O homem que confessou ter cometido os crimes do Morro do Boi, o vigia Paulo Delci Unfried, está cada vez mais longe de ser considerado o culpado de ter matado Osiris del Corso e baleado e molestado Monik Pegorari de Lima no litoral paranaense. Um dos policiais que participa das investigações disse ontem, com a condição de não ser identificado, que a conclusão a que se chega é de que a prisão de Unfried, feita em flagrante, não se sustenta mais como inicialmente e, em relação aos demais crimes que pesavam contra ele (estupro e assalto a residências), já se tem dúvidas sobre a autoria real dos delitos. Por conta disso, Unfried foi solto na última sexta-feira, voltou ao litoral e, segundo vizinhos, está na casa do pai, em Matinhos.
Unfried também desmentiu a confissão do crime, alegando ter sido torturado pela polícia quando foi preso em 25 de junho. Juarez Ferreira Pinto volta a ser o principal foco das investigações e o único acusado de ter cometido os delitos: ele foi preso em fevereiro e, na próxima quinta-feira, terá julgado o pedido de habeas corpus.
Sem vacilar
Ontem, durante um encontro com a imprensa, os pais de Osiris falaram que o caso nunca teve uma reviravolta. "Acreditamos totalmente no reconhecimento da Monik, ou seja, na primeira e única versão. Ela nunca vacilou, como alguns andam dizendo. Seremos eternamente gratos por ela ter sobrevivido e, assim, conseguido reconhecer o assassino do nosso filho. Se não fosse assim, ele jamais teria sido descoberto", afirma a mãe de Osiris, Maria Zelia del Corso. Para o pai, Sergio del Corso, Unfried sempre foi inocente e caiu em uma armação. O advogado que representa as vítimas, Elias Mattar Assad, disse que espera do Ministério Público (MP) uma resposta sobre a possível armação e disse que uma arma como o revólver calibre 38 encontrado com Unfried pode facilmente "mudar de dono".
No encontro, os pais de Osiris passaram um vídeo que mostra o rapaz ainda criança, com 8 anos, brincando com a família no Morro do Boi. A intenção foi demonstrar que Osiris conhecia bem o local. Também foram apresentados os comprovantes de doação de sangue do casal, o que derrubaria a hipótese levantada em alguns veículos de comunicação de que ambos seriam usuários de drogas. Os familiares irão processar uma televisão e uma rádio por insinuarem que Monik teria medo de voltar atrás no reconhecimento e que ela estaria equivocada.
Além dos familiares das vítimas, a polícia e o próprio MP já afirmaram que Juarez Ferreira Pinto é o autor dos crimes. "Soltaram um criminoso e continuam mantendo preso um inocente", rebateu ontem o advogado de defesa de Juarez, Nilton Ribeiro. Ele aguarda o julgamento do habeas corpus e, caso o pedido seja negado, irá recorrer ao Superior Tribunal de Justiça. O processo corre em segredo de Justiça, por isso não há notícias sobre o avanço das investigações.
Retorno
Desde que foi solto, na sexta-feira, o vigia Paulo Delci Unfried não voltou ao lar. Vizinhos afirmam que cerca de uma semana depois da prisão do rapaz, que em acareação com Juarez e Monik desmentiu a versão, familiares foram até a residência e retiraram todas suas roupas e móveis. Um novo caseiro já cuida do imóvel, localizado na praia de Caiobá, a menos de 200 metros do Morro do Boi. Pedindo para não ter seu nome identificado, o caseiro disse que a iniciativa foi da própria família de Unfried. Ele estaria na casa dos pais, em Matinhos, mas não foi localizado.