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campanha violenta
O guarda municipal Marcelo Arruda, assassinado em festa de aniversário que teve Lula como tema.| Foto: Reprodução/Redes Sociais

Casos de violência relacionados à política têm sido, nos últimos dias, foco de uma guerra de narrativas entre apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do atual presidente Jair Bolsonaro (PL), ambos pré-candidatos à Presidência da República.

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Na madrugada do domingo (10), o guarda municipal e tesoureiro do PT Marcelo Aloizio de Arruda, de 50 anos, morreu após uma troca de tiros em sua festa de aniversário com temática petista, em Foz do Iguaçu (PR). O autor do homicídio foi o policial penal Jorge José da Rocha Garanho, apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL). Há a suspeita de que o crime tenha ocorrido por motivações políticas, mas as investigações ainda não chegaram a essa conclusão.

Horas antes do crime, Lula havia feito um agradecimento durante ato em Diadema (SP) ao ex-vereador Manoel Eduardo Marinho, o Maninho do PT, réu junto com o filho sob a acusação de tentativa de homicídio qualificado contra o empresário Carlos Alberto Bettoni, opositor do PT, que ficou com graves sequelas do atentado e morreu no ano passado após complicações causadas pela Covid-19. “Obrigado, Maninho. Essa dívida que tenho com você jamais a gente pode pagar em dinheiro. A gente vai pagar em solidariedade e companheirismo", disse Lula.

Outros casos recentes, como o do explosivo que foi lançado em ato com apoiadores de Lula na Cinelândia e o protesto que impediu o vereador de São Paulo Fernando Holiday de palestrar na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) também impulsionaram trocas de acusações quanto à responsabilidade da esquerda ou da direita sobre atos violentos contra políticos.

“Não vamos esquecer que o assassinato do companheiro Marcelo Arruda por um bolsonarista é um crime fascista. Basta de violência política estimulada por Bolsonaro”, disse o perfil do PT no Twitter na segunda-feira (11), mesmo sem a conclusão das investigações sobre a suposta motivação política do crime. Antes, o perfil do partido havia definido o homicídio em Foz do Iguaçu como “o mais recente episódio da escalada de violência política que Bolsonaro sempre incentivou em sua carreira pública”.

O presidente respondeu aos ataques, republicando via Twitter uma fala de sua campanha em 2018: “Dispensamos qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra opositores. A esse tipo de gente, peço que por coerência mude de lado e apoie a esquerda, que acumula um histórico inegável de episódios violentos”.

O perfil de Bolsonaro também postou que “é o lado de lá que dá facada, que cospe, que destrói patrimônio, que solta rojão em cinegrafista, que protege terroristas internacionais, que desumaniza pessoas com rótulos e pede fogo nelas, que invade fazendas e mata animais, que empurra um senhor num caminhão em movimento”. “Falar que não são esses e muitos outros atos violentos mas frases descontextualizadas que incentivam a violência é atentar contra a inteligência das pessoas. Nem a pior, nem a mais mal utilizada força de expressão, será mais grave do que fatos concretos e recorrentes”, disse o presidente.

Lula, por sua vez, tentou veicular uma imagem de pacifista, apenas três dias depois de agradecer a um aliado por uma tentativa de homicídio. “Não quero ninguém brigando, aceitando provocação. E é isso que nós temos que fazer nos próximos três meses. Vamos encher as ruas, conversar com as pessoas. Nós não precisamos brigar, a nossa arma é a tranquilidade, o amor e a sede que temos de melhorar a vida do povo brasileiro”, afirmou o ex-presidente.

Para a cientista política Catarina Rochamonte, a situação atual é consequência de um longo processo de tribalização da política brasileira. Na visão dela, a crescente tendência de se colocar o líder como foco descamba inevitavelmente para um tribalismo análogo ao de sociedades primitivas, e o aparente aumento da violência é um resultado presumível dessa tendência.

"É inegável que uma disputa política sempre vai ter um certo grau de hostilidade e ânimos acirrados, um forte embate de ideias. E isso tudo faz parte do jogo democrático. O problema é que a gente não está tendo nem oportunidade de ter um embate de ideias. O que está acontecendo é uma disputa ideológica na base de chavões, na base de um discurso de rede social", afirmou Catarina.

As redes sociais, segundo ela, em vez de serem plataformas para uma guerra de narrativas, “poderiam ser um espaço muito importante para a democracia, uma espécie de ágora virtual que favorecesse o debate”. No entanto, para ela, a fala “mais belicosa, mais virulenta, acaba tendo mais ressonância, e é muito difícil levar o debate a algum nível de profundidade”. “Muita gente tem dificuldade até de entender quando você faz uma reflexão um pouco mais profunda, e aí já vem xingando nas redes sociais”.

