região durante o dia. Saindo de barco da Barra de Superagui vila principal da ilha logo se avista Barbados, um vilarejo com cerca de 25 casas de pescadores.
No único restaurante do local são servidos quitutes pescados ali mesmo. Antônio Lopes, mais conhecido por "seu" Lopes, é o proprietário. Ele conta que construiu o restaurante aos poucos, para atender alguns turistas que passavam pela região há cerca de 10 anos. Agora, o movimento nos fins de semana é grande. A ostra servida ali faz sucesso no boca a boca entre visitantes. "O segredo é deixar a ostra na água salgada. Se pegar água doce ou barro, estraga", ensina. Ele assa as ostras em um fogão à lenha e serve com limão. Também dá para comprar e levar para comer em casa: uma dúzia de ostras sai por R$ 15, e de caranguejos, R$ 20.
A família de "seu" Lopes vive em Barbados "desde sempre", como ele diz. Ele ainda lembra quando era possível fazer roça ou caçar os animais da região hoje proibidos por lei. "Mas eu acho que tá certo. Senão a gente perde esse tanto de coisa boa que tem aqui", diz. Com o dinheiro ganho no restaurante, ele pode passar o inverno na casa das filhas em Paranaguá e reformar o estabelecimento, que é caprichosamente pintado com as cores do Brasil e ainda mantém uma farinheira artesanal, da época em que plantava mandioca.
ComunidadeA vida corre mansa em Bertioga, na Baía de Pinheiros
Bem na frente da comunidade de Barbados fica Bertioga. Para chegar lá basta cruzar a Baía de Pinheiros e chegar até a outra margem, já em território da Ilha das Peças. Bertioga é um pouco maior que Barbados: são cerca de 40 casas. Lá há dois restaurantes e uma pousada. Daril Ramos Correa e sua esposa mantêm o Sabor do Mar, restaurante que serve pratos por reserva. Uma porção de ostra gratinada, camarão, peixe, arroz, feijão e salada custa R$ 30.
A família de Daril também é tradicional na comunidade. "Meus pais vendiam peixe e caranguejo em Paranaguá e Antonina. Eles saíam de madrugada com a carga e tinham que ir remando, chegavam lá só às duas horas da tarde", lembra. "Agora a vida está mais fácil", garante, mostrando o gerador de energia elétrica movido à gasolina que funciona das 7 às 23 horas. Este ano a luz elétrica, que já existe nas vilas principais de Superagui e Ilha das Peças, também deve chegar às comunidades mais afastadas por cabos subaquáticos que estão sendo instalados pela Copel. O clima geral, nesses locais, é de tranquilidade. "Só não durmo com a janela aberta por causa dos pernilongos", diz Daril.