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Pela Ilha do Mel circulam pessoas de todos os tipos. De jovens surfistas a senhoras procurando sinal no celular – que não pega em algumas áreas. Há espaço para todo mundo. Para além das famosas belezas naturais do local, as pessoas que circulam por ali são uma atração à parte. Uma boa recomendação é sentar e conversar com quem encontrar por lá. A possibilidade de ouvir uma boa história é grande. Os pouco mais de mil habitantes do local aprenderam a viver em contato permanente com a natureza e seus desmandos, com os turistas em época de temporada e os invernos solitários. A relação deles com a Ilha é tão íntima que seria difícil imaginar o mesmo modo de vida em outro lugar. A Gazeta do Povo visitou a Ilha do Mel e selecionou algumas "figuras" dali. Nenhum dos personagens é nativo, mas todos consideram a Ilha como o lugar do coração.

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AproveitamentoEvaldo, o artesão que aproveita até caroços

Walter Alves/Gazeta do Povo

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"O que você faz com o caroço da azeitona?", pergunta Evaldo Davi, dono de um restaurante próximo ao trapiche de Brasília. Já sabendo que a maior parte das pessoas joga fora essa parte do fruto de oliveira, ele se antecipa. "Gosto de transformar o que não se usa mais. O lixo seria mínimo se as pessoas tivessem noção de aproveitamento." Ele limpa os caroços, pinta, cola em outros elementos encontrados na região e o resultado são lembrancinhas da Ilha do Mel, vendidas a R$ 2,50. Se ele não falasse, não dava nem para saber que os objetos de decoração são feitos com a parte rejeitada da azeitona.

Davi nasceu em Curitiba, mas foi para a Ilha do Mel quando ainda era bebê. Dono de restaurante há 32 anos, ele é famoso entre os visitantes por suas pinturas, que costumam retratar a Ilha e estão presentes nas paredes do estabelecimento e até no tampo das mesas. "O vendedor entendeu errado e mandou 96 peças de madeira, em vez de 24. Pintei todas e agora tem muita gente com tampo de mesa como quadro em casa", se diverte.¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨InspiraçãoCaco, o artista plástico

Walter Alves/Gazeta do Povo

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A cidade de Bauru, no interior de São Paulo, se tornou muito grande para Luiz Carlos Gonçalves, o Caco. Ele e sua mulher juntavam dinheiro o ano inteiro para poder passar as férias na Ilha do Mel e fugir da "Babilônia" urbana. "Uma vez a gente veio, foi passando o tempo e a gente não ia embora. Moramos quatro anos em uma barraca de camping", lembra.

Isso faz 22 anos. Na época, a família era formada por Caco, a esposa Sílvia e os filhos Gustavo e Janis. Mais tarde veio Mel, nascida na Ilha. Caco brinca que é a "Ilha da Mel".

O trabalho dele é bastante conhecido pelos visitantes e é inspirado nas obras do artista holandês M. C. Escher, famoso por suas gravuras baseadas em conceitos matemáticos. Autodidata, Caco se inspira no dia a dia na Ilha em suas obras, repletas de referências ao meio ambiente e à interferência do homem. ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨CriatividadeSuzi e uma pousada cheia de curiosidades

Walter Alves/Gazeta do Povo

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Quando morava em Curitiba, Suzi era produtora freelancer de televisão, cinema, teatro e eventos. A jornada de trabalho puxada a deixava estressada. Na época, seu refúgio era a casa da família na Ilha do Mel, onde ia para descansar. Um dia, bateu o estalo: por que não ficar de vez no local? Com a ideia na cabeça, ela transformou a casa da família na Pousada das Meninas, na Vila do Farol. "As pessoas faziam aposta de que eu iria voltar logo. Mas já faz 20 anos que estou aqui", afirma.

Um dos pilares para a permanência na Ilha foi Nelson Valentin, o Pichete, um barqueiro nativo. "Ele era meu grande amigo há muitos anos. Acabamos ficando juntos e formamos nossa família aqui", conta ela.

No começo, a pousada só tinha duas suítes. Ela lembra que em épocas de muito movimento, tinha que colocar o seu colchão embaixo da mesa da cozinha, com medo de ser pisoteada pelos hóspedes. Em sua vida na capital, ela era especialista em cenários. Isso contribuiu para o tratamento que deu à sua pousada. "A gente recicla tudo. Esse tronco, por exemplo, encontrei na praia. Virou pé direito", conta.

Além disso, há abajur feito de hélice, deck de madeira feito com persianas e outras invenções. Neste ano, a família de Suzi terá de se mudar para Paranaguá para que os filhos continuem os estudos. "Adiei o quanto pude, mas não teve jeito. Agora o plano é voltar pra Ilha todo fim de semana."¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨Miguel Ramero, o único padre do local

Walter Alves/Gazeta do Povo

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O religioso italiano Miguel Ramero vive há quase 50 anos no Brasil e há sete na Ilha do Mel. Único padre da Ilha, ele percorre as trilhas pela vegetação nativa toda semana para celebrar missas nas três igrejas do local (uma em Encantadas e outras duas em Brasília).

Ramero chegou à Ilha a pedido de moradores, pois não havia padres ali há pelo menos 40 anos, segundo ele. "Costumo dizer que este é o santuário com a maior cúpula do mundo: o céu. Aqui é fácil encontrar Deus em todo lugar", afirma.

O "Padre Miguel da Ilha do Mel", como se autointitula, conta que veio ao Brasil quando tinha 30 anos. "Quando o bispo da minha região na Itália me convidou para ajudar na Paróquia de Curitiba, pensei: ‘Jesus tinha a minha idade quando saiu pra evangelizar o mundo’. Por isso considero como um chamado", lembra. Depois das missas deste ano, ele deve se mudar para Curitiba, por considerar que, aos 80 anos, precisa cuidar de sua saúde.¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨Compartilhe

Você conhece outras figuras interessantes que moram na Ilha do Mel?

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