Diante do sertanejo e do pagode que invadem o Litoral paranaense a cada temporada, em pleno calçadão de Matinhos um tatuador mantém vivo o espírito rock and roll no Litoral. "O único lugar que tem rock nesta cidade é no meu estúdio", garante o tatuador Johnny Tatoo, 34 anos, ao lado da namorada, Aline Gocks Cordeiro, 20.
Adepto do estilo desde os 12 anos, quando ganhou um vinil da banda Nazareth, Johnny se considera um punk meio capitalista, o que acabou sendo necessário para sobreviver. Nas bandas mais tocadas no seu aparelho de som, estão AC/DC, Kiss, Creedence, Matanza, Rolling Stones, Metallica, Pink Floyd e Ramones. "Rock é o único gênero que gosto. Não consigo ouvir outra coisa, apesar de às vezes ser obrigado a suportar", conta o tatuador, que usa cabelo moicano desde 1987.
Morador de Matinhos há dez anos, Johnny diz que alguns metaleiros tentam ajudar na sobrevivência do ritmo na praia, mas acabam desaparecendo no verão por causa da concorrência com outros gêneros musicais. "A dona de um camping até tentou montar um festival uma vez, mas a polícia não liberou", indigna-se.
Diante disso, o tatuador é obrigado a ir para Curitiba cada vez que quer assistir a um show do seu estilo preferido. E para isso, utiliza o seu triciclo incrementado e adaptado - em um acidente de moto, Johnny perdeu a perna direita. Além de Curitiba, Johnny e seu triciclo têm outros destinos em busca de liberdade. Sempre aproveitando para rever amigos. "Eu já devo ter rodado mais de 50 mil quilômetros. É o que me motiva a continuar vivendo", afirma.
Para conseguir ver um show do Creedence em 2006, por exemplo, o tatuador foi com o triciclo até Campo Grande (MS). Mas as viagens restantes acabaram não envolvendo a música e sim a vontade de pegar a estrada. O que já o levou à Bahia e até a Argentina.
Para 2009 o plano é ir novamente à fronteira com o Paraguai e fazer uma viagem para Goiânia (GO), passando por São Paulo e Minas Gerais. Mas o maior projeto é conhecer o Uruguai, atravessando todo o Sul do Brasil.
Fundador do primeiro motoclube de Matinhos, o Quebra-Ossos, Johnny afirma que no grupo de amigos motociclistas há todo tipo de gente. "O pessoal acha que somos bandidos, mas tem todo tipo de gente no grupo, até quatro policiais", complementa Johnny, que prefere não contar o nome de batismo para não sofrer gozações dos amigos de clube. "Se falar, todo mundo vai descobrir a minha identidade secreta. Até mesmo no motoclube, onde qualquer coisa serve como gozação. Meu sobrenome é xarope", explica Johnny.
Triciclo
O triciclo de Johnny foi montado por ele mesmo. O primeiro passo foi há dez anos: comprar o chassi por R$ 5 mil. Depois vieram os acessórios. "Parei de contabilizar quando chegou a R$ 13 mil", conta o roqueiro. Devido à deficiência, o meio de transporte é adaptado, com a embreagem e o freio no pé esquerdo.
O veículo chama a atenção dos turistas quando está estacionado no calçadão, com suas três caveiras de plástico e o pára-choque em formato de espada, entre outros acessórios planejados pelo próprio Johnny. "É raro, mas de vez em quando passa uma velhinha que faz o sinal da cruz. Mas a maioria delas quer tirar foto, subir no triciclo", conta.
O tatuador vive na espera de ser indenizado pelo acidente - a manutenção anual da perna mecânica custa R$ 3,5 mil. Enquanto ela não vem, Johnny trabalha durante toda a temporada com um único propósito: guardar dinheiro para as próximas viagens. Tudo para poder aproveitar o vento no rosto e deixar de ser um solitário na defesa do velho rock and roll.