Há 34 anos, a dona de casa Alzira Neves de Paula, 54 anos, mantém a mesma rotina. Todas as quartas-feiras e domingos, ela vai à Paróquia de Nossa Senhora dos Navegantes, na Ilha de Valadares, em Paranaguá, agradecer a Deus e à santa da casa por sua saúde e de sua família. "Sou filha de pescador e não poderia ser diferente", afirma. Mesmo não vivendo do mar, Alessandra Neves de Paula, 20 anos, segue os passos da mãe, Alzira. Desde pequena é devota de Nossa Senhora dos Navegantes, padroeira daqueles que enfrentam os perigos das águas. "Aos 3 anos de idade eu já estava na igreja. Comecei como coroinha e hoje sou diácono. A santa já realizou muitos milagres na minha vida", conta.
Ontem de manhã, Alzira, a filha e outras 200 pessoas participaram da procissão marítima em homenagem à protetora das águas. Ao todo, 20 embarcações dos mais diferentes tamanhos, decoradas com balões brancos e azuis (em alusão aos mantos de vestimenta da santa), seguiram o barco da Marinha do Brasil, que carregava a imagem da Nossa Senhora pelo Rio Itiberê e pela baía de Paranaguá.
No fim da procissão, que durou cerca de 50 minutos, o bispo de Paranaguá, dom João Alves dos Santos, abençoou com água benta as embarcações, enquanto os devotos cantavam e rezavam. "A Nossa Senhora dos Navegantes é a mãe daqueles que vivem do mar ou precisam dele. Aqui em Paranaguá, existem muitas pessoas nesta situação", diz.
Segundo o pároco da Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, frei Messias Vicente Rodrigues, Paranaguá e os moradores da Ilha de Valadares têm uma ligação muito forte com a santa. "Muitos nem trabalham com o mar, mas têm uma ligação forte com ele. Às vezes, são crianças que moram nas ilhas e vêm de barco para escola. É importante que eles peçam e agradeçam a proteção de Nossa Senhora dos Navegantes", diz.
O pescador Ednaldo Lourenço Soares, 30 anos, aprendeu duas coisas com o pai: a pescar e a louvar Nossa Senhora dos Navegantes. No domingo, ao lado da mulher e dos dois filhos pequenos, saiu com seu veículo de trabalho o barco e foi receber a bênção do bispo e agradecer à santa. "Quantas vezes eu precisei dela e ela me atendeu. Quando estou em alto-mar, sem a família, trabalhando, peço para que cuide de mim. Nas tempestades, eu peço a proteção dela. Quando tenho um dia bom de trabalho, ou até mesmo ruim, eu agradeço", conta.
Tradição
De acordo com frei Rodrigues, a tradição de louvar a santa protetora dos navegantes surgiu no Brasil durante a colonização portuguesa, ainda no século 16. Antes mesmo do descobrimento do Brasil, segundo o frei, os pescadores e desbravadores marítimos portugueses já cultivavam o hábito de pedir a proteção da padroeira.
No Brasil, 2 de fevereiro é o Dia de Nossa Senhora dos Navegantes. A data é comemorada em todas as regiões do país, mas os eventos mais tradicionais acontecem em Porto Alegre, onde quase 100 mil pessoas participam dos festejos, e em Navegantes, Santa Catarina, cujo nome da cidade é uma homenagem à santa.
Em Paranaguá, os festejos para Nossa Senhora dos Navegantes ocorrem há 62 anos e duram tradicionalmente uma semana. Além da procissão marítima, que normalmente encerra as atividades, são celebradas missas especiais e festas para arrecadar fundos para caridade.