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Toda moça solteira deveria olhar com bons olhos para o carnaval. Porque é nos blocos de rua e nos bailes da folia de Momo que floresce o melhor partido, o homem com quem todas sonham: o cara atencioso, inteligente e, principalmente, bem-humorado. Trata-se do folião, minhas amigas, o sujeito cuja colheita só ocorre por esta época do ano. Anotem: a boa safra de homens brota no carnaval.

Antes de mais nada, é preciso saber reconhecer o produto. E identificar o legítimo folião não é tarefa das mais difíceis. Exige apenas um olhar um pouquinho mais apurado.

O mais importante é não se confundir. O folião não é qualquer carinha que se veste com uma fantasia ridícula e sai pulando ao som das marchinhas de carnaval. Definitivamente, não. Você deve saber diferenciar muito bem o baladeiro do folião. São espécies de comportamentos parecidos. Costumam migrar para o Litoral, onde se misturam na primeira quinzena de fevereiro. Porém há de se ter atenção, já que a genética de ambos é completamente distinta. O baladeiro, salvo raras exceções, leva o DNA da traição em sua sequência genética. O folião, o da dedicação e da fidelidade.

Para o baladeiro, o carnaval é só mais uma das tantas festas de sua agenda repleta de eventos. O ano todo ele está na pista. É como o chuchu: pode até ter lá seus valores nutricionais, mas não tem gosto e sempre tem na feira. Já o folião, não. O folião é como as melhores uvas: tem o tempo certo de amadurecer, agrada aos paladares mais requintados e só é encontrado em casas especializadas. O baladeiro é a cachaça barata, que gera alegria curta, passageira, de tempo determinado. O folião é o fino trato, o vinho de boa cepa que impressiona.

E algumas de vocês, moças inquietas, devem estar a se perguntar "afinal, por que a massa deste pão só cresce em fevereiro?" E lá vou eu com a resposta. Porque o legítimo folião cria coragem de mostrar suas virtudes somente no clima de libertinagem do carnaval. É sujeito tímido, muitas vezes meio desengonçado, mas sempre de bom coração. E que, por excesso de humildade, não sabe se expor na vitrine. Por isso faz das marchinhas carnavalescas – que, ressalte-se, só são ouvidas no mês de fevereiro – o seu fermento. É no carnaval que ele realmente mostra suas virtudes de bom partido.

Não vou dizer que o folião não tenha lá seus defeitos. Tem, é bem verdade. Como uma certa predileção pela birita. Mas nada que o transforme em um desses bêbados inconvenientes, insuportáveis, que espantam qualquer rodinha de conversa. Pelo contrário. Quando abastece o tanque com certas doses, o verdadeiro folião fica até mais simpático. Um chopinho não lhe faz mal. Até realça suas qualidades.

Como aquele folião que diante das negativas da esposa em acompanhá-lo no baile, decidiu cair sozinho na folia. Ela até o liberou para brincar o carnaval. Mas com aquela suspeita que toda mulher tem de que a qualquer oportunidade o companheiro vai traí-la. O que caiu completamente por terra quando ele chegou em casa, já com o sol batendo forte na janela, cansado de pular marchinhas e, por assim dizer, um tanto o quanto aperitivado. Em um estado em que até para tirar a própria roupa precisou da ajuda da companheira. E foi neste momento que o folião da mais pura estirpe mostrou seu valor:

– Pelo amor de Deus, moça, não faça isso porque sou casado. E minha esposa é uma mulher muito boa, que não merece que eu cometa uma bobagem dessas... – bradou ele com a língua torta dos embriagados.

No dia seguinte, sem se lembrar de nada, ele foi recepcionado com um belo e farto café da manhã, recheado de muitos carinhos da esposa, orgulhosa da colheita que fez alguns carnavais atrás.

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