Foz do Iguaçu A violência e o contrabando estão contribuindo para aumentar os índices de evasão escolar em Foz do Iguaçu. A escola perde alunos em duas frentes: ou por medo de serem abordados por gangues e assaltantes no caminho do colégio ou para transportar cigarro na Ponte da Amizade, na fronteira com o Paraguai.
A aluna Márcia Andréia Galdina da Silva, 17 anos, tem medo de freqüentar as aulas no colégio do bairro Morumbi, em Foz do Iguaçu. Ela estuda no período da manhã, mas vai para a escola em outros horários e teme ser abordada durante o trajeto. "Os carros às vezes passam em alta velocidade e alunos de outros colégios vêm para cá brigar. Você não sabe a hora que vai acontecer alguma coisa", diz.
Conforme levantamento do Núcleo Regional de Ensino (NRE) de Foz do Iguaçu, o índice de evasão nas 28 escolas estaduais varia entre 1,50% a 31%. Pelo menos 11 têm número expressivo de abandono escolar. O limite tolerável é de 5%. O levantamento é resultado de uma pesquisa realizada durante todo ano letivo de 2006. Em outras 40 escolas subordinadas ao NRE, na região de Foz do Iguaçu, há pelo menos cinco com índices considerados altos.
A chefe do NRE, professora Dulce Wernke, diz que a violência não é a única causa da evasão. A estrutura familiar, a idade, a necessidade de trabalhar e a repetência também acabam levando o aluno a abandonar a sala de aula. No entanto, em Foz do Iguaçu a insegurança também é fator decisivo. "Hoje, além de outras necessidades, as crianças começam a desistir do estudo em razão da violência", diz.
A reportagem da Gazeta do Povo visitou duas escolas de Foz com os maiores índices de desistência. Os nomes não serão divulgados a pedidos dos professores, para não gerar preconceito ou estigma. Em uma delas, a evasão no ensino médio no ano passado foi de 31,2%, e no ensino fundamental, 11,7%. Em 2005, a média geral era de apenas 13%.
Boa parte dos estudantes que freqüenta o colégio, segundo a diretora Arlete Pavani, sobrevive e ajuda a família transportando cigarros na Ponte da Amizade e às margens do Rio Paraná. Na visão dela, o aumento da evasão no ano passado provavelmente está atrelado ao aperto da fiscalização da Receita Federal (RF). "Com o arrocho na fiscalização, eles tiveram de ficar mais tempo na função, esperando o momento para passar a mercadoria e às vezes acabam ficando à noite toda", diz. Alunos de 11 a 23 anos estão na faixa etária crítica e propensa a desistir dos estudos.
Em outro colégio com índice expressivo de desistência, situado na região do Morumbi, no ano passado a taxa de abandono no ensino fundamental foi de 17,40%, e no ensino médio, 29,50%. Os números cresceram em relação a 2005, quando 9,60% dos alunos deixaram o ensino fundamental e 19,50%, o ensino médio.
O diretor do colégio, Valdevino dos Santos, diz que a evasão escolar causada pela violência é maior no período noturno, principamente por conta da vizinhança. "O problema é fora da escola". Ruas mal-iluminadas e a concentração de pessoas no lado de fora da escola no horário de entrada e saída das aulas causam apreensão e medo.
Para evitar o problema, o diretor acha que deveria haver policiais diariamente em frente do colégio, onde há 1.800 alunos, em todos os horário de entrada e saída das aulas. Isso evitaria a aglomeração de jovens na porta da escola, até mesmo ex-alunos, que ficam perto do portão fazendo ameaças aos estudantes e colocando as crianças em risco. "Isso é a insegurança que se instalou em Foz e está refletindo nas escolas. Falta policiamento ostensivo. Os alunos vivem a violência e querem a violência", ressalta.
A Patrulha Escolar, responsável pela segurança das escolas estaduais, não consegue atender todos os colégios. São apenas duas viaturas, que circulam em turnos diferentes, para percorrer todos os colégios de Foz do Iguaçu.