Todos os dias, V.V., 17 anos, pega o biarticulado Capão Raso/Santa Cândida no Terminal Santa Cândida rumo ao bairro Juvevê, onde trabalha. Na última quarta-feira (12), no entanto, a rotina foi interrompida pela brutalidade gratuita de outro passageiro do ônibus, que a agrediu com um tapa no rosto e chutes, além de ofensas verbais homofóbicas.
No mesmo dia, à noite, por volta das 22 horas, a adolescente foi até a Delegacia da Mulher acompanhada dos pais e do irmão para registrar um boletim de ocorrência. Segundo ela, foram informados de que não seria possível registrar B.O. porque a agressão não se caracterizava como violência doméstica. Foram encaminhados ao Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (Nucria), já que a vítima é menor de idade. Mas lá, segundo a adolescente, também não foram atendidos sob a alegação de que não havia equipe de plantão.
A negativa em registrar o boletim de ocorrência não deveria ter acontecido. De acordo com a delegada Daniela Antunes Andrade, são atribuições da Delegacia da Mulher os crimes sofridos por mulheres em relações domésticas ou familiares e crimes de assédio, violência sexual e estupro. "Entretanto, nossa orientação é não mandar a vítima embora, registrar o boletim e encaminhar via sistema para o distrito competente", explica.
A adolescente pretende voltar à delegacia para registrar o boletim. "Eu deveria ter feito BO na hora, mas no momento de nervosismo não pensei nisso. Não queria dar continuidade ao caso, mas registrar o BO é importante para constar como estatística e para eu ter algo registrado caso encontre ele de novo. É importante não deixar passar em branco".
A agressão
De acordo com V.V, ela e a namorada entraram no ônibus vazio por volta de 13h30. Quando foram sentar em dois acentos desocupados, um homem a empurrou e ocupou o lugar à janela. "Achamos grosseiro, mas ignoramos. Minha namorada sentou e eu fiquei em pé ao lado. Ela disse, brincando, que mais um pouco e ele teria sentado no colo. Nisso, ele virou e gritou O que você está latindo, piranha?, nos mandou calar a boca e xingou. Nós ficamos quietas", relata.
Alguns pontos de parada à frente, o homem levantou para ceder o lugar a uma senhora. Ao passar pela adolescente, empurrou com violência novamente. Dessa vez, ela reagiu. "Perguntei porque ele havia feito aquilo. Aí ele veio para cima de mim, eu empurrei e ele me deu um tapa no rosto, chutou minhas pernas e xingou de tudo, de aberração, vagabunda. Disse que se meu pai não havia me educado em casa, ele educava na rua".
Depois da agressão, V. conta que gritou que ele deveria ter vergonha por bater em uma menina, e quem estava no ônibus deveria ter vergonha por não ter feito nada. Segundo ela, o ônibus estava lotado, mas ninguém tentou impedir o homem de agredi-la, tampouco interviram após a agressão. "O que mais me insultou foi ver que ninguém ofereceu ajuda".