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Pesquisa

Vizinho incomoda mais do que motor e buzina na rua

Abel Braga faz várias mudanças no Internacional | Albari Rosa / Gazeta do Povo
Abel Braga faz várias mudanças no Internacional (Foto: Albari Rosa / Gazeta do Povo)

Pior que o barulho do trânsito, gerado por carros, ônibus e até trens, só mesmo o barulho que vem da casa ao lado. Uma pesquisa da Universidade Federal do Paraná (UFPR), de 2002, mostrou que nada tira mais o curitibano do sério do que a bagunça dos vizinhos associada ao ruído de animais, sirenes e construções. "A população aumentou e, conseqüentemente, os ruídos de vizinhança também", explica o coordenador do Laboratório de Acústica Ambiental-Industrial e Conforto Acústico da UFPR e responsável pela pesquisa, Paulo Henrique Trombetta Zannin.

Todas as 860 pessoas entrevistadas em Curitiba apontaram pelo menos um dos itens da vizinhança como geradores de barulho (vizinhos, animais, sirenes, construção civil, templos religiosos, casas noturnas, brinquedos e eletrodomésticos). "As fontes de ruído agrupadas como geradas na vizinhança são mais significativas para a comunidade que o ruído do trânsito", afirma o professor. O trânsito foi apontado por 73% dos entrevistados.

Todo esse barulho pode estar afetando a saúde do curitibano: 58% dos entrevistados disseram ficar irritados com o barulho, 42% têm baixa concentração, 20% sofrem de insônia e 20% têm dor de cabeça.

Não são as casas noturnas nem templos religiosos que mais incomodam, mas o próprio cidadão que mora ao lado. "Parece que a minha vizinha do apartamento de cima faz mudança toda noite. Na quinta-feira fui dormir à 01h30", reclama a aposentada Terezinha Maria Simonato, de 73 anos. As tentativas de conversar e resolver o problema acabaram frustradas.

É no momento de conflito que entra a figura do síndico para apaziguar os ânimos. "Há aqueles que se incomodam por um barulho mínimo e os que não respeitam o silêncio", explica a síndica Siomara Freitas Kaltowski. Ela comanda um maiores condomínios de Curitiba, o Parque Residencial Fazendinha, com 32 prédios e 2,6 mil moradores e ouve reclamações diárias de barulho. As mais comuns são a vizinha que anda de salto alto e os moradores que deixam o cachorro o dia todo sozinho no apartamento. "Tem também o que chamo de ‘barulho noturno’, quando as pessoas vêm aqui reclamar do casal de cima durante a noite", diverte-se.

Os condomínios tentam criar algumas regras de convivência. A primeira é conversar com o vizinho barulhento. Se não funcionar, envia-se uma notificação por escrito. O último recurso é a multa. "Cobramos R$ 50. Se houver reincidência, reaplico a multa", diz Siomara. Na opinião do proprietário de uma empresa que administra condomínios, Paulo César Dantas, se houver a reclamação de mais de um vizinho é porque o ruído já está incomodando. Ele lembra de um caso em que o morador chegou a vender o apartamento por causa do incômodo que a vizinha causava ao tocar piano. Como síndico do prédio, Dantas intermediou a discussão. "A função do síndico é essa mesmo, mediar os conflitos que aparecem."

Para os que moram em casas, porém, muitas vezes a saída é chamar a polícia. Foi o que fizeram por cinco vezes, em menos de seis meses, os vizinhos de uma república de estudantes, no bairro Jardim das Américas. Após festas que duraram a noite toda e já reuniram 115 pessoas no imóvel, os cinco universitários pretendem mudar de atitude. "O vizinho da casa ao lado falou que estava estudando para um concurso num sábado à tarde e baixamos o som. Seria bom se eles viessem até nós para conversar", opina o estudante André Marega Pinhel, 21 anos.

Para o advogado paulista Waldir Miranda, autor do livro Perturbações Sonoras Nas Edificações Urbanas, a conscientização da população sobre os danos causados pelo barulho excessivo tem aumentado. Especialista em locação predial, Miranda pesquisou as leis e decisões judiciais brasileiras sobre o assunto. "A lei do Brasil é muito rigorosa, mais do que a americana e as de países europeus. O duro é que ninguém vai atrás."

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