• Carregando...
Rua São Francisco, em Curitiba | Fernando Zequinão/Gazeta do Povo
Rua São Francisco, em Curitiba| Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo

Os vereadores de Curitiba votaram nesta terça-feira (16) um requerimento de denúncia ao espaço de lazer infantil da Rua São Francisco, e pediram a suspensão imediata das atividades para as crianças aos sábados e domingos por que “a Prefeitura, conivente ou não, permite que crianças estejam no meio de bebidas alcoólicas, prostituição e de grande consumo de drogas”. O autor do requerimento é o vereador José Carlos Chicarelli (PSDC). A Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude e o próprio comércio local rebatem essa versão.

“Nós, comerciantes, recebemos a notícia no meio de uma reunião e ficamos muito bravos. É um absurdo que a Câmara Municipal, ao invés de ajudar e apoiar, seja completamente contrária”, analisa Patricia Cavalcanti Bandeira, proprietária do Negrita Bar, um dos estabelecimentos do entorno. “Os vereadores argumentam que o espaço kids expõe as crianças a pessoas bêbadas e drogadas. Mas nossa iniciativa é justamente para tentar desvincular a São Francisco dessa imagem preconceituosa. A ocupação faz parte dessa revitalização”.

Pagamento pela coleta de lixo em Curitiba deve “substituir” quantidade por eficiência

Leia a matéria completa

A empresária afirmou ainda que os comerciantes da região não foram procurados para discutir a proposta, e que esse tipo de proibição “queima iniciativas de gente que investiu tempo, dinheiro e energia com o projeto”. “A revitalização não acontece de uma hora para a outra. Os vereadores fizeram um papel ridículo”, completa.

Na contramão

Para Aluisio Dutra Junior, secretário de Esporte, Lazer e Juventude de Curitiba, o requerimento vai na contramão do que é monitorado pela própria prefeitura, que tem investido na ocupação do espaço, classificada por ele como uma das ações “mais simples e mais positivas de toda a cidade”. “Nós investimos pouco, em parcerias, e incentivamos a ocupação dos espaços. E também temos monitores que acompanham as crianças, dois acadêmicos contratados pelo próprio comércio local. Além disso, o horário é bastante aceitável para famílias. Essa denúncia de consumo desenfreado não é uma realidade durante o dia”, defende.

No entanto, o secretário afirma que toda observação será considerada na avaliação geral do projeto. “Não podemos pecar por omissão. Vamos ouvir a proposta dos vereadores e intensificar o monitoramento. Se tiver alguma verdade naquilo que foi alarmado, obviamente vamos tomar providências”.

A única a fazer questão de registrar sua posição contrária na votação simbólica foi a vereadora Professora Josete (PT). Paulo Salamuni (PV), líder do governo municipal na Câmara, e o vereador Jonny Stica (PDT) também fizeram discursos contrários ao requerimento em plenário.

“Excessos devem ser coibidos, mas estamos vivendo um momento que requer tolerância e serenidade. Não há mais espaço para pessoas com fórmula mágica para problemas sociais. Não podemos adotar uma política higienista, de colocar problemas embaixo do tapete. [A rua São Francisco] é um lugar boêmio, como existem outros em vários lugares do mundo. Só não existe em ditaduras, em regimes teocráticos”, disse Salamuni.

“É o uso que qualifica o espaço, e não ao contrário. Que as pessoas usem, que coloquem cones, tenham um uso de lazer lá, que façam uma dinâmica de uso na região de tal forma, esperamos que façam isso em toda a cidade”, afirmou Stica.

O que diz quem é a favor da proibição

“O intuito dos pais é deixar os filhos em um local de divertimento e, ao mesmo tempo, aproveitar o seu tempo de lazer. Isso é entendível. Tem o sentido de trazer a família para a rua. Mas essa rua, especificamente, é motivada por outro sentido, da bebida. Só passam pela rua as pessoas do ‘mesmo estilo’. Algumas crianças que passaram pela região me procuraram assustadas. Além disso, pessoas do mesmo sexo ficam juntas lá. Não tenho nada contra, mas as crianças se incomodam”, afirma o vereador Chicarelli (PSDC).

