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O tema foi abordado na prova de Português do vestibular, sugerindo a existência de um suposto “projeto de embranquecimento e apagamento das comunidades negras no RS
O tema foi abordado na prova de Português do vestibular, sugerindo a existência de um suposto “projeto de embranquecimento e apagamento das comunidades negras no RS| Foto: Reprodução

Um texto citado na prova de vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR) realizada no último domingo (20) usa a tragédia do Rio Grande do Sul para apontar “racismo ambiental” no estado gaúcho. O tema foi abordado na prova de Português com perguntas de interpretação de texto e citou, por exemplo, existência de um suposto “projeto de embranquecimento e apagamento das comunidades negras” da região.

“Um projeto bem-sucedido que há séculos inviabiliza não só a presença de pessoas negras, como também sua contribuição”, diz o texto de autoria do escritor Jeferson Tenório. Segundo ele, há uma “inegável” colonização europeia na formação do estado, e a “supervalorização dessa cultura” em detrimento de outras.

Ainda de acordo com o autor, os negros representam 21% da população gaúcha e “são os mais pobres”, com menos acesso à educação e à saúde, quando comparados aos brancos. Com isso, as enchentes revelariam "a existência de uma segregação racial no estado”.

O texto afirma ainda que a tragédia atingiu áreas onde reside “grande parte da população negra e periférica” e sugere que “a reconstrução humana e justa do Rio Grande do Sul poderá combater o racismo ambiental”. As informações foram usadas pelos vestibulandos para responder quatro perguntas da prova (duas delas estão abaixo).

Nikolas Ferreira pede anulação dessas questões do vestibular

Pelas redes sociais, o deputado federal Nikolas Ferreira, presidente da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, criticou a abordagem escolhida para tratar das enchentes na prova de vestibular da UFPR. Ele afirma que já solicitou anulação das questões para garantir respeito aos vestibulandos e para que a educação reconheça a complexidade da realidade do povo gaúcho.

“A tragédia no Rio Grande do Sul causou mortes, deixou famílias desabrigadas, pais sem emprego e provocou uma destruição sem precedentes”, escreveu, pontuando que a prova de vestibular “reduziu toda essa dor a um debate sobre ‘racismo ambiental’, evidenciando um proselitismo ideológico superficial”.

Questionada, a UFPR afirmou que a escolha do texto “deu-se com base em critérios linguísticos e pedagógicos, com vistas a avaliar habilidades de leitura, interpretação e compreensão crítica de textos”.

“O texto aborda questões relevantes sobre desigualdades sociais e raciais, que são temas atuais e frequentes no debate público, buscando avaliar a capacidade dos candidatos de interpretar diferentes aspectos de uma situação, sem que isso implique uma redução simplista do evento em questão”, respondeu, em nota. De acordo com a instituição, recursos podem ser enviados até esta quarta-feira (23).

Autor do texto já teve livros retirados de escolas por conteúdo “impróprio”

Jeferson Tenório — autor do texto citado no vestibular — escreveu obras como “O Avesso da Pele”, recolhido de colégios da rede pública do Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul no início deste ano por conter "descrição de cenas de sexo" e "jargões impróprios" para a faixa etária dos estudantes.

O questionamento sobre o livro, que está incluído no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), veio à tona depois que a diretora em uma escola de Santa Cruz do Sul (RS) criticou o conteúdo em sua página no Instagram.

Na avaliação da Secretaria Estadual de Educação do Paraná (Seed-PR), apesar da temática do racismo ser importante no contexto educacional, os títulos escolhidos precisam ser adequados para menores de 18 anos.  

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