Em cima, uma mulher agita seu cabelo. Em baixo, o computador recria o movimento| Foto: Reprodução - G1

Tanto o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, como o embaixador dos Estados Unidos em Brasília, Clifford M. Sobel, acreditam que a visita do presidente norte-americano, George W. Bush , foi muito positiva aos dois países. Ambos destacam que o acordo do álcool foi um avanço importante na relação entre as duas nações. O tema deve voltar a ser discutido daqui a três semanas, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva for aos EUA retribuir a visita de Bush. Nas entrevistas nesta página, eles ainda falam dos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Bolívia, Evo Morales; de antiamericanismo; e da conclusão da Rodada Doha para liberalização do comércio mundial.

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Brasil

Que avaliação o senhor faz da visita do presidente Bush ao Brasil? Algo de significativo mudou?Celso Amorim – O presidente dos Estados Unidos, com capacete da Petrobrás, com a placa atrás de biocombustível e biodiesel, isso é o melhor resumo dessa visita. Quem, como eu, acompanhou a campanha do "Petróleo é nosso" pode avaliar o impacto disso. É também importante o reconhecimento, pelos americanos, da liderança do Brasil. Tanto Bush quanto Condoleezza [Condoleezza Rice, secretária de Estado norte-americana] repetiram várias vezes a palavra "estratégica", referindo-se à relação dos Estados Unidos com o Brasil.

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Estratégica do ponto de vista político? Em que momento o presidente venezuelano, Hugo Chávez, entrou na conversa?Não entrou. Talvez tenha sido falado incidentalmente. Chávez não foi o assunto. Os principais assuntos foram o biodiesel e a OMC [Organização Mundial do Comércio].

O presidente Lula fez declaração de princípios sobre a relação do Brasil com a Venezuela e a Bolívia?O presidente Lula falou muito da América do Sul, da importância da integração, destacando que todos os presidentes estão empenhados em reformas. Todos precisam de ajuda... e ajuda não é dar esmola. A Bolívia entrou na conversa também, e ele [Lula] defendeu a necessidade de manter uma atitude aberta e positiva, ressaltando que isso é parte da estabilidade da região.

O presidente Bush sinalizou, em algum momento, com a disposição de reduzir os subsídios à agricultura?Não haverá conclusão da Rodada Doha sem a redução dos subsídios. Ele sabe disso. Claro que cada um tem a sua visão do que é principal. Ao dizer que cada um tem de fazer a sua parte, ele sabe que cabe a ele reduzir os subsídios.

Mas isso eles já vêm dizendo há muito tempo. O que houve de novo?É um impulso. Os dois presidentes juntos, o Bush declarando que Brasil e Estados Unidos devem liderar as negociações na OMC, destacando que, se o Brasil e os Estados Unidos chegarem a um acordo, tudo fica mais fácil. Para bom entendedor, meia palavra basta...

O presidente Lula pediu o fim da sobretaxa do etanol [cobrada pelos Estados Unidos sobre o álcool do Brasil]?Neste caso, o mais importante é a mudança de cultura. Quando você passa a tratar o etanol como uma commoditty e não como um produto agrícola, a sobretaxa vai ficar insustentável. Nós vamos continuar a batalhar pelo fim da sobretaxa nos foros adequados, na própria OMC.

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Na sua opinião, a importância da visita foi mais simbólica?Simbolismo é extremamente importante na política. Mas é mais do que isso: é o começo de uma grande história. Nesta visita, o foco foi etanol e biocombustível. Isso foi visto como uma parceria importante para os dois países, para o mercado global e para ajuda a outros países.

O que ficou combinado para a visita de Lula aos Estados Unidos no fim deste mês?Ainda estamos digerindo tudo o que aconteceu. Algumas coisas estarão mais adiantadas sobre a OMC, por exemplo. Eles combinaram de conversar com outros líderes e voltarem a se falar por telefone. Lula vai conversar com o Blair, e é quase certo que Lula e Bush voltem a se falar por telefone. Sobre o etanol, vamos ter de trabalhar para apresentar algo mais concreto. Pegar algum investimento já existente do Brasil na Jamaica e em El Salvador, por exemplo, e chamar alguma empresa americana para se associar e aumentar o investimento.

EUA

Qual é a sua avaliação sobre a visita do presidente Bush ao Brasil?Clifford M. Sobel – Acho que demonstrou, principalmente, a forte relação pessoal entre os nossos presidentes. Ela está no centro deste acordo bilateral sobre biocombustíveis e de tudo o que foi discutido. O que é único sobre esta viagem é que os dois presidentes estarão mais uma vez reunidos em uma atmosfera casual nos Estados Unidos daqui a três semanas. O presidente Lula será o primeiro líder latino-americano a ser recebido pelo presidente Bush em Camp David [no fim deste mês]. Portanto, eles começaram as discussões aqui e vão prosseguir lá. Isto é realmente impressionante; confirma a forte relação que os EUA têm com o Brasil.

Como a visita de Lula aos EUA melhorará a relação bilateral?Acho que em Camp David será um formato diferente de encontro. Eles terão muito mais tempo para discutir os assuntos. O presidente Bush terá terminado sua visita aos outros países latino-americanos e poderá refletir de como podemos ampliar as conversas que tivemos aqui.

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O presidente Bush avisou que não haverá reduções de tarifas para o acesso dos mercados latino-americanos de biocombustíveis nos próximos dois anos. Não é um obstáculo grande demais para dois países que têm uma cooperação tão forte?É preciso ressaltar que não é o presidente que legisla sobre isso. É o Congresso americano. E o presidente Bush deixou claro que este encontro não era para negociar tarifas. Acho que os dois presidentes fecharam o foco nas coisas positivas que podem fazer, como transformar a energia dos biocombustíveis em commodity.

Os dois anunciaram que pretendem obter resultados concretos da Rodada Doha. Como isto se daria?Os presidentes Lula e Bush discutiram a importância e os benefícios da globalização por meio do comércio e da conclusão da Rodada Doha e, por essa razão, nossa representante comercial, Susan Schwab, permaneceu aqui para se reunir com o chanceler Celso Amorim.

Os EUA estão preparados para fazer concessões, por exemplo, reduzindo os subsídios agrícolas?O presidente Bush já falou sobre a possibilidade de reduções e acredito que seremos flexíveis. Estamos aguardando que nossos parceiros de negociações clarifiquem suas posições, ou seja, que esse quebra-cabeça entre Europa, G-20 e EUA se encaixe. Apesar de ter havido muito progresso, a esperança é de que possamos chegar a uma conclusão.

O presidente venezuelano Hugo Chávez se tornou uma das principais figuras da viagem de Bush, mesmo não estando presente. Bush visitou a América Latina para conter o crescimento do presidente Chávez?A agenda do presidente Bush em relação à América Latina existe há tempos e a prova é que ele já esteve aqui várias vezes. Bush veio para promover a idéia de justiça social, e não apenas para falar de comércio e investimentos. Veio visitar amigos com quem temos relações muito boas. Ele quer fortalecer anda mais essas relações.

Como o senhor vê o crescimento do antiamericanismo na América Latina?Só posso falar pela minha experiência como embaixador no Brasil. E asseguro que os americanos são recebidos aqui de braços abertos.

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