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Segurança

Vizinhança torna-se um perigo para muitas escolas públicas

O Colégio Estadual Anita Canet está localizado no bairro Nações II, um dos mais pobres de Fazenda Rio Grande, cidade de 90 mil habitantes a 25 quilômetros de Curitiba. Neste lugar, onde para muitas famílias uma moeda de um real pode fazer a diferença entre comer e não comer, os pais agora têm de tirar dinheiro do bolso para garantir a integridade dos filhos na porta da escola.

Um segurança particular foi contratado depois que uma bala perdida atingiu a cabeça de uma menina de 11 anos, no primeiro dia de aula, em fevereiro. Não foi a primeira vez que problemas na vizinhança interferiram na vida escolar. Isto, a propósito, é o que mais tem preocupado e alterado a rotina dos colégios da capital e da região metropolitana.

Tiroteios, tráfico de drogas, assaltos e algazarra nos bares próximos são os problemas que mais transpõem os muros das escolas. O tiro que atingiu de raspão a estudante foi disparado por um dos dois rapazes, um de 16 anos e outro de 17, que haviam se desentendido na sexta-feira anterior numa lan house perto dali e marcaram o acerto de contas para aquela segunda-feira, na frente do colégio. Foram disparados pelo menos dez tiros, mas só a menina ficou ferida. A direção, os professores e os pais decidiram tomar providências. Os R$ 170 da empresa de segurança são pagos com contribuições voluntárias que pingam de moeda em moeda no caixinha da escola.

A diferença – geralmente a maior parte – é completada pelos professores. A Associação de Pais e Mestres (APM) também paga por mês R$ 100 do monitormento eletrônico. Três vigias se revezam na entrada e na saída dos turnos da manhã e da tarde. O diretor Almir Rogério Bezerra acredita que logo será preciso mais um vigia para o turno da noite. Recentemente um rapaz de 19 anos entrou armado no colégio atrás de um estudante para fazer um acerto de contas. Segundo Almir, desde a contratação do segurança não houve mais registros de violência durante o dia. "Só a presença dele já inibe", diz. O colégio tem 1, 4 mil alunos nos três turnos.

Os mesmos problemas acontecem na vizinhança do Colégio Estadual Helena Kolodi, em Colombo, também na região metropolitana de Curitiba (RMC). Ali, os assaltos freqüentes e o assassinato a facadas de um ex-aluno, em maio do ano passado, levou a direção da instituição a criar o Fórum Permanente de Combate à Violência Alexandre de Lima Moraes – o nome é uma homenagem ao rapaz morto aos 21 anos. Desde então os diretores dos 21 colégios estaduais de Colombo se reúnem quase toda semana com lideranças políticas e comunitárias para discutir melhorias na segurança. Um dos resultados desses encontros semanais será o 1.º Seminário Municipal sobre Educação e Violência, que ocorre de 17 a 19 de agosto.

O seminário discutirá os diversos tipos de violência na sociedade – contra a criança, a mulher, contra idosos. A carta final do evento será encaminhada à prefeitura e ao Ministério Público. "Os problemas são muitos e precisamos discuti-los com urgência", diz o diretor do colégio e idealizador do fórum permanente, Adão Aparecido Xavier. Segundo ele, não bastassem os inúmeros assaltos a alunos, há muitos bares nas imediações. Este é outro problema bastante comum no Paraná. Bares funcionam a qualquer hora do dia ou da noite, num flagrante desrespeito à lei estadual que proíbe a venda de bebidas alcoólicas perto de escolas.

Não só os bares, mas também locais públicos ou particulares usados para o tráfico ou o consumo de drogas se tornaram um estorvo para as escolas. Episódio recente ocorrido no Colégio Estadual Apóstolo São Pedro, no bairro Xaxim, ao sul de Curitiba, revela que o perigo se estende a qualquer pessoa que esteja por perto. Adolescentes consumiam drogas na Praça 1.º de Maio, ao lado do colégio, quando souberam que alguém havia chamado a Polícia Militar. Um deles, acreditando que o aviso partiu da escola, de arma em punho tentou tomar satisfações com a diretora. Na fuga, roubou o primeiro carro que viu na frente.

Passava pouco do meio-dia quando a comerciante Míriam Rebhain Rosa da Silva foi abordada pelo rapaz na porta do carro, na frente do colégio. Ela acabara de comprar ração no pet shop de sempre e demorou a perceber a aproximação do jovem. "É um assalto", disse ele, sorrindo com ar meio grogue. "Ah, que assalto", disse ela, pensando se tratar de brincadeira. Nova investida e novo aviso: "É um assalto". Desta vez a arma apontada para a cabeça não deixou dúvidas. Míriam entregou o carro, que mais tarde seria encontrado dois quilômetros adiante, onde chocou-se com outro veículo. Dor de cabeça também para o dono do outro carro, já que a seguradora de Míriam não aceitou pagar o conserto porque não era ela a causadora do acidente.

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