Preso em uma das celas da Delegacia de Repressão a Narcóticos, que fica ao lado da Delegacia de Investigações de Homicídios, em Goiânia, o vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha, de 26 anos, tentou se matar no início da manhã desta quinta-feira, 16, poucas horas antes de ser apresentado à imprensa como um provável serial killer que pode ter matado mais de 39 pessoas. Mesmo vigiado por policiais civis que se revezam em frente à cela, Tiago pediu um café e aproveitou a saída rápida do agente para quebrar uma lâmpada, usada para cortar os dois pulsos.
O advogado do vigilante, Thiago Huascar, relatou à reportagem que o cliente, que é de alta compleição física, deu um salto suficiente para alcançar o bocal no teto da cela e destruir a lâmpada. "Em seguida ele usou os cacos para se cortar."
O Corpo de Bombeiros foi acionado e Tiago foi atendido na própria cela, por questões de segurança. "Ele foi suturado, levou três pontos em cada pulso, mas essa reação mostra que ele não está aguentando a situação, independentemente de culpa ou não", afirmou o advogado.
Para o defensor, "a situação mostra que o estado mental dele precisa ser avaliado rápido". Segundo ele, o rapaz foi levemente sedado para se acalmar. Tiago não corre risco de morte por causa dos ferimentos.
O advogado disse que pediu nesta quinta-feira, verbalmente, que o vigilante seja interrogado novamente na presença dele, mas acredita que a tentativa de suicídio possa interferir para que isto ocorra ainda nesta quinta-feira.
Huascar ainda disse que espera um andamento ágil do processo, mas exige a indicação de "provas contundentes" dos 39 crimes que o cliente teria confessado ser o autor (entre homossexuais, moradores de rua e mulheres), quando foi preso, na terça-feira. Também afirmou que pretende pedir medida de segurança para Tiago caso ele seja transferido da delegacia para alguma unidade do Complexo Penitenciário, situado em Aparecida de Goiânia.
Balística e provas
Tiago Henrique Gomes da Rocha foi apresentado rapidamente na manhã desta quinta-feira para a imprensa. Ele ficou calado o tempo todo em que ficou diante dos jornalistas e familiares de vítimas, de cabeça baixa.
Houve muita comoção dos familiares que choraram, gritando que o vigilante "é um assassino", e clamando pela punição dele. Nesta quarta-feira, 15, ao serem recebidos pelo governador Marconi Perillo (PSDB), os familiares já mostravam o alto grau de comoção com a confissão de Tiago, sinalizando que acreditam na elucidação dos crimes com a prisão do vigilante.
Nesta quinta-feira, logo depois da apresentação do suposto serial killer, em entrevista coletiva, delegados, investigadores e peritos que fazem parte da força tarefa criada pela Secretaria de Segurança Pública para elucidar os 15 homicídios citaram como outras provas o exame balístico dos projéteis que atingiram seis das 15 mulheres assassinadas.
A perita Itatiana Pires da Silva relatou que as balas recolhidas seriam compatíveis com o revólver calibre 38, escondido na casa do vigilante.
Roupas, supostamente usadas por ele nos ataques, também foram apresentadas pelo delegado Osni Aparecido Silva Filho como compatíveis com as descritas por testemunhas dos crimes. Para ele, "o número de vítimas pode ser bem maior", que as 39 que Tiago já teria confessado.
Outro detalhe importante, que serve como forte prova para os investigadores, foi a descoberta de duas capas de motocicletas nas cores preta e vermelha. Ocorre que as vítimas que sobreviveram e as testemunhas dos ataques a mulheres relatavam que as motocicletas usadas eram sempre dessas duas cores.
Tudo indica que o vigilante usava até seis placas diferentes na motocicleta preta que possuía e chegava a variar as placas conforme a cor, utilizando as capas para evitar as rondas policiais que tinham se intensificado nos últimos meses nas abordagens a motociclistas, justamente em busca do matador de mulheres.
O rapaz não tinha antecedentes criminais até ser flagrado pelas câmeras de um supermercado furtando a placa de uma motocicleta. Depois foi pego trafegando com uma placa falsa na motocicleta. Uma dessas placas de motos foi usada no ataque a algumas das 15 mulheres assassinadas em Goiânia desde janeiro.
Imagens que são atribuídas a ele também foram registradas durante um ataque a um morador de rua, ainda em 2011. Imagens de 2014, também mostram um motociclista parecido com Tiago nas cenas de alguns ataques a mulheres, o último ocorrido no domingo, 12, quando a mulher escapou porque a arma do motociclista falhou, mas ele ainda desferiu chutes nela.
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