Seguidas pesquisas têm revelado que cada vez mais a violência está presente no cotidiano da escola, seja por meio de xingamentos, discriminação ou agressões físicas. A mais recente, feita pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla) revela que nada menos do que sete entre dez alunos e professores já presenciaram alguma cena de agressão física na escola e 21,5% dos estudantes relatam conhecer casos de abuso sexual nas dependências escolares.
Os dados da Ritla referem-se ao Distrito Federal, mas a realidade se assemelha em todo o país. No Paraná, em fevereiro deste ano Yuri Henrique Mendes Chaves, de 10 anos, foi morto na saída da escola por colegas de 13 e 14 anos que se juntaram para agredi-lo. No início da semana passada, um grupo de 13 jovens foi acusado de cometer violência sexual contra uma mulher de 31 anos, portadora de problemas mentais. A cena foi gravada em celulares e ocorreu numa escola agrícola de Apucarana, região Norte do Paraná.
A Ritla aplicou 10 mil questionários para alunos e 1.300 para professores e diretores de escola, de junho a setembro de 2008. A violência no dia a dia escolar se dá em forma de xingamentos, discriminação ou agressões físicas. Quase metade dos adolescentes afirmaram já ter sido xingados por colegas. Segundo o diretor executivo da Ritla, Jorge Werthein, a pesquisa mostra um panorama de toda a educação brasileira e poderia ser transposta para todos os estados, ou mesmo para a América Latina. "São problemas análogos. Há um alto índice de violência física e simbólica, que dificulta a melhoria da qualidade na educação. Ninguém aprende em um ambiente assim", diz.
O que preocupa são os preconceitos raciais, homofóbicos e xenófobos presente nos estudantes. Seis entre dez relatam já ter visto alguém tido como homossexual ser discriminado e 55% viram discriminação em função da raça ou cor. Há relatos de agressões em função da pobreza e local de nascimento, descrito principalmente pelos nordestinos. Além disso, são crescentes os casos de "cyberviolence", com o uso da internet para propagar a violência. "Não existem políticas públicas para combater essa opressão. Os professores não sabem o que fazer e perdem o controle. É preciso mobilização e estratégia", diz Werthein.
Todos perdem
Outra pesquisa, realizada no ano passado pela Universidade Federal do Paraná, mostra que dois terços dos estudantes brasileiros (66%) estão envolvidos com a violência, como agressores, vítimas ou em ambas as situações. Dos entrevistados, 30% haviam recebidos chutes, empurrões ou socos uma ou mais vezes nos últimos seis meses, e um quarto relatou fazer ameaças aos amigos. O estudo foi realizado em Curitiba, Goiânia, Governador Valadares e Teresina. Para o pesquisador Josafá Cunha, falta no Brasil uma aparato legal para que as escolas sejam obrigadas a tratar a questão da violência, o que já acontece nos Estados Unidos e Inglaterra.
Cunha acredita ser importante trabalhar o assunto porque há prejuízo para todos, tanto a vítima tem consequências negativas como o agressor. "Quer a escola queira admitir o não, quer a sociedade admita ou não, o fato é que a educação está falhando". Uma saída está no envolvimento dos próprios jovens.
"A ideia de que a educação vem de casa já mostrou ser falha. Temos que mostrar que o conflito pode ser positivo, que aprendemos com ele desde que seja pelo caminho correto". O envolvimento da família também é essencial. Estudos mostram que o acolhimento positivo dos pais na vida do adolescente é um fator positivo. "Violência não tem só em escola com Ideb zero. É como se fosse uma substância tóxica que impede outras coisas positivas de florescerem".