Outro lado
Governo culpa gestão anterior
A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) informou que a decisão sobre a construção ou não das unidades do Núcleo de Proteção à Crianças e ao Adolescente (Nucria) coube à gestão do ex-governador Roberto Requião e que o atual secretário da Segurança Pública, Reinaldo de Almeida César, e a secretária da Infância e da Juventude, Fernanda Richa, vão decidir como encaminhar a situação. Em nota, a Secretaria de Estado da Criança e da Juventude informou que a execução dos Nucrias é de responsabilidade da Sesp, por se tratar de uma delegacia especializada. A nota diz que à Secj "cabe a responsabilidade de articular as redes de proteção, quando da implantação do serviço".
Procurado pela reportagem, o ex-secretário de Segurança Pública Luiz Fernando Delazari disse que a responsabilidade pela instalação das unidades do Nucria não era da Sesp e que não se recordava dos problemas burocráticos que impediram o andamento do projeto.
A verba para a construção das unidades ficará disponível até o final de 2011 na conta do Fundo da Infância e Juventude (FIA). (PC)
Prevenção
Programa Atitude fez 18 mil atendimentos
Há dois anos o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente e a Secretaria de Estado da Criança e da Juventude criaram o Programa Atitude, que até 2011 atendeu 18 mil crianças e adolescentes. Desde março a gestão passou para os municípios, que prosseguirão com a iniciativa até o fim do ano. A verba de R$ 48 milhões foi uma das maiores já destinadas para a prevenção da violência. Segundo a secretaria, as prefeituras apresentaram um plano para continuar as ações e assumir os gastos com educadores e demais atividades. Entre os municípios que participaram estão com altos índices de violência contra a juventude, como Almirante Tamandaré e Colombo, na região metropolitana de Curitiba, e Foz do Iguaçu, no Oeste do estado. (PC)
Desde 2009 o governo do Paraná tem à disposição R$ 5,6 milhões para construir quatro Núcleos de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes (Nucria), mas até agora somente uma unidade saiu do papel. No Diário Oficial do estado há menção apenas à licitação para a construção da nova sede do Nucria em Curitiba, com custo de R$ 1,5 milhão. Não há informação sobre o motivo para a verba não ter sido utilizada pelo governo anterior.
O valor previsto para a construção das unidades faz parte do orçamento do Fundo da Infância e Juventude (FIA), gerido pelo Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedca) composto por integrantes do poder público e da sociedade civil. Em 2009, o FIA previu a liberação de quase R$ 50 milhões para a criação de um programa chamado Atitude, com ações como o pagamento de bolsa para alguns jovens, atividades de artes e esportes e a construção dos quatro Nucrias. A verba do FIA vem de doações, por meio do Imposto de Renda.
Todas as demais ações foram executadas e os convênios com municípios prorrogados até o final de 2011. A maior parte das atividades foi gerida pela Secretaria de Estado da Criança e da Juventude (Secj) durante a gestão passada, mas a responsabilidade da construção dos Nucrias seria da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp).
A superintendência do Nucria na capital chegou a realizar um levantamento para implantar três unidades no restante do estado. Entre as cidades cotadas para receber os núcleos estavam Ponta Grossa, Londrina, Maringá ou Cascavel. A estimativa é que com o valor seria possível comprar imóveis, viaturas, armamento e equipamentos para a área administrativa. O levantamento foi encaminhado à Sesp no início de 2010, mas não houve continuidade.
Polícia especializada
Existem no Paraná hoje apenas duas unidades do Nucria, um em Foz do Iguaçu e outro em Curitiba, que funcionam desde 2004. Entre as atribuições do Nucria está, por exemplo, a investigação de crimes sexuais cometidos contra meninos e meninas. Especialistas e militantes da área de infância e juventude defendem a criação de uma polícia especializada para o combate a esses crimes.
No Nucria de Curitiba, por exemplo, a entrevista com as crianças é realizada com o auxílio de um psicólogo e há um esforço para que o espaço não se pareça com uma delegacia comum. Há salas com brinquedos, vídeos e fotos. Tudo isso ajuda na técnica que especialistas chamam de "depoimento sem dano", já que relembrar a violência sexual pode causar um processo de revitimização. Em Curitiba também está a única vara do estado especializada nesse tipo de crime, mas sem uma boa capacidade de investigação, a resolução dos delitos não é possível.
Para Márcia Caldas, ex-presidente da Comissão da Criança e do Adolescente da seção paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR), a ausência das delegacias é um retrocesso na política da infância vítima de violência. "A ausência dessas núcleos é uma incógnita. A sociedade precisa de uma explicação." Ela lembra que, segundo a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), as crianças deveriam ser prioridade absoluta.
A presidente da Comissão de Ética do Conselho Tutelar de Curitiba, Maria Rosa Carvalho de Mello, argumenta que a expansão do número de Nucrias é uma reivindicação antiga. Ela alerta, entretanto, que não adianta expandir sem garantir qualidade ao trabalho. Em Curitiba ainda há problemas estruturais, como falta de investigadores e viaturas. "Precisamos de pessoas bem preparadas, que conheçam e respeitem o ECA. Temos de trabalhar em rede."
Segundo Luciano Rosa, integrante do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedeca), no segundo semestre do ano passado os conselheiros receberam um relatório dos recursos utilizados do FIA, mas a nova gestão da Secj deverá apresentar um novo balanço ainda neste mês.
Interatividade
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