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Lilian Grochoski: mudança do perfil comercial da Linha Verde começou a aparecer no dia a dia | Walter Alves/ Gazeta do Povo
Lilian Grochoski: mudança do perfil comercial da Linha Verde começou a aparecer no dia a dia| Foto: Walter Alves/ Gazeta do Povo

Crescimento

"Cada dia há coisas novas aqui"

Ao lado do marido, a empresária Lilian Grochoski trocou há seis meses o Centro e o bairro Boqueirão pela Vila Fanny, às margens da Linha Verde. O casal, que tinha comércio de automóveis nos dois bairros, decidiu dinamizar o negócio da família: além do ramo automotivo, investiu em uma cafeteria, em um auto-shop recém-instalado na região.

Os dois negócios, a princípio tão díspares, interagem sem problemas no local. Entre uma olhada e outra nos carros dispersos pelo salão do shopping, o cliente é convidado a tomar um café ou um suco gelado, subindo apenas alguns degraus. O estabelecimento chama a atenção pelo zelo, mas a verdade é que existem poucas opções no entorno. Pelo menos, por enquanto.

"Cada dia vejo surgirem coisas novas na região. Pessoas com um poder aquisitivo superior estão vindo pra cá e elas querem experimentar um serviço diferente", avalia Lilian.

A cafeteria está no hall dos serviços e estabelecimentos que, aos poucos, vêm ganhando espaço em meio à imensidão de lojas de autopeças, oficinas, borracharias e revendas de carros que monopolizam o cenário comercial ao longo da antiga BR-116. Hoje, são 54 restaurantes, lanchonetes e similares na região, e 22 alvarás foram emitidos pela prefeitura de 2004 pra cá. Algumas atividades, que antes não existiam – pelo menos oficialmente – também têm surgido, como o serviço de pedicure. Atualmente, são 20 alvarás emitidos para a região de 9,4 quilômetros entre o Pinheirinho e o Prado Velho. Todos os estabelecimentos foram abertos após 2004.

Operação Urbana

A prefeitura pretende viabilizar obras de infraestrutura urbana na região por meio da Operação Urbana Consorciada Linha Verde, lançada em outubro. Veja como funciona o mecanismo:

Conceito

A prefeitura irá emitir títulos para serem negociados na Bolsa de Valores, chamados de Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepads). Os títulos concederão ao comprador o direito de ampliar a área construída e altura de imóveis comerciais e residenciais na região. Eles também podem ser adquiridos pelo investidor "comum" e depois revendidos.

Arrecadação

Todos os recursos arrecadados serão investidos em obras de infraestrutura urbana no local. Os títulos serão emitidos para venda em lotes: a expectativa é captar R$ 1,5 bilhão.

Abrangência

A operação abrange 22 bairros, em uma área total de 20,8 milhões de metros quadrados, onde, obrigatoriamente, devem ser feitas as obras e utilizados os potenciais construtivos.

Fiscalização

Um grupo gestor avaliará, na prefeitura, quais as obras prioritárias. Novos títulos só poderão ser vendidos para viabilizar outras obras depois que a anterior estiver concluída.

Trâmite

O projeto que aprova a operação ainda está em trâmite na Câmara Municipal. A previsão é que os títulos passem a ser vendidos na Bolsa a partir de março do ano que vem.

  • Projeção da prefeitura municipal de Curitiba: saem as borracharias e autopeças, vêm os conjuntos habitacionais
  • 36% dos alvarás foram emitidos nos últimos oito anos

Palco de intervenções urbanas que transformaram parte da z antiga BR-476 em avenida municipal – a chamada Linha Verde –, o trecho de 9,4 quilômetros entre o terminal do Pinheirinho e o bairro Prado Velho, em Curitiba, passa por novas mu­­danças. Desta vez, no perfil de ocupação: somente nos últimos seis anos, o número de alvarás comerciais e residenciais emitidos para obras na região aumentou 56%. Dos 11,2 mil projetos habitacionais aprovados para a área, 4 mil foram avalizados pela prefeitura entre 2004 e 2011.

Os alvarás mais recentes preveem prédios e conjuntos de médio porte em todos os 11 bairros envolvidos na primeira etapa das obras da Linha Verde. São construções que, ao lado de novos empreendimentos comerciais, devem tomar aos poucos o lugar das tradicionais lojas de autopeças, borracharias e revendas de automóveis presentes ao longo da via. E, como esperam os gestores públicos, abrirão espaço para o surgimento de um cenário diferente da realidade atual.

De fato, para quem passa hoje pela região, imaginar uma variedade de modernos conjuntos habitacionais, hipermercados, shopping centers e passeios públicos ajardinados às margens da avenida não é tarefa fácil. A prefeitura de Curitiba, no entanto, aposta na consolidação da área como o novo eixo de desenvolvimendo da cidade, repleto, segundo os desenhos dos projetistas, dos elementos citados acima. Como contrapartida, a região da Linha Verde deve receber intervenções urbanas voltadas principalmente para a mobilidade e preservação do meio ambiente, como trincheiras cruzando a via, ciclovias, margens arborizadas e novas calçadas.

Venda de títulos

As obras públicas devem ocorrer a longo prazo – no decorrer de 20 a 30 anos – e serão viabilizadas por meio de um mecanismo ainda pouco experimentado no Brasil: a venda de títulos de potencial construtivo para a região na Bolsa de Valores. O negócio prevê que todos os recursos angariados com a venda dos títulos sejam investidos especificamente em obras nos 22 bairros que margeiam a Linha Verde. Como a venda de novos títulos, feita em lotes, só pode ser feita após a conclusão da intervenção anterior, o mecanismo tem ainda o objetivo de dotar as obras públicas de certa credibilidade em termos de cronograma e orçamento. O que talvez seja um dos maiores desafios na hora de incentivar o investidor privado a apostar na região, considerando um histórico pouco animador: nos dez anos que se estenderam desde o início das negociações do financiamento da Linha Verde, o custo de construção da avenida ficou 72% mais caro e a obra completa deve ser entregue somente em 2013.

"O investidor não pode ser refém do humor da política. Os recursos para as obras (por meio da venda dos títulos) serão blindados e garantidos", defende o arquiteto e administrador da Regional Matriz, Luiz Hayakawa.

Áreas vagas

Potencial para crescimento há. Estudo encomendado pela prefeitura à Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) mostra que a região possui 3,2 milhões de metros quadrados em terrenos vagos. Não bastassem as áreas disponíveis, a prefeitura pretende ainda disponibilizar, com os títulos na Bolsa, outros 4,8 milhões de metros quadrados em potencial construtivo para imóveis residenciais e comerciais. Se a estratégia vai dar certo, só o tempo dirá. O discurso, no entanto, é otimista. "A região vai mudar da água para o vinho", garante Hayakawa.

Sucesso depende da iniciativa privada

A consolidação da Linha Verde precisa passar pelo crivo da iniciativa privada. Para urbanistas como o diretor do mestrado e doutorado em Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Fábio Duarte, aumentar a oferta de serviços – públicos ou privados – é essencial para "fisgar" moradores futuros. "Ela só vai se consolidar quando agregar um conjunto de equipamentos e serviços, desde um comércio forte a opções de lazer. E isso leva tempo".

O professor de Planejamento Urbano do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Positivo, Rivail Vanin de Andrade, alerta para os custos sociais de um adensamento demográfico dirigido. Como a prefeitura não esconde a intenção de valorizar os imóveis da Linha Verde, moradores mais pobres podem se ver estimulados a vender seus terrenos para migrar para a periferia e a municípios da Região Metropolitana.

IPTU

Segundo proposta em trâmite na Câmara Municipal de Curitiba, o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) deve ser reajustado em até 300% nas imediações da Linha Verde, a partir de 2013. O reajuste será uma das consequências da revisão da Lei Orgânica de Curitiba, que prevê mudanças na planta de valores imobiliários de toda a cidade. A prefeitura defende que a planta está desatualizada e que, portanto, o IPTU cobrado não corresponde ao preço real dos imóveis. A última atualização dos valores foi feita em 2005 e, de lá pra cá, o IPTU só foi corrigido pela inflação. No Centro, esse mesmo reajuste seria de 50%.

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