A prefeitura do Rio de Janeiro investiga se houve falha no cálculo estrutural realizado por empresa do grupo Concremat no projeto da ciclovia da avenida Niemeyer. Inaugurada em janeiro passado, um trecho da pista desabou na manhã desta quinta-feira (21). Até o fechamento desta edição, dois corpos haviam sido localizados e uma terceira possível vítima fatal seguia desaparecida.
“A primeira coisa é pegar todos os projetos da obra, o projeto executivo, o cálculo estrutural que foi feito, levantar todas essas informações e averiguar se foi previsto [o impacto das ondas]. Pode ter sido subestimado o efeito da maré”, disse o secretário Executivo de Coordenação de Governo, Pedro Paulo Carvalho.
De acordo com relatos,o trecho de mais de 50 metros, que é suspenso junto ao mar, foi arrancado pela água (confira o gráfico). No momento do acidente, o mar estava com uma forte ressaca, com ondas altas e violentas, atingindo a ciclovia e também a Avenida Oscar Niemeyer.
Ciclone
A ressaca no mar de ontem no Rio de Janeiro foi causada por um ciclone que se formou no Sul do país há dois dias e passou longe da costa carioca. O fenômeno, conhecido pelos surfistas como swell, provocou ondas de até 3 metros de altura, que atingiram o trecho da Ciclovia Tim Maia que desabou. A previsão é de nesta sexta-feira (22) o mar fique mais calmo.
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Pedro Paulo afirmou que haverá uma reunião nesta sexta-feira (22) com o consórcio Contemat/Geotecnia/Concrejato responsável pela obra. O prefeito Eduardo Paes lamentou o acidente na ciclovia. Ela estava na Grécia, mas cancelou sua participação na cerimônia da tocha olímpica para retornar ao Rio já na quinta-feira.
A obra da ciclovia custou R$ 45 milhões e começou a ser feita em setembro de 2014. Em seu site, a Concremat afirma que o consórcio Contemat/Geotecnia/Concrejato foi contratado pela Fundação GeoRio, braço da Secretaria Municipal de Obras da Prefeitura, para executar a contenção de encosta e a estabilização da área para a implantação da ciclovia.
Empreiteira
A obra da ciclovia foi realizada pela Contemat, uma empresa do grupo Concremat, que pertence à família do secretário municipal de Turismo, Antônio Pedro Viegas Figueira de Mello. Ele é neto de Mauro Ribeiro Viegas, o fundador da construtora Concremat.
Pedro Paulo disse à reportagem que não tinha conhecimento deste parentesco e ressaltou que houve concorrência para definir a empresa responsável pelo projeto da ciclovia.
Procurada pela reportagem, a empresa não concedeu entrevistas sobre o acidente desta quinta-feira.
Em nota, a construtora disse que “uma equipe técnica já se encontra no local, trabalhando em coordenação com a Secretaria Municipal de Obras”.
Vítima gostava de ir ao local por causa da vista
O engenheiro Eduardo Marinho de Albuquerque, de 54 anos, corria na ciclovia quando as ondas destruíram o trecho em que ele estava. Ele foi uma das vítimas fatais do desabamento de parte da Ciclovia Tim Maia na quinta-feira (21). O capitão-médico da Aeronáutica João Ricardo Tinoco, cunhado de Albuquerque, contou que o engenheiro gostava de se exercitar ali por causa da bela vista para o mar.
“Era um dia de lazer, de sol, de contemplar a natureza, e a desgraça surge no caminho de quem só queria o bem. É inadmissível”, desabafou Tinoco na praia de São Conrado, onde os corpos foram deixados por guarda-vidas do Corpo de Bombeiros, que os recolheram no mar.
Albuquerque morava em Ipanema e corria de casa até o Leblon para chegar então à ciclovia – um trajeto comum entre pessoas adeptas da corrida e que vivem na região. A mulher dele, Eliane, médica, soube do desabamento pela televisão e desconfiou que o marido poderia estar entre as vítimas. Ao ver o corpo na praia, ela se desesperou e se agarrou ao cadáver na areia, inconformada. O casal tem um filho de 15 anos.
Até o início da noite de ontem, a segunda vítima do acidente ainda não havia sido identificada. Buscas por uma terceira possível vítima do desabamento seguiram até às 19h, quando as lanchas das equipes de resgate suspenderam as buscas.
15 segundos
O consultor Guilherme Miranda viu a pista desabar segundos depois de passar pelo local. “Não morri por 15 segundos. Vi três pessoas caindo em direção ao mar. Eu fiquei apavorado”, disse .
O manobrista Gerson Magalhães também pedalava pela ciclovia, no sentido de São Conrado, pouco antes do desabamento. “Como o mar estava agitado dava para sentir a ciclovia tremer.”
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