Beatriz Galvão, viúva do cartunista Glauco Vilas Boas, assassinado na madrugada da última sexta-feira (12) junto com o filho, Raoni, presenciou o crime. Em entrevista ao Fantástico, ela conta que chegou a se ajoelhar para implorar que o suspeito, o estudante Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, parasse.
Ela diz não ter ideia do motivo do crime: "é uma coisa que eu nunca pude imaginar. Glauco nunca teve inimigos".
"Era mais ou menos uma meia-noite e meia, estava eu e o Glauco deitados, assistindo um filme na televisão. Minha filha chegou me chamando pelo lado de fora da casa. Eu achei estranho, porque ela tem a chave da minha casa. Quando eu desci, o cara (Carlos Eduardo) já estava com um revólver na cabeça dela", conta Beatriz.
Carlos Eduardo, o Cadu, era um conhecido da família, mas não um amigo íntimo, segundo Beatriz. "Nem reconhecer ele na hora que ele chegou com o revólver eu reconheci", diz ela
Cadu frequentava a igreja Céu de Maria, fundada por Glauco. Segundo a viúva, Cadu estava afastado dos cultos havia seis meses. O jovem de classe média alta tinha procurado a igreja pra se livrar das drogas.
Naquela noite, ele parecia alterado. "(Estava) com uma expressão transtornada, com uma cara de drogado, totalmente fora de si", diz ela. "Quando o Glauco desceu, ele já chegou e já deu um soco na cara do Glauco, já derrubou ele".
Beatriz conta que se ajoelhou e implorou pra que Cadu parasse. "Aí, nesse momento ele pegou e tacou a coronhada do revólver na minha cabeça e me xingou, me jogou pro lado".
Ela conta que houve tortura antes dos assassinatos: "ele falava assim: você é um desgraçado, só xingava o Glauco. Parecia uma pessoa com um ódio muito grande, sabe?". "Ele queria que o Glauco afirmasse que ele era o poderoso. Aí eu mesma afirmei que ele era Jesus. Eu falei: não, pra mim você é Jesus. O Glauco em nenhum momento afirmou", conta Beatriz.
Quando Carlos Eduardo levava Glauco em direção à rua, chegou Raoni, filho do cartunista e enteado de Beatriz. "Aí ele falou: o que você está fazendo com o meu pai?, e foi pra cima do cara, e o cara já matou o Raoni primeiro, depois o Glauco. A sangue frio, à queima roupa. ele deu um tiro no rosto do Glauco. Na cara", narra ela.
A chácara onde a família vivia fica em um terreno grande, de 18 mil metros quadrados, a pouco menos de 20 quilômetros do centro de São Paulo. Ali fica a sede da igreja Céu de Maria, fundada por Glauco. E foi pelo portão que, segundo a família, o assassino entrou, na madrugada da última sexta-feira, até ter acesso à casa do cartunista. Depois de discutir com a família, saiu com Glauco até encontrar Raoni.
De acordo com a polícia, Cadu acertou quatro tiros em Glauco e quatro em Raoni.
Segundo a viúva, o estudante entrou na casa com outro rapaz. O nome dele é Felipe Iasi, 23 anos. Ele se apresentou à polícia na tarde deste domingo (14).
"Me dava a impressão que ele (Felipe) não estava também muito normal, porque ele estava com o olho muito arregalado, sabe?", diz Beatriz. "Enquanto o Cadu fazia toda essa barbaridade, ele ficou sentado no sofá. Eu falei ajuda, ajuda por favor. Ele falou (faz que não com a cabeça)", conta ela.
Felipe é dono do Gol prata encontrado pela polícia no sábado, com a frente amassada. O advogado alegou que o rapaz foi obrigado a levar Cadu até a chácara. Viu as agressões, mas teria conseguido fugir antes dos tiros.
Não é o que diz a viúva: "após o assassinato, ele levou o Cadu embora dentro do carro dele".
Ela conta que na noite de sábado recebeu uma ligação de Cadu. "Ele falou: Oi, Bia, é o Cadu. Aí eu comecei a gritar, desesperada. Como você tem coragem de ligar no meu telefone?. Daí ele desligou. Eu quero que ele seja preso, pela nossa segurança".
Glauco era adepto da doutrina do Santo Daime, originária da Amazônia. "O Glauco dizia assim: eu gosto tanto da minha vida, gosto tanto da minha família, gosto tanto da minha casa", diz Beatriz.
A viúva diz não saber se seria capaz de perdoar: "o perdão do Cristo, mesmo, aquele, eu ainda não consegui sentir em meu coração", conta.
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