Guaíra - A vida voltou ao normal em Guaíra, Extremo-Oeste do Paraná. Moradores circulam despreocupados pelo comércio, pagam contas em bancos, tomam café na padaria. Não se vê mais a agitação que tomou conta da cidade 20 dias atrás, quando Guaíra foi palco da maior chacina da história do Paraná. "A gente está retomando a vida. Meu movimento até já melhorou", afirma Darci Tonelli, vendedora de espetinhos.
Se a lembrança daquela tarde de 22 de setembro parece ter se apagado na memória dos moradores da cidade, para a polícia não é diferente. Menos de três semanas depois do crime, já não se vê policiamento ostensivo. No dia da tragédia, a Secretaria de Estado de Segurança Pública enviou reforço pesado para a região. "Havia quase 200 policiais aqui. Hoje é o efetivo normal, com pouco reforço", reclama o presidente da Associação Comercial e Industrial, Jair Schllemer.
Tanto o delegado da Polícia Civil, Pedro Lucena, como o comandante do 3º Pelotão da Polícia Militar, tenente Valmir de Souza, admitem que os policiais deslocados para Guaíra já retornaram às cidades de origem. Ambos sustentam, porém, que equipes continuam reforçando o policiamento. "Por uma questão estratégica, não podemos informar o número de policiais que estão aqui", afirma Lucena.
Contrabando
A retomada da rotina significa que, aos poucos, os moradores voltam a conviver com o mesmo problema que motivou o assassinato das 15 pessoas, entre elas quatro adolescentes, na chácara do Polaco: o contrabando e o tráfico de drogas.
Uma estimativa feita pela prefeitura de Guaíra mostra que na cidade existem pelo menos 800 pessoas ligadas diretamente ao contrabando. "São moradores que vivem ou se relacionam com o crime organizado, principalmente o contrabando de cigarros", relata o secretário municipal de Planejamento, Josemar Ganho.
A atividade clandestina é um problema que afeta diretamente os empresários da cidade. A falta de mão-de-obra é um empecilho. "Temos dificuldades para contratar gente para trabalhar. Poucos aceitam ganhar em um mês o que podem ganhar em dois ou três dias 'passando' cigarros", conta Jair Schllemer.
"Esse é o grande problema aqui em Guaíra. O contrabando é encarado como um trabalho, uma ocupação, e não como um crime", revela o delegado-chefe da Polícia Federal, Érico Ricardo Saconato. "E o pior é que esse é um crime que não dá cadeia. Como a pena é de apenas de um a quatro anos, as pessoas são liberadas e voltam a cometer o mesmo delito."
No combate ao crime, a Polícia Federal tem se deparado com uma situação inusitada. Muitos "atravessadores" utilizam carros velhos para o transporte das mercadorias, já que em caso de apreensão o prejuízo com a perda do veículo é pequeno. "Mas, de um tempo para cá, eles descobriram que existe uma forma ainda mais barata de transporte: a carroça", conta o delegado Saconato.