Produzir três toneladas de comida por ano e ainda usar para manejo do solo 42 toneladas de lixo da vizinhança parece coisa de um campo supertecnológico, não? Errado: isso ocorre na cidade e no bairro Mossunguê, em Curitiba, no quintal de 350 metros quadrados do agricultor urbano Eduardo Feniman, que também é coordenador da Casa da Videira, associação que desenvolve projetos ambientais e sociais.
Além de hortaliças e verduras, o quintal abriga cabras, galinhas e coelhos. O resultado é que toda a produção dessa horta urbana alimenta três famílias e 15 voluntários que mantêm o local. Mesmo dividindo os alimentos entre os produtores, ainda sobra comida, que é vendida pela vizinhança, dada para amigos ou trocada em feiras de alimentos orgânicos. "A gente percebeu que a agricultura urbana poderia ser uma alternativa para o manejo de resíduos e soberania alimentar, mas é fácil pensar em projetos em Universidades ou ONGs. Nossa pergunta é se é viável em uma família de verdade, com uma casa e trabalho fora", conta Feniman.
Empurrãozinho
Até quem não dispõe de um espaço tão grande pode conciliar o espaço urbano com o rural e pode receber um empurrãozinho. É que a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) encampou essa ideia e transformou em um projeto de extensão, chamado de "Encontros da Biodiversidade: Compartilhando saberes e sementes para agricultura urbana". O professor Eloy Casagrande Jr, da UTFPR e idealizador do Escritório Verde, ajuda a coordenar algumas das ações, que estão acontecendo há um mês.
O grupo se reúne aos sábados, na Feira e Encontro da Agricultura Urbana Curitiba. "É um encontro para troca de conhecimento e isso proporciona outra possibilidade de aproximação com a universidade", diz o professor. Nessas reuniões, os grupos aprendem sobre algum assunto que foi previamente definido na comunidade do Facebook.
Um dos encontros foi sobre tomates. "Existem mais de 1,2 mil espécies de tomate, mas só consumimos cinco ou seis. Acaba que as outras ficam ameaçadas de extinção", pondera. Além de aprenderem a cultivar a planta, levaram sementes de para casa, de 40 espécies diferentes. Casagrande explica que foi feito um cadastro para um geoprocessamento de onde essas sementes foram espalhadas e cada pessoa se comprometeu a trazer novas sementes quando tivesse os primeiros frutos.
Esse trabalho de guardiões da biodiversidade será expandido em breve. Com o apoio da universidade, o objetivo é envolver mais alunos, professores e funcionários, além da vizinhança da UTFPR no projeto. "Temos de criar uma tática de guerrilha para a distribuição de sementes crioulas e a academia tem um papel importante nisso", defende Casagrande.
Sacadinha e janela também servem
Uma sacada ou o beiral da janela podem abrigar uma mini horta, para aqueles que têm pouco espaço. No Escritório Verde da UTFPR é possível aprender a montar um minhocário e até uma horta por capilaridade. Para essa, é preciso de uma caixa de isopor ou plástico , um cano de PVC, terra e sementes. O professor Eloy Casagrande Jr diz que não há mistério: quem quer fazer e não sabe, pode participar de um dos encontros de sábado e tirar todas as dúvidas. Ele ainda aposta em outro modelo de cultivo de horta urbana: aquele que aproveita espaços públicos. "Existem áreas compartilhadas e lotes vazios em que a comunidade poderia ser estimulada a plantar", sugere. Ele ainda lembra que é possível usar o espaço de parques e até mesmo dentro da universidade, onde os jardins e flores podem ser substituídos por hortaliças.