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Wenceslau Strojsa, 80 anos, ataca de Gepeto e faz caminhõezinhos de brinquedo para meninos de verdade | Valterci Santos/Gazeta do Povo
Wenceslau Strojsa, 80 anos, ataca de Gepeto e faz caminhõezinhos de brinquedo para meninos de verdade| Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo

Indicações

Pesquisas da Universidade de Berkeley, na Califórnia, EUA, atestam os benefícios físicos, psicológicos e emocionais da prática da generosidade. Algumas das conclusões foram demonstradas em uma reportagem divulgada no programa Fantástico, da Rede Globo, no último domingo. São atitudes que não precisam ficar restritas à época de Natal para fazer o bem para os outros, com reflexos para si mesmo.

> Saúde agradece – a sensação positiva de fazer o bem provoca reações químicas no organismo. Os estímulos são enviados pelo nervo pneumogástrico até a região do abdome. O sujeito se acalma e reduz os riscos de problemas cardíacos. A ação solidária e generosa entre estranhos também ajuda a controlar o estresse, pois reduz a liberação de cortisona, segundo o pesquisador Rodolfo Mendonza.

> Sucesso profissional – os mais atenciosos e generosos com os companheiros de trabalho conquistam mais promoções porque cultivam o respeito dos outros. Também são tidos como líderes e referência para os demais.

> Recompensa – O sociólogo Robb Willer ofereceu dinheiro aos participantes de uma pesquisa sobre o tema, orientando para que promovessem o bem comum. Os mais generosos também receberam mais retorno por isso.

> Aprendizado – Generosidade é um talento a ser aprendido por jovens e velhos. As crianças se sentem bem ao ajudar alguém e buscam essa satisfação novamente. A socióloga Christine Carter lembra que o exercício pode começar nas pequenas atitudes, como abrir a porta para alguém. A gratidão vai fazê-lo mais feliz e saudável.

Fazer o bem sem olhar a quem

Copeira do Hospital Santa Cruz há 22 anos, Sueli do Rocio Cuman, 56 anos, tem uma missão diferente todo fim de ano. Ela é o Papai Noel de quase 2 mil crianças carentes em comunidades pobres da região metropolitana. Desde 2001, Tia Su, como é conhecida, arrecada brinquedos e doces e faz a entrega na época do Natal. Começou cotizando funcionários do hospital e a vizinhança do São Brás, onde mora.

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  • Gerda, 75 anos, esposa de Strojsa: produção de enxoval para recém-nascidos carentes

Um brinquedo simples, colorido e feito de madeira, que pode estar na lista de Natal de muitas crianças carentes. Se depender do publicitário aposentado Wenceslau Stojsa, 80 anos, os sonhos de 60 meninos que não têm a quem recorrer para garantir um presente do Papai Noel serão realizados neste fim de ano. Há quatro meses ele se dedica a um projeto que levou quatro anos para ser realizado. Strojsa fabrica caminhõezinhos de madeira, cuidadosamente elaborados, cheios de pequenos detalhes e que devem cumprir um rigoroso protocolo para chegar às mãos de quem o vovô solidário imaginou: crianças realmente pobres, cujo pais ou responsáveis não tenham condições de presentear no Natal.

A habilidade com ferramentas, formões, serras e lixadeiras é um talento natural de Strojsa. Parte do material exposto cuidadosamente na oficina montada nos fundos da casa foi herdada do pai mecânico e dos avôs – um era carpinteiro, o outro, sapateiro. Na vida ativa, Strojsa conciliava a rotina na agência de publicidade com trabalhos manuais para os três filhos. Agora, divide com a esposa, Gerda, de 75 anos, a atividade em grupos sociais para ajudar carentes.

Trabalho

Os dois participam de um clube de serviço e, junto com outros companheiros, se cotizam para levar assistência e conforto para quem não tem recursos. "A ideia de fazer os caminhõezinhos surgiu há muitos anos, mas só agora saiu do papel", conta. Os brinquedos são montados a partir de restos de madeira dispensados de pequenas fábricas de móveis ou recolhidos na vizinhança. Há quatro meses ele cumpre uma rotina espartana: toma café enquanto assiste aos primeiros noticiários do dia e depois se enfurna na oficina. "Quando o tempo está bom, ele fica torneando as rodinhas aqui fora", explica Gerda, que também contribui com o trabalho. Ela é quem ajuda na pintura dos carrinhos e decidiu incrementar o presente, colocando bombons nas carrocerias.

Strojsa não economiza nos detalhes: parabrisas, vidros la­­terais, faróis e até o emplacamento são desenhados no computador e impressos em papel autocolante. Tudo é contemplado no brinquedo. As iniciais do nome dele batizam a frota: WS-740 (em uma referência ao CEP da sua rua). Mas o que mais chama atenção é a etiqueta colada no fundo do carrinho: informa que o brinquedo artesanal tem a venda proibida. Só pode ser adquirido por doação. "É importante que apenas crianças realmente carentes tenham acesso ao caminhãozinho. Estamos estudando como distribuir da maneira mais justa para creches e entidades que trabalhem com crianças também. Podem fazer parte dos brinquedos comuns, de uso coletivo, por exemplo", diz Strojsa.

O exercício de solidariedade e generosidade do casal Strojsa rende diferentes benefícios. Além de ocupar o tempo livre de quem já se aposentou, dedicar-se a uma causa tem importantes reflexos psicológicos e emocionais, pois dá mais sentido à própria existência. "É uma atitude que ajuda na compreensão dos valores da vida, do seu significado. Essa dedicação ao outro faz com que o indivíduo seja mais pleno e feliz", explica o padre Reginaldo Manzotti, pároco da Igreja de Nossa Senhora do Guadalupe, de Curitiba. "Acho que faz mais bem para mim do que para a outra pessoa", arrisca-se Strojsa.

Benefícios

É na lida com a fabricação de carrinhos de madeira, num ataque de Gepeto – o "pai" de Pinóquio, da obra do escritor italiano Carlo Collodi –, que o aposentado exercita a sua criatividade, suas habilidades manuais e sua mente. Os dedos endurecidos ficam ágeis na hora de cortar, lixar, parafusar e montar o caminhãozinho. "É o brinquedo da criança de 80 anos". Gerda também coloca nas mantas de lã que tricota todo carinho e dedicação. As peças vão compor o enxoval de bebês recém-nascidos de mães carentes. "O trabalho solidário ajuda muito na saúde dela", atesta o marido.

Manzotti lembra que ser generoso e solidário é uma questão de postura diante da vida. E exercitar essas virtudes torna o envelhecimento menos penoso, mais alegre e gratificante. "Ao longo da vida devemos semear alegria e praticar o perdão. Só essas atitudes ajudam a encarar dificuldades com mais força, mais altruísmo. Essa visão reduz o sofrimento por perdas acumuladas ao longo da vida e afasta o desespero que a solidão traz. Ser solidário e generoso faz compreender que o envelhecimento é uma dádiva."

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