Embora as modificações feitas no Estatuto da Criança e do Adolescente a partir da nova Lei de Adoção tenham reforçado o aspecto do vínculo e da reintegração familiar, a questão não é ponto liquidado entre profissionais da área da infância.

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Para alguns, o vínculo é im­­portantíssimo e é preciso fugir da visão institucionalizada, da criança abrigada, que persistiu por muito tempo. "O destino dessas crianças tem de ser a volta ao lar. Simplesmente tirá-las do convívio com os pais não é solução", opina o coordenador do Centro de Apoio às Pro­motorias da Infância e da Juventude do Ministério Público do Paraná, Murillo José Di­­giácomo.

Para outros, o vínculo não é sinônimo da busca por uma família ideal. Na opinião da juíza da 1.ª Vara da Criança e da Juventude de Curitiba, Lídia Munhoz Mattos Guedes, se existem pais que demonstram interesse e afeto, o retorno familiar se faz com tranquilidade, lembra a juíza. "Porém, quando há rejeição, os resultados são muito negativos". Em Curitiba, o uso de drogas, a violência doméstica e psicológica, além de negligência no cuidado são os motivos que mais levam o afastamento de crianças e adolescentes de seus lares.

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A promotora da Infância e Adolescência de Curitiba Marília Vieira Frederico também expressa ressalvas ao vínculo familiar. "Damos 1,5 milhão de chances aos adultos e enquanto isso o tempo passa para a criança. Mesmo no caso da reintegração as chances de recaída de uma mãe usuária de crack são muito grandes. Me pergunto até que ponto é justo a criança esperar antes de ter a possibilidade de ser adotada por uma outra família (sic)."

Ao lembrar da importância do contato permanente entre irmãos, Lídia ressalta que recriar o ambiente familiar é importante, mas só quando a situação não venha a prejudicar um deles. Em um caso atendido por ela, um irmão menor deixou de ser adotado porque tinha uma irmã mais velha. A jovem, de 17 anos, um dia sumiu, virou moradora de rua e usuária de crack, e deixou o irmão no abrigo.

Pela sua experiência, Lídia afirma que o abandono dos ir­­mãos mais novos pelos mais velhos, quando estes têm oportunidade de viverem suas próprias vidas, acontece com frequência. "E até onde você pode punir uma criança tirando-lhe o direito de ser adotada só porque tem irmãos?". Manter o vínculo é uma regra garantida, porém é preciso analisar caso a caso.