O sotaque castelhano é presença garantida no Litoral paranaense nesta temporada. Ouvidos atentos e uma caminhada de dez minutos pela Avenida Atlântica, em Matinhos, são suficientes para cruzar com vários grupos de turistas argentinos e paraguaios. Na praia, a cuia e o mate são companhias inseparáveis dos nossos vizinhos, que não abrem mão de saborear um belo chimarrão ou tererê.
Quando a maior parte dos veranistas brasileiros já voltou ao trabalho e as férias escolares se aproximam do fim, eles chegam para aproveitar dias de sol e tranquilidade à beira da praia. Enquanto para os brasileiros a alta temporada vai da metade de dezembro a meados de janeiro, para os turistas do Mercosul, sobretudo argentinos e paraguaios, o melhor período para viajar começa no final de janeiro e se estende até o fim de fevereiro, já que o retorno às aulas acontece só em março.
Muitos deles estão no Litoral paranaense pela primeira vez, como é o caso da família Mazzarelli, que veio da cidade de Corrientes, capital da província de mesmo nome, para conhecer Caiobá, depois da indicação de amigos. "Há 10 anos passamos férias nas praias de Santa Catarina, mas neste ano decidimos conhecer o Paraná. Felizmente não nos arrependemos", disse Francisco Mazzarelli, que trouxe a esposa Mariana, 34, e os filhos Eva, 7, e Toto, 5, além dos cunhados Horácio Sahagún, 36, Guadalupe Salazar, 35, e o filho do casal, Juan Manuel, 2.
Essa também é a primeira vez que o advogado argentino Alberto Magram, 53, e a esposa, a psicóloga Carolina Mentlik, 40, vêm a Caiobá. Segundo eles, o trajeto de mais de mil quilômetros da cidade de Posadas capital da província argentina de Misiones até o Litoral paranaense foi totalmente compensado na chegada. "É possível passar horas na beira na praia, contemplando a paisagem e aproveitando o sol", afirma Carolina, que também trouxe os pais.
Além da água do mar mais quente, os turistas argentinos e paraguaios apontam a proximidade das praias do comércio e dos serviços e o acolhimento das pessoas como pontos positivos da região. "Viemos dar uma volta e acabamos encontrando esta praça linda, cheia de enfeites de Natal", disse a farmacêutica Rosana Petina, 39, que estava na companhia do marido Francisco Salpietro, 39, e dos filhos Giana, 7, e Valentin, 10. A viagem da cidade de Malabrigo, na província argentina de Santa Fé, foi feita na companhia do casal de amigos Diana Locatelli, 37, Ricardo Sponton, 39, e dos filhos deles, Belén, 8, e Agustín, 4. Eles devem retornar no próximo sábado,mas já fazem planos para voltar no ano que vem.
Estrutura
A grande presença de turistas castelhanos nas praias do Paraná já é sentida também no setor de comércio e serviços. Segundo a corretora de imóveis Miriam Barbosa, somente na imobiliária onde ela trabalha, em Caiobá, houve um aumento de 30% em relação ao ano passado na locação de imóveis para turistas da região do Mercosul, sobretudo da Argentina.
Miriam, que já foi gerente de pousadas na Praia de Canasvieiras, em Santa Catarina, reduto dos turistas argentinos, diz que é preciso investir em estrutura para atrair e fidelizar esses visitantes. "Eles vêm para ficar de 10 a 15 dias e não costumam fazer economia", ressalta. O bom atendimento é fundamental para que eles retornem nos anos seguintes e tragam consigo outros amigos e familiares. "Quer melhor propaganda que o boca a boca?", brinca.
Novos moradores
Franceses atracaram em Guaratuba e não saíram mais
De Lyon, no centro-leste da França, para a Baía de Guaratuba. Os velejadores Anne e Gerard Flukiger não imaginavam que, ao sair do continente europeu em busca de aventura, há cinco anos, parariam no Litoral do Paraná e daqui não sairiam mais. A ideia era apenas visitar as ilhas do Atlântico, o Senegal, país da África Ocidental, e passar por Cabo Verde. Saindo do arquipélago, veio a indecisão: conhecer o Caribe ou o Brasil?
"Decidimos ir ao Brasil, porque era menos conhecido que o Caribe. Fomos seguindo a costa, passamos pelo Nordeste, pelo Rio de Janeiro e chegamos à Baía de Guaratuba, sem conhecer ninguém", conta Gerard. Já em Guaratuba, o casal encontrou uma embarcação de turismo em reforma e decidiu perguntar como estava a maré, para poder voltar ao mar e retornar para a França.
Acabaram conhecendo os donos da embarcação e se encantaram com a cidade e o mar. "Duas semanas depois, a maré já havia subido, descido, subido de novo, e a gente não queria mais ir embora. Voltamos para a Europa apenas para acertar nossos vistos", explica o velejador.
Os dois completaram nesta temporada dois anos trabalhando nos passeios turísticos de barco pela Baía."Queremos ficar no Brasil, e aqui em Guaratuba", diz, com firmeza, Gerard.