Ele já havia se pronunciado nesse sentido durante a votação no plenário. “A prefeitura está dando um mau exemplo. [As crianças] ficam no meio de bêbados, drogados, pessoas do mesmo sexo que ‘se amassam’ na rua”, disse, na terça-feira (16). “Espero que se moralize o lugar, que termine o consumo de droga, de bebida”.

Segundo Chicarelli (PSDC), que já ingressou no Ministério Público contra a utilização da rua pelas crianças, o pedido também prevê que a prefeitura libere a São Francisco para a circulação de carros aos domingos e que essa prática de lazer seja levada para outro bairro da cidade.

Se a prefeitura não der aval ao seu requerimento, ele também promete ingressar com uma ação na Vara de Infância e Juventude de Curitiba.

“Será que os filhos estão com os pais no local? Tem isso também. Não tem mais orientador, as mesas estão vazias. Não estão estimulando o desenvolvimento das crianças. Se o intuito era trazer as crianças para o local, gerou um efeito contrário”, apontou.

O síndico de um prédio na quadra e um dos líderes do movimento que quer o fim do “espaço kids” da São Francisco também explicou porque acha a medida importante. “Essa turma de desocupados está atrapalhando a São Francisco. Na verdade, a prefeitura diz que é lazer, mas as pessoas estão usando a quadra para usar drogas”, afirma Luiz Carlos Chininello.

Lazer infantil nas ruas de Curitiba

Em parceria com associações de moradores, o projeto municipal que promove ocupações infantis em algumas ruas e em determinados horários está em vigor desde 2015, motivado pelas comemorações dos 322 anos de Curitiba. As três primeiras Ruas de Lazer começaram a funcionar no Sítio Cercado, no Cajuru e no Centro. Segundo a Prefeitura, um estudo foi feito para verificar a viabilidade de se interromper o fluxo de veículos no fim de semana e no horário escolhido pelas pessoas de cada bairro.

No final do ano passado, mais nove ruas da cidade ganharam essa condição, somando 12 Ruas do Lazer em Curitiba. Na Rua São Francisco, entre as ruas Riachuelo e a Presidente Faria, as atividades ocorrem aos sábados e domingos, das 10h às 17h.

“Esse é um programa extremamente barato e tem conseguido transformar algumas ruas em lugares de lazer comunitário e familiar”, complementa Aluisio Dutra Junior, secretário de Esporte, Lazer e Juventude de Curitiba.

Veja onde ficam todos os espaços:

--Avenida Canal Belem – Vila São Paulo/Uberaba – Associação de Moradores Vila São Paulo (todos os sábados, das 14h às 17h).
--Rua Monte Sinai, esquina com a Rua Monte Hermon – Pinheirinho – Associação de Moradores Maria Angélica (todos os sábados, das 14h às 17h).
--Rua Ivete Puglielli Cunha, esquina com a Rua Isabel Maria Sikorski Moscalewski – Mossunguê – Associação de Moradores Jardim Califórnia (todos os sábados, das 9h às 12h).
--Rua Oswaldo Novaes, esquina com a Rua Montesquieu – Barreirinha - Associação de Moradores Santa Efigênia (todos os sábados, das 14h às 17h).
--Rua Sezinando Teixeira de Oliveira – Sítio Cercado – Associação de Moradores Novo Horizonte (todos os sábados, das 14h às 17h).
--Rua Leodoro Ferreira de Castro – Trindade – Associação São João Del Rei (todos os sábados, das 14h às 17h).
--Rua São Francisco – Centro – Junta Comercial – (todos os sábados e domingos, das 11h às 17h).
--Rua Mariópolis – Alto Boqueirão – Associação de Moradores do Alto Boqueirão (todos os sábados, das 13h às 18h).
--Rua Margarida de Andrade Webber – Vitória Regia – Associação de Moradores Vitória Regia (todos os sábados, das 13h às 18h).
--Rua da Divina Providência – Santa Quitéria – Associação de Moradores Santa Quitéria (todos os sábados, das 14h às 17h).
--Rua Jussara – Sítio Cercado – Associação de Moradores Esporte e Lazer do Bairro Novo B (todos os sábados, das 14h às 17h).
--Rua Olivardo Konoroski Bueno, esquina com a Rua Presidente João Gularte – Tatuquara – Administração Regional Tatuquara. (todos os sábados, das 14h às 17h).

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]