Atravessar ruas fora da faixa de pedestre é uma questão cultural e de educação. Diante disso, aponte o dedo quem nunca aproveitou a rua vazia ou aquele momento de pressa para cruzar o asfalto sem se preocupar com o local de passagem. E você? Quantas vias atravessou fora da faixa na última vez que andou pela cidade? Às vezes, trata-se de uma ação tão inconsciente que chega a ser difícil evitá-la. Por mais que o risco pareça estar distante, situações semelhantes provocaram 344 atropelamentos em Curitiba nos primeiros cinco meses de 2010.
Ao todo, segundo o Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), 400 pessoas ficaram feridas e cinco morreram nesses acidentes. No ano passado, foram 896 atropelamentos, com 884 feridos e 12 mortes. Fora da faixa, quase que a diarista Lucineia Fabizak também entrou para as estatísticas na última terça-feira. Por um triz ela não foi atropelada por um motociclista na Rua José Loureiro, no Centro. "Ai que susto. Meu Deus, foi por pouco. É a pressa para chegar em casa", disse, aliviada. A pressa, a ausência de carros na rua e a vontade de cortar o caminho são as principais desculpas dos pedestres para não usar a faixa.
O ranking de atropelamentos na capital é liderado pelas avenidas Sete de Setembro e República Argentina e pela Rua Mateus Leme. O BPTran não informou quantos acidentes aconteceram em cada uma. "São ruas extensas que têm um fluxo muito grande de ônibus, veículos e pedestres. A travessia de pessoas é constante, mesmo fora da faixa, o que acaba pegando os condutores desprevenidos", afirma o tenente do BPTran Silvio Cordeiro.
Campanha
Para inibir a travessia errada, diminuir as estatísticas e conscientizar a população, o BPTran lançou, nesta semana, uma campanha que vai passar por 50 pontos de Curitiba nos próximos dois meses. O objetivo é fazer com que motoristas e pedestres respeitem a faixa de segurança e a sinalização. "É importante que o pedestre use a faixa. Infelizmente as pessoas insistem em atravessar ao longo da via, o que geralmente resulta em atropelamentos", conta Cordeiro.
A presidente da Associação Paranaense de Vítimas de Trânsito (Apavitran), Shenia Samira Nassin, aprova a campanha. "Isso é necessário. Atravessar fora da faixa é uma questão de educação. É cultural. Eu penso que para reverter isso o início deve partir de campanhas educativas", avalia. Ela afirma que, além de ações como essa, é preciso investir em um observatório de acidentes que contabilize e acompanhe todos os casos para que se tenham dados e estatísticas concretos para alertar a população.
Para a psicóloga Iara Thielen, coordenadora do Núcleo de Psicologia do Trânsito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a campanha é um começo para solucionar um problema que envolve vários fatores. Além da cultura e da educação, ela lembra que há carência de semáforos e sinais para pedestres em muitas vias, o que aumenta a insegurança do pedestre. "Começar esse tipo de campanha sem dúvida é importante. Para mudar um hábito é preciso um conjunto de ações. Precisamos preparar as pessoas para conviver no trânsito", afirma.
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Interatividade
Como educar pedestres e motoristas para uma melhor convivência no trânsito, favorecendo a diminuição dos acidentes?
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