Equipe da PF é a mesma que deteve Pizzolato na Itália
A Polícia Federal (PF) e autoridades do Paraguai estavam no encalço do ex-médico Roger Abdelmassih e de seus familiares em Assunção desde o dia 11. A captura envolveu o mesmo grupo que participou, meses atrás, na Itália, da prisão do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, condenado no julgamento do mensalão, em 2012.
A primeira pista de que Abdelmassih estaria no país vizinho foi obtida em um grampo, em investigação tocada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de São Paulo. Diante da necessidade de cooperação internacional, os dois órgãos acionaram a Polícia Federal, que se articulou com autoridades da Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai. Fontes da PF explicaram que, embora o caso não tenha relação com tráfico internacional de drogas, o órgão paraguaio teria participado da operação por ser um tradicional e competente parceiro dos agentes brasileiros em investigações. Para as buscas, a PF mobilizou policiais lotados no Gecap, o grupo especializado em capturas em Brasília. O número de agentes envolvidos na operação não foi divulgado.
Na manhã desta terça-feira (19), a estilista Vanuzia Leite Lopes, de 54 anos, recebeu uma ligação que esperava havia três anos. Do outro lado da linha, vinha a notícia de que Roger Abdelmassih havia sido preso. "Me disseram que eu poderia colocar o champanhe para gelar, porque ele finalmente havia sido pego", contou ela, ao lado da dona de casa Helena Leardini, de 45 anos, e da artista plástica Maria Silvia de Oliveira Franco, de 43, outras duas vítimas do ex-médico.
Desde que ele foi condenado, mas fugiu da Justiça, Vanuzia e outras vítimas criaram uma associação, além de um e-mail e páginas em redes sociais para receber denúncias sobre o paradeiro de Abdelmassih.
Foi graças a documentos de ligações e transações bancárias que a polícia pôde chegar ao foragido. "Essa investigação foi um trabalho de formiguinha. Mais do que felicidade pela prisão dele tenho orgulho do que fizemos. Provamos que a mulher que sofre o abuso pode ser vítima, mas não é uma coitada e tem força para lutar", disse.
Em 1993, durante tratamento para engravidar, Vanuzia foi violentada por Abdelmassih. Ela foi uma das primeiras mulheres que registraram imediatamente o abuso na polícia. "Tenho o exame de corpo de delito comprovando o abuso. Só que na época toda a investigação sumiu. Era a minha palavra contra a dele."
Ela diz que, durante as investigações que fez com as integrantes do grupo, chegou a receber ameaças de morte. "Em ligações me pediam para parar as publicações no Facebook ou eu não ficaria viva", contou.
Com a prisão do ex-médico, Vanuzia e as outras vítimas disseram estar aliviadas. "Vou dormir muito mais leve hoje ao saber que ele finalmente vai ter o que merece", disse Maria Silvia. Ela afirmou que, além de ter sofrido abuso sexual, teve embriões desviados para venda.
Comemoração
A presidente da Associação das Vítimas de Roger Abdelmassih, a bacharel em Direito Teresa Cordioli, de 63 anos, confirmou que o clima foi de comemoração entre as integrantes do grupo.
"Não posso dizer que sinto felicidade porque isso (a prisão) não vai acabar com a minha dor nem com a das minhas colegas. Mas, pelo menos agora, a gente tem o sentimento de que a justiça foi feita", disse.
Teresa foi violentada por Abdelmassih aos 17 anos, quando ele era residente em um hospital de Campinas (SP). "Ele me ameaçou. Disse que, se eu falasse algo, iria atrás de mim porque tinha meu endereço no prontuário. Até hoje tenho medo dele." A vítima afirma que, mesmo com o alívio sentido com a captura do médico, ainda não se sente segura. "Eu sei do que ele é capaz e, para estar solto, tinha gente poderosa que o ajudava."
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