Abrangência
Problema não está restrito a colégios estaduais
A Escola Municipal Irmã Maria Eufrásio Torres, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, atende 400 alunos e começou a ser reformada na metade de janeiro passado. Por causa das chuvas recorrentes, a obra deve ser concluída apenas em abril. As aulas começam na próxima sexta-feira e os alunos vão se deparar com uma dura realidade: a biblioteca está vazia, com os livros encaixotados, e os computadores do laboratório foram levados para a prefeitura provisoriamente, já que a sala de informática virou depósito de sacos de cimento.
"A obra era para começar logo que terminasse o ano letivo de 2010, mas iniciou apenas na metade de janeiro deste ano", afirma o pedagogo da escola Diego, Martins Cordeiro. E o problema não para por aí. Os livros didáticos novos, que ficavam na biblioteca, foram parar em um depósito, mas precisam ser distribuídos aos estudantes. Além disso, depois de terminar a reforma do primeiro bloco da escola, haverá licitação para começar a manutenção do outro bloco e, por isso, os alunos continuarão no improviso.
A Secretaria Municipal de Educação respondeu, por e-mail, que a escola necessitava "de uma grande reforma do telhado, o que só se viabilizaria no período de férias escolares" e que "as obras foram começadas com o conhecimento de que não estariam prontas para o início das aulas, pois seriam necessários mais de 30 dias para sua execução."
Em vez de professor, pedreiro
O interior do Paraná tem 192 escolas estaduais em reforma nas vésperas do início das aulas. As regiões de Londrina, Maringá, Ponta Grossa e Foz do Iguaçu concentram 11 delas. Em Paiçandu, nas proximidades de Maringá, no Noroeste do estado, a Escola Estadual Neide Bertasso Beraldo enfrenta a falta de espaço há duas décadas. Atualmente, um único prédio atende tanto os estudantes do Neide Beraldo quanto da Escola Municipal Professor Pedro Françoso.
70% das escolