Boa Vista tem a UPA mais lotada por gente de fora
No último dia 7 de julho, o metalúrgico Cláudio Aguiar de Moura, de 25 anos, fez um movimento brusco durante o trabalho que lhe "travou" o pescoço. Apesar de morar e trabalhar próximo a um posto de saúde de Colombo, ele procurou socorro na UPA do Boa Vista, em Curitiba, com fortes dores. "Lá é muito cheio. Lotado demais. É bem ruim o sistema lá, por isso a gente vem pra cá", disse, enquanto aguardava o médico.
Pacientes como Moura são comuns na UPA do Boa Vista, unidade de Curitiba que mais recebe pessoas que residem em outras cidades. Em uma semana entre o fim de junho e o início de julho o posto somou 2.733 atendimentos. Mais de 15% (427 pessoas) não eram moradores de Curitiba.
Segundo a coordenadora da unidade, Tânia Maas, em algumas semanas o número de pacientes de outras cidades chega a superar o de curitibanos socorridos na UPA do Boa Vista. "Como esses pacientes não são de Curitiba, gera uma dificuldade na continuidade do atendimento. Eles mesmos acabam prejudicados", diz.
"O ideal é que as pessoas sejam atendidas nas unidades básicas de saúde, perto de suas casas. Lá, vai se estabelecer um vínculo médico, vai haver um histórico", complementa a chefe de enfermagem Cilemar Faustin dos Santos.
Não existem dados estatísticos, mas médicos e enfermeiros da unidade apontam que a maioria do atendimento não diz respeito a casos emergenciais. Portanto, poderiam ter sido resolvidos ou prevenidos nas unidades básicas de saúde. Na classificação de risco [dos atendidos pelas UPAs], a grande maioria dos pacientes apresenta situações simples, como resfriados, febres, além de situações crônicas, como hipertensão e diabetes, que deveriam ser resolvidos pela atenção básica.
Um em cada dez pacientes atendidos nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Curitiba não provêm da capital paranaense, mas de cidades da Região Metropolitana. Esta migração contínua provoca um fluxo não programado às unidades concebidas para receber casos de urgência e emergência da população do próprio município e acaba sobrecarregando o sistema de saúde pública.
INFOGRÁFICO: Quase metade dos pacientes atendidos nas UPAs vêm da região metropolitana
Em junho deste ano, por exemplo, as UPAs atenderam 9,5 mil pacientes que não residem em Curitiba, o que representa 9,9% do total dos pacientes no período. O número de procedimentos e consultas equivale à produtividade média de uma unidade da capital. Por isso, estima-se que o atendimento de moradores de outras cidades custe à capital cerca de R$ 1,8 milhão por mês o custo médio de manutenção da UPA do Boa Vista, incluindo médicos, funcionários, medicamentos e limpeza.
Ou seja, se Curitiba não recebesse pacientes de outras cidades, seria possível que o município mantivesse uma nova UPA. "A vinda sistemática de pessoas de outros municípios para as UPAs, sem processo de regulação e ou pactuação, cria uma grande demanda não programada, que acaba por superlotar as unidades e prejudicar o atendimento de todos", afirma o secretário de Saúde de Curitiba, Adriano Massuda.
A maior parte dos pacientes de outras cidades provém de Colombo em junho, foram mais de dois mil moradores deste município, o equivalente a 21,3% dos atendimentos externos. De Almirante Tamandaré, as UPAs de Curitiba receberam 971 pessoas no mês passado (10,2% do total). De Pinhais, foram 887 pacientes (9,3%). As unidades do Boa Vista, Cajuru e Campo Comprido são as que mais absorvem a demanda da região metropolitana.
Explicações
Entre as hipóteses apontadas por secretários de saúde para explicar porque tantos moradores de outras cidades procuram cuidados médicos de emergência em Curitiba, destacam-se dois pontos: a proximidade de alguns municípios em relação às UPAs da capital e a percepção de que os serviços prestados nas unidades curitibanas são de melhor qualidade.
"A gente possui várias pessoas que estudam e trabalham em Curitiba e vêm a Colombo apenas para dormir. O vínculo delas é com Curitiba. Por essa proximidade, acabam procurando atendimento lá [em Curitiba]. Ou então, a busca ocorre por uma percepção de uso, de que aquilo é melhor", avalia o secretário de Saúde de Colombo, Fernando de Andrade Aguilera.
Apesar disso, Aguilera defende a qualidade do sistema de saúde do município e ressalta que essa migração é normal e está dentro da pactuação dos municípios com o Serviço Único de Saúde (SUS). "O SUS é universal e qualquer pessoa pode acessar este serviço gratuitamente. Da mesma forma, a gente também atende pessoas de outros municípios. É preciso que a gente encare esse fenômeno com naturalidade e faça um encontro dessas contas", diz o secretário de Colombo.
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