Oswaldo Sarti, 76 anos, toca, junto com a esposa, uma pequena lanchonete no centro de Matinhos, onde vende pastéis, salgados, café, cerveja e refrigerante. Hoje ele anota os pedidos e cobra os lanches de avental branco e troco no bolso. Há 24 anos, Sarti tinha duas outras funções no Coritiba campeão brasileiro de 1985: era o massagista e o desbravador dos campos inimigos.
A pedido do técnico Ênio Andrade, Sarti desembarcava antes do resto do grupo. Acendia as velas no vestiário e depois subia para o gramado. Lá jogava dentes de alho no campo, uma superstição que virou rotina. "Era mandinga, mas no futebol tem dessas coisas. O pessoal não jogava tranquilo se não tivesse o alho lá", diz.
Na maioria das vezes, a missão era cumprida sem maiores problemas. Sarti esmagava o alho com a mão e o arremessava no campo, sem chamar a atenção. Nas partidas finais, porém, a situação mudou. Contra o Atlético Mineiro, na semifinal do Mineirão, e contra o Bangu, na final no Maracanã, a recepção foi pouca amistosa. "O pessoal já me conhecia, sabia desse ritual. Era eu subir do vestiário e começava aquela vaia. Queriam me matar."
Com pressão e tudo, a final contra o Bangu merece um capítulo à parte. "Enchi o vestiário de velas. Fiz uma decoração bonita e joguei bastante alho. Teve uma reza de emoção no vestiário. Ali eu sabia que íamos ser campeões."
Além de ser responsável pela parte exotérica, Sarti seguia outra recomendação direta de Andrade, dessa vez na parte física. "Ele me chamou no início da competição e disse que queria todo mundo inteiro pra reta final, que esse seria nosso diferencial. Conversamos com o médico e o preparador e passou a funcionar assim: machucava, ia para a enfermaria."
Sobre os jogadores daquele time, Sarti não tem reclamações. "Todo mundo trabalhava certinho."
A maior glória na carreira foi conquistada depois de uma década de vitórias no Alto da Glória. Nos anos 70, Sarti foi hexacampeão paranaense e levou por várias vezes o troféu de melhor massagista do campeonato, na eleição promovida por radialistas.
"Toda minha história no Coritiba é muito bonita", diz ele que afirma ter recebido tudo que era combinado em termos salariais. "Com o bicho (prêmio pago pela conquista de um título) de 85 comprei carro e casa. A diferença era o Evangelino (Costa Neves, maior presidente da história do Coritiba). Era um presidente único que cumpria o que prometia."
Sarti abandonou o futebol em 86, devido a um infarto. Ficou um tempo parado e há 12 anos passou a ajudar a esposa na pequena venda no Litoral. "Faz um ano que me mudei de vez. Gostei da cidade. Fora da temporada é tranquilo", diz Sarti. A lembrança do futebol está sempre por perto. A foto com a taça de 85 ocupa um grande espaço na lanchonete.
Sarti continua acompanhando o clube e diz estar torcendo pelo sucesso alviverde no Centenário. "O pessoal que está lá tem uma história bonita para defender, ainda mais neste ano", diz, enquanto serve mais um salgado a um freguês.
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