Presença garantida nas praias, os surfistas não estão de olho só no mar. Há muitos anos eles colaboram com a limpeza das praias paranaenses fora da temporada, realizando mutirões de limpeza e, desde 2007, estão envolvidos com a preservação das restingas - vegetação rasteira típica da orla. A Associação dos Surfistas de Guaratuba (ASG) é responsável pelo Projeto Dunas e Restingas, que delimita as áreas de vegetação na orla. As ações transformaram o visual da praia e ganharam força por todo o Litoral.
A recuperação da vegetação começou na Praia dos Paraguaios, em Guaratuba. "Era um lugar muito frequentado por ônibus de excursões, para acampamentos e festas", conta Marcio Odewagen, presidente da ASG e morador de Guaratuba. O excesso de veículos e o intenso fluxo de pessoas acabaram achatando e desgastando a vegetação. "É um ciclo: estraga a vegetação e afeta lá no fundo do mar. Precisamos preservar as restingas, porque é a vegetação que acumula a areia em dia de vento e cria uma barreira para conter o avanço do mar", ressalta Odewagen.
O trabalho dos surfistas já deu resultado. Em Guaratuba, a faixa de areia está mais larga e a vegetação cresceu cerca de um metro.
Segundo a professora do Departamento de Botânica e responsável pelo Laboratório de Ecologia Vegetal da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Márcia Cristiane Mendes Marques, a vegetação de restingas tem o importante papel de estabilizar sedimentos. "As raízes e mesmo as partes aéreas de plantas de restinga fixam partículas de areia que são constantemente depositadas pelo mar", explica a professora. A região onde há restinga também concentra um grande número de espécies animais e vegetais que tem o hábitat restrito a esses lugares. Como a coruja buraqueira, que após o trabalho de preservação dos surfistas, voltou a ser vista na Praia dos Paraguaios.
Parceria
O trabalho dos surfistas já se espalhou para outras praias. "As pessoas conheceram e gostaram do nosso trabalho. Agora, quando fazemos ação em um lugar, os surfistas se unem para ajudar. Tudo pela preservação da área", conta Odewagen. O projeto tem apoio da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Força Verde da Polícia Militar, Sanepar e Copel, que doou antigos postes de eucalipto para fazer a delimitação da área de restinga.
As ações acontecem em forma de mutirões: os surfistas se dividem em grupos e cada um é responsável por uma parte da obra.
Em Praia de Leste, no município de Pontal do Paraná, a ideia é usar os campeonatos de surfe para conscientizar as pessoas. "O público que está assistindo pode ajudar, se envolver nas ações", diz Marina Maria Kamarowski Nascimento, presidente da Associação dos Surfistas de Praia de Leste (ASPL). Para ela, uma praia bem-cuidada traz visibilidade, fortalece o comércio e ajuda a desenvolver o Litoral.
Em Pontal do Paraná, o trabalho começou no Balneário de Ipanema, onde as duas quadras principais já foram isoladas. Para Junior Sbravatti, presidente da Associação de Surfistas de Balneário Ipanema (ASBI), a população dos municípios e os veranistas devem criar uma identidade com a natureza da região. "Precisamos das restingas preservadas para praticar nosso esporte e quem mora no Litoral precisa viver em harmonia com a natureza", defende. Para alcançar esse objetivo, eles pretendem fortalecer a divulgação da preservação em janeiro.