Senador petista diz que “bolsonarismo mata”; deputada governista lembra que Lula agradeceu a acusado por crime político

A troca de acusações via redes sociais envolveu políticos de oposição, governistas e até da terceira via.

“O bolsonarismo mata. Precisamos dar um basta nesse governo de ódio. O Brasil precisa de paz”, disse o senador petista Humberto Costa (PE) via Twitter. Em um vídeo de seu perfil sobre o episódio, a fala do parlamentar era acompanhada da legenda “Bolsonaro tem as mãos sujas de sangue”.

Felipe D’Avila, pré-candidato à presidência da República pelo Novo, questionou no domingo (10) a legitimidade de Lula para falar sobre pacificação. “Ontem, discursando em Diadema, Lula agradeceu o vereador do PT que feriu gravemente um empresário em frente ao Instituto Lula, em 2018, durante uma manifestação. Esse é o pacifista que vai acalmar os ânimos do país?”, questionou.

Já a deputada federal Carol de Toni (PL-SC) criticou o pouco peso que a mídia tem dado às declarações do petista, recordando que “Lula agradeceu e prestou solidariedade por um crime cujos detalhes já estão esclarecidos e as investigações encerradas… Bolsonaro, ANTES das investigações, se adianta em dizer que não apoia violência nenhuma contra opositores e convida quem assim procede a procurar a esquerda POR COERÊNCIA”, afirmou.

Terceira via fala sobre necessidade de acalmar ânimos

Em meio à guerra de narrativas dos lados de Bolsonaro e Lula, a terceira via tentou capitalizar a situação falando sobre a necessidade de pacificação do Brasil.

“Esse tipo de conflito nos ameaça enormemente como sociedade. É contra isso que luto e continuarei lutando. Tenho certeza que nós, brasileiros, temos todas as condições de encontrar um caminho de paz, harmonia, respeito, amor e dignidade humana para reconstruir o Brasil”, disse a senadora Simone Tebet, pré-candidata pelo MDB. Nesta quarta (13), ela se encontrou com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, para entregar a ele um “Manifesto pela Paz nas Eleições”.

Sem mencionar diretamente nenhum caso, André Janones, pré-candidato à presidência da República pelo Avante, afirmou: “O debate ideológico sem qualquer base racional leva a tragédia que vamos lamentar profundamente. Ninguém vai conseguir explicar essa paixão que leva um ser humano odiar o outro por convicções políticas diferentes”.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também se manifestou. Em nota emitida na segunda-feira (11), ele pediu respeito à democracia e à garantia da defesa de posições partidárias. “A Câmara dos Deputados repudia qualquer ato de violência, ainda mais decorrente de manifestações políticas. A democracia pressupõe o amplo debate de ideias e a garantia da defesa de posições partidárias, com tolerância e respeito à liberdade de expressão. A campanha eleitoral está apenas começando. Conclamo a todos pela paz para fazer nossas escolhas políticas e votar nos projetos que acreditamos. Esta é a premissa de uma democracia plena e sólida, como a nossa”, declarou Lira.

Irmãos do petista morto reclamam do uso político do caso pelo PT; guerra de narrativas pode chegar à Justiça

No caso do petista morto em evento em Foz do Iguaçu, a guerra de narrativas envolveu até a família da vítima. Dois irmãos de Arruda reclamaram da presença de políticos petistas em seu velório, como a presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann. Em uma chamada de vídeo com Bolsonaro intermediada pelo deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) e divulgada nas redes sociais, os irmãos disseram que estão considerando um convite do presidente para falar sobre o caso em Brasília e desmentir a tese de atentado político.

Já a viúva de Marcelo Arruda, Pâmela Suellen Silva, ficou surpresa ao saber da chamada de vídeo entre Bolsonaro e seus cunhados. "Absurdo, eu não sabia", disse Pâmela ao colunista Chico Alves, do portal UOL. "Sabíamos que eles apoiavam o presidente, mas não imaginei que chegasse a esse ponto de eles deturparem a real história, dizer que o cara não foi por motivos políticos lá", disse.

A guerra de narrativas sobre casos recentes também pode chegar à Justiça. O deputado estadual Danilo Balas (PL-SP) levou o caso da declaração de Lula ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP), em representação contra o ex-presidente por seu elogio ao ex-vereador Manoel Eduardo Marinho. "Não daremos trégua a esse criminoso que quer mergulhar o país em sangue", disse Balas pelas redes sociais.

Já a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou na segunda (11) que Bolsonaro precisa responder à Justiça por falas que incitem à violência. “Vamos pedir que o TSE tome providências, porque toda vez que tiver uma frase gatilho do Bolsonaro para ativar um ato de violência ele ou o PL têm que responder por isso. Ele não pode ficar sem resposta. Estamos estudando para saber como formular. Ele não pode ficar dando suas mensagens naquelas lives irresponsáveis que ele faz e atiçar pessoas a cometer atos de violência”, afirmou Gleisi.

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