Matinhos - "O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão", anunciava o líder da Revolução de Canudos Antônio Conselheiro no livro Vidas Secas. O que o autor da obra, Graciliano Ramos, não imaginou é que a música tornaria realidade parte da profecia.
Em 2010, o sertanejo universitário invadiu as praias paranaenses e, se não fez o mar virar sertão, pelo menos já cobriu todo o Litoral paranaense. "Quando a música fica conhecida na praia, mostra que é a onda que todo mundo vai seguir. E a onda agora é o sertanejo universitário", diz um dos sócios da casa noturna Café Curaçao, em Guaratuba, Jonny Basso, que vem investindo em apresentações de duplas nas últimas duas temporadas.
A maior parte das grandes atrações na lista de shows no Litoral nesta temporada foi de duplas sertanejas exceções para samba-rock de Jorge Ben Jor, o rock-pop de Nando Reis e a mistura de estilos do Monobloco (que se apresenta hoje em Guaratuba, também no Curaçao). "Todos os grandes nomes do sertanejo vieram para nosso Litoral este ano", constata Basso. Destaques para Luan Santana, Fernando e Sorocaba, Maria Cecília e Rodolfo, João Neto e Frederico, Jorge e Matheus, Jean e Júlio, João Bosco e Vinícius. Em fevereiro, Victor e Léo completam o time nas praias do Paraná.
Acompanhado do adjetivo universitário, o ritmo foi repaginado. Se as duplas da década de 90 apostavam nas letras dor-de-cotovelo, o clima dessa nova geração é o de diversão. "A letra nem chega a importar muito, mas versa sempre sobre festas, cerveja e azaração. Tudo a ver com verão", diz o programador musical da Rádio 98 FM, Rogério Pulowsky.
Os amigos de Paranavaí, no Noroeste do estado, Robson de Oliveira Santos, Guilherme Bacarin e Flávio Morande, concordam. "É música boa para balada porque é fácil para tirar as meninas para dançar", diz Flávio.
Os rapazes estão há uma semana em Caiobá e semana passada tentaram assistir ao show de Fernando e Sorocaba. "Mas o ingresso estava caro e a casa, muito cheia", lamentou Guilherme.
Casa cheia é o que o sertanejo tem garantido aos produtores que apostaram no ritmo para este verão. "O público jovem quer se divertir e, quando a gente começa a tocar, logo enche a pista", diz Serginho, que forma dupla com o irmão Marcelo. Os dois "modernizaram" o sertanejo que faziam para atender à demanda e são uma das duplas que faz shows semanais em Guaratuba.
Mesmo quem diz não gostar do ritmo acaba aderindo, de certa forma, à moda. A professora universitária de Londrina Ana Paula Demarchi está em Caiobá desde o final de dezembro. Ela diz preferir o pop da cantora Lady Gaga. Mas o chapéu escolhido para os passeios à beira-mar é estilo country. "Acho bacana esse modismo sertanejo. É bom para os mais novos se divertirem. E não incomoda. Tem praia para todo gosto. Caiobá está mais família. Já Guaratuba, é só agito", compara.