O que os pescadores chamam de cisco é o conjunto de detritos que periodicamente são trazidos à areia da praia pela maré. "Esse é um fenômeno natural que ocorre quando entra uma frente fria ou quando chove bastante", explica o biólogo José Claro da Fonseca Neto, pesquisador do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná em Pontal do Sul.
De acordo com o pesquisador, o vento forte aumenta o movimento do mar, desenterrando o material que estava no fundo e levando-o para as praias. Chuvas fortes, que levam um grande volume de água doce para o mar, também podem suspender resíduos pesados que estejam no mar.
Os detritos do cisco são formados por material orgânico, como restos de vegetais e animais, e inorgânico, que é o lixo. "Há sempre misturado lixo doméstico, de pesca, de turistas e lixo internacional, decorrente dos navios que passam pelo Litoral", explica Fonseca Neto.
O presidente da Colônia dos Pescadores de Matinhos, Mário Hanek, 48 anos, sabe bem disso. "Uma vez a prefeitura encheu três caminhões só de cisco", conta. "Muito material que chega na areia vem da natureza, como peixes mortos e algas, mas tem muito lixo como garrafas e latinhas. Isso tudo prejudica muito nosso sustento, que são os frutos do mar", lembra o também pescador Orlando Gonçalves da Silva, o Feijão.
Segundo o pesquisador Fonseca Neto, é importante que as prefeituras dos municípios litorâneos não removam o material orgânico dos detritos quando eles aparecem na praia. "Esse material se decompõe, atraindo bichos como besouros, aranhas, formigas. Remover esse material prejudica várias espécies, como o caranguejo."
O pesquisador destaca a importância de se fazer uma coleta seletiva desses detritos, além de campanhas para que as pessoas não joguem lixo no mar.