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Consumismo

Vídeos na internet “escondem” publicidade para crianças

Ana Claudia e os filhos, Valentina e Vicente: olho atento no que aparece na tevê e no tablet. | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Ana Claudia e os filhos, Valentina e Vicente: olho atento no que aparece na tevê e no tablet. (Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)

Uma mão feminina desembrulha uma caixa com potes de massinha da marca Play-Doh e mostra os detalhes das peças que vêm junto com o brinquedo. Uma mulher com voz infantil dá sugestões de como as crianças podem se divertir com os produtos, usando a massinha para moldar vestidos para bonecas de plástico, por exemplo. O vídeo está no Youtube, em um dos milhares de canais de “unboxing” (algo como “tirar da caixa”), modalidade que virou febre na internet e recebe críticas por funcionar como “publicidade disfarçada” e estimular o consumismo na infância.

Desde 2014, uma resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), ligado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, considera abusiva toda publicidade direcionada a crianças. Segundo o advogado Guilherme Perisse, a resolução apenas interpreta a legislação existente, já que a prática é vedada pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC) – em seu artigo 37, o CDC diz ser abusiva a publicidade que “se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança”.

Perisse atua no Instituto Alana, organização sem fins lucrativos que defende os direitos da criança. Para ele, além de desrespeitarem a resolução do Conanda, os vídeos “unboxing” violam o artigo 36 do CDC, que impõe que a publicidade deve ser veiculada de forma a permitir a fácil e imediata identificação de sua natureza. Na avaliação do advogado, isso não ocorre nesses vídeos do Youtube, que se apresentam como uma mera demonstração de produtos, camuflando o caráter comercial.

A empresária Ana Cláudia Prado Bana, de 35 anos, conta que a filha Valentina, hoje com 4 anos, navega pelo Youtube desde os 2. Na época, a empresária selecionava vídeos de música da Galinha Pintadinha e entregava o tablet para a filha, que descobriu sozinha o “unboxing” de brinquedos. A explicação pode estar na forma de funcionamento do Youtube: ao fim de um vídeo, o próprio aplicativo direciona para outro ou sugere canais. “O Youtube é feito de forma que o usuário permaneça no aplicativo, a criança vai clicando no que aparecer”, alerta Perisse.

Ana Cláudia diz que há poucos dias foi surpreendida por um pedido de compra inspirado nos vídeos. “Faltando 4 meses para o aniversário da minha filha, ela está pedindo a casa da Barbie, brinquedo que tem a ver com os vídeos que está vendo”, conta a empresária, que também é mãe de Vicente, de 6 anos. Apesar da influência dos vídeos, Ana Cláudia considera que o apelo é maior nos canais infantis de tevê a cabo e conta que consegue educar os filhos para o consumo consciente. “Minha filha não é consumista, meu filho (que não gosta de Youtube) é mais. A Valentina entende que só vai ganhar brinquedos em certas datas”, afirma.

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