Os parentes mais distantes dos Luchtenberg podem não acreditar, mas alguém de uma das famílias que perpetua esse sobrenome germânico tem ajudado a preservar a memória da cultura açoriana em Bombinhas, cidade do litoral centro-norte de Santa Catarina. A façanha é de Rosane Luchtenberg, 61 anos, responsável pelo Museu Comunitário Engenho do Sertão, um dos quatro espaços da cidade que podem servir como rotas alternativas às badaladas praias do balneário.
A ligação de Rosane com a cultura açoriana começou em 1997, quando ela se propôs a mapear engenhos de farinha de Bombinhas. "Havia me mudado com a família para montarmos uma pousada, mas comecei a ficar incomodada por não conhecer a cultura local. Por isso fui atrás dos engenhos", explica a gestora do museu.
À época, com o recém criado Instituto Boi Mamão, Rosane diz ter mapeado nove engenhos que sobreviveram à expansão imobiliária da cidade que, com suas belas praias e locais para mergulho, torna-se um dos principais destinos turísticos do sul do país. Todos, porém, demandavam cuidados, e por isso ela arregaçou as mangas para restaurar dois deles. O trabalho contou com a aprovação em um projeto do Ministério da Cultura e recursos da Lei Rouanet.
Graças à restauração dos dois engenhos, turistas e moradores da cidade catarinense agora encontram viva uma história que começou no século 18, quando portugueses chegaram a Santa Catarina e aperfeiçoaram técnicas indígenas para a produção da mandioca.
Farinha
O antigo engenho, que já funcionou movido à tração animal, fica no número 452 da rua Abacate, no bairro Sertãozinho. Ali, além de poderem ver uma estrutura preservada do engenho, com direito a prensa, o paiol e o rodete, visitantes podem assistir apresentações de cantadores e do teatro de bonecos que remetem à tradicional festa do Boi Mamão expressão folclórica açoriana para celebrar a ressurreição do boi.
Apesar de celebrar a preservação do espaço e manutenção das atividades folclóricas, Rosane comemora outra vitória: a volta da fabricação de farinha em engenhos da cidade. "Já chegamos a ter 70 engenhos na cidade, mas eles foram acabando. Hoje, temos apenas 15, mas cinco deles fabricam farinha e sustentam as famílias", celebra a ascendente, alemã de origem, mas açoriana de coração.