Um estudo realizado em 12 capitais brasileiras mostrou que a desigualdade nas notas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) dentro de um mesmo município é semelhante à diferença entre países desenvolvidos e pobres. Em capitais como Vitória (ES), que ocupa o primeiro lugar no ranking das mais desiguais, a escola mais bem sucedida teve um rendimento 51% maior que a instituição na última colocação.
Curitiba ocupa o sétimo lugar, com uma diferença de 31%. Mesmo assim, o estudo é criticado pela Secretaria Municipal de Educação (SME). Isso porque a escola curitibana com a pior nota (4,5) ainda tem rendimento semelhante ao das melhores escolas de Boa Vista, cidade tida como a mais igualitária. A capital de Roraima tem apenas 17% de diferença entre a pior e melhor nota do Ideb. Apesar disso, a rede municipal tem pouco mais de 15 mil alunos contra 91 mil de Curitiba e a melhor nota é 4,7. "Há mais equidade, mas o nível das notas é mais baixo, o que significa que boa parte das escolas são ruins. O quadro é totalmente diferente em Curitiba, onde a diferença é maior, mas as notas são melhores", explica o superintendente executivo da SME, Jorge Wekerlin.
Para tentar mostrar um panorama mais amplo nas capitais, o estudo excluiu tanto 10% das escolas que tiveram menor Ideb quanto 10% das que tiveram melhor índice. Em Curitiba, por exemplo, a maior média é 7,1, mas a nota máxima considerada para o estudo foi 5,9.
Motivos
Não adianta pensar em equidade educacional sem falar em distribuição de renda, diz a secretária da Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda. Os reflexos da pobreza no Brasil se refletem na sala de aula e ajudam a aumentar a desigualdade nas notas do Ideb. Para reverter este quadro, o MEC selecionou as 28 mil escolas com os piores desempenhos e aprovou projetos de melhoria. Já quem teve boas notas recebeu 50% a mais na verba do Programa Dinheiro Direto na Escola. "Há um fator subjetivo forte também, que envolve o clima acolhedor dos professores e a boa interação com os alunos", afirma.
Para o presidente-executivo do Todos Pela Educação, Mozart Neves Ramos, há diversos fatores que influenciam na diferença entre uma escola e outra dentro do mesmo município. Além da desigualdade de renda, há questões preponderantes como a participação e escolaridade dos pais, engajamento dos professores e ambiente escolar bem cuidado. "Pesquisas mostram que, quando a escola adota critérios democráticos de gestão e os pais participam da vida escolar, há uma melhora direta", argumenta. Entre os principais investimentos para mudar este quadro estão salário inicial atraente, plano de carreira promissor, formação inicial sólida e alinhamento entre o que é ensinado nas universidades e a realidade.