Ao cruzar o túnel na Avenida Tijucas do Sul, uma das principais vias do Sítio Cercado, é possível observar duas realidades distintas do bairro que está entre os cinco mais violentos de Curitiba. O túnel é a porta de entrada para a Vila Osternack e para boa parte dos crimes registrados na região. Antes do viaduto há conjuntos habitacionais prontos para serem entregues e ares de prosperidade. Do outro, o crescimento também se faz presente, mas a violência é o que mais impressiona.

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O bairro ocupa o segundo lugar no ranking dos mais populosos de Curitiba, com 114 mil habitantes. Na última semana, seis mortes violentas ocorridas na região foram contabilizadas pelo Instituto Médico-Legal. Neste primeiro semestre, já são 34 casos.

As antigas invasões, ocorridas há cerca de 15 anos na região do Osternack, transformaram-se em ruas numeradas e pequenos becos, que abrigam, lado a lado, residências de alvenaria e casas de madeira. O comércio da Tijucas mantém lojas, mercados, padarias e farmácias que garantem a subsistência da região. E é forte. Para a proprietária de uma loja de roupas, Rosenilda Batista, 29 anos, quem mora ali nem precisa ir até o Centro para fazer compras. Se por um lado é bom para o bolso, por outro, o crescimento de pequenos furtos e roubos acaba trazendo prejuízo e muita dor de cabeça. "Temos que ‘tocar’ os meninos daqui todo dia." Ela garante que já foi mais sossegado, há cerca de 10 anos. Agora, Rosenilda acredita que só vai melhorar quando se criar uma lei que coloque "pivete" dentro de casa. De outra forma, o problema continua. "Para se ter comércio aqui é preciso também manter um segurança na porta", garante.

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O dono do mercado da rua, Maicon Fuchs, 29 anos, também diz que mantém os olhos bem abertos. O resultado é que há cerca de um ano não é vítima de nenhum assalto. "Medo a gente tem, mas fico por causa do comércio." Pai de um menino de 2 anos, ele garante que o bairro não é lugar para se criar filho. "Não deixo meu menino ficar na janela por medo de bala perdida. À noite, então, nem se fala". Se pudesse escolher, mudaria de bairro antes que o filho cresça. Ele lembra que uma nova invasão, chamada Cidade de Deus, surgiu recentemente e tem havido muita briga de gangue. Porém, garante que o melhor para sobreviver no lugar é não se meter e não saber de nada.

O aposentado Ozório da Silva, 54 anos, mostra-se revoltado. Para ele, não adianta cruzar os braços frente aos problemas. "E não é só segurança não, falta infra-estrutura e um programa para tirar esses jovens da rua. Sem isso, não tem solução", opina. Quanto à segurança, ele ri ao pensar no assunto. "Segurança? O que é isso? Aqui, não tem não. É foice, tiroteio, facada...". (AP)