Fauna
Espécies de aves raras
Quem passeia pela Lagoa do Parado pode encontrar com facilidade a Jacana jacana (foto 1), espécie de ave comum nas lagoas e brejos do Brasil. Entre as suas características, o pássaro tem um detalhe no dedo que possibilita as caminhadas sobre as plantas aquáticas, pois divide o peso do corpo em uma larga base. Com sorte, é possível ver o raro bicudinho-do-brejo. Identificado há dez anos na região, a espécie de ave era ainda desconhecida da comunidade científica.
Por viver em ambiente restrito, foi reconhecido como espécie ameaçada de extinção pelo Ibama. O livro Threatened Birds of the World (Pássaros Ameaçados do Mundo) que traz os nomes das aves em extinção descreve o pássaro como uma espécie muito pequena, rasteira, e que foi descoberta escondida nos banhados e locais pantanosos da região. Por suas peculiaridades como o longo bico e plumagem cinza-chumbo, a ave não se enquadra em nenhum outro gênero já descrito.
No interior da Baía de Guaratuba, a natureza guarda um espetáculo ainda inexplorado pelo homem. Localizada na margem esquerda do Rio Cubatãozinho, a oeste da Serra da Prata, a Lagoa do Parado é considerada um paraíso em meio à Mata Atlântica paranaense.
Somente barcos pequenos chegam ao local. Acompanhada de duas biólogas do Centro de Estudos do Mar (CEM) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Juliana Rechetelo e Luciana Festti, a equipe da Gazeta do Povo foi conferir as maravilhas da Lagoa. Guiada pelo barqueiro, Marcos da Silva, que mora há 36 anos no litoral paranaense, a viagem de duas horas foi iniciada em Cabaraquara, região onde opera o ferry boat que faz a travessia Caiobá-Guaratuba.
À caminho
O caminho já vale o passeio. No início, surpresas: de longe, uma ave cor-de-rosa chama a atenção. "É uma colhereira, chamada assim porque o bico se assemelha a uma colher. Com ele, o pássaro revolve o fundo dos ambientes aquáticos em que vive, em busca de alimento. No período reprodutivo, exibe essa bela plumagem cor-de-rosa", explicou Luciana.
Mais adiante, outro pássaro raro cruza o caminho. "Trata-se de um socó-do-mangue, ave ameaçada de extinção no Paraná e outros estados brasileiros", comenta Juliana.
Após 40 minutos no mar, o barco adentra as águas doces do Rio Guanchuma. Neste ponto, o mangue dá lugar a uma vegetação verde que em certos pontos apresentava flores. Mais à frente, o rio Cubatãozinho companheiro que guiou a equipe até o destino. Antes de chegar, os curiosos ninhos de guaxos desviam os olhares para o alto das árvores pendurados nos galhos, parecem pequenas sacolas feitas de gravetos.
Paraíso natural
As maravilhas do trajeto não ofuscam o espetáculo natural encontrado na Lagoa do Parado. "É com certeza o ambiente mais preservado em que já estive. É possível perceber isso pela vegetação e pela falta de indícios da presença humana", explica Juliana, que pela primeira vez visitou o local.
No interior das águas, plantas aquáticas formam um emaranhado verde, com pequenas flores brancas. A água doce da lagoa é cercada por uma vegetação herbácea verde e flexível em que ficam escondidas várias espécies de pássaros. Mais adiante, as árvores retorcidas servem de apoio para as coloridas bromélias.
O local, cercado por montanhas, também é abundante em peixes. Jundiá, taravia, lambari e nhacundá compõem a lista. Estes, porém, não são os únicos animais: jacarés, lontras e capivaras, volta e meia são avistados na região.
Para completar a lista das belezas locais, o céu faz da água da Lagoa do Parado o seu espelho. Em dias em que não há nuvens, o cenário compõe um show à parte.