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Segurança

Violência faz sonho virar pesadelo

O sonho de ganhar a vida na cidade grande se transformou em pesadelo para boa parte das famílias vindas do interior e que moram na periferia da Grande Curitiba. Dos 55 assassinatos ocorridos na capital e região metropolitana entre os dias 3 e 18 de outubro, pelo menos 37 ocorreram em áreas distantes do centro. Os números são do Instituto Médico Legal (IML).

Entre as vítimas está o adolescente Alan Diego Martins, 17 anos. Ele foi morto a tiros no Sítio Cercado, na última segunda-feira. Segundo a mãe, Maria Jane, o crime ocorreu porque ele se envolveu numa confusão com uma gangue na saída do colégio.

Procurada pela reportagem na quinta-feira, ela não quis gravar entrevista. Estava com medo. E ocupada com a preparação da mudança para o interior. Afirmou que queria proteger o outro filho adolescente, que também estaria sendo ameaçado de morte.

Os irmãos trabalhavam juntos numa pizzaria e "chamavam muita atenção" porque trabalhavam, se vestiam bem e não se metiam em confusão. A mãe não disse qual era o seu destino, por temer alguma retaliação dos assassinos ou dos seus comparsas.

A fuga de Curitiba também foi a estratégia de Nivaldo Messias de Oliveira, 32 anos. No dia 12 de julho, ele viu o filho de 12 anos ser assassinado dentro de casa, na Vila Reno, no Uberaba. O garoto Rodrigo estava sentado no muro, esperando o pai estacionar o carro na garagem, quando recebeu um tiro na cabeça.

O disparo, segundo apurou a Polícia Civil, foi dado pelo vizinho Ivan Teixeira dos Santos, 34 anos, que está preso. Ele estava em liberdade condicional desde 1999, depois de ficar detido no presídio de Curitibanos (SC). Santos havia sido condenado a 14 anos de prisão por ter estuprado e matado uma mulher de 70 anos em Mafra (SC).

O crime revoltou os moradores da vila e fez Nivaldo e a mãe do menino reverem o futuro. "Foi uma tristeza só, todo mundo indignado", diz. O casal já cogitava voltar para o interior antes da tragédia. Temiam a insegurança da região. Quinze dias depois da morte de Rodrigo, venderam a casa e se mudaram para o município de Lunardelli, no Norte do Paraná. "Acho que se tivéssemos partido antes, poderíamos ter evitado o pior", lamenta o pai, que já voltou para Curitiba, depois do fim do primeiro casamento.

De acordo com um levantamento feito pelo diretor do IML, Hélio Bonetto, houve 1.872 mortes na Grande Curitba entre janeiro e setembro deste ano. A contagem não leva em conta todos os casos de óbito. "Temos cerca de oito mortes por dia, mas nem metade delas são assassinatos", justifica o médico.

Bonetto tem um relatório estatístico das mortes ocorridas no ano passado, mas não pode divulgá-lo. Segundo ele, os números precisam ser repassados à Secretaria de Segurança Pública, antes de chegarem à imprensa. Ao longo de 2006, porém, a reportagem solicitou várias vezes dados sobre homicídios – tanto gerais, quanto por bairros de Curitiba – à assessoria de imprensa da secretaria. Nada foi repassado.

Os dados que indicam os 55 homicídios entre 3 e 18 de outubro estão disponíveis ao público no setor de atendimento ao público do IML. De acordo com os números, 17 das mortes ocorreram em hospitais. Ou seja, a vítima foi agredida ou baleada em algum bairro de Curitiba e região metropolitana e morreu recebendo atendimento. Apenas uma comprovadamente morreu num bairro central – Evaldino Borges Pinto, assassinado a tiros na Rua Lamenha Lins, no último dia 7.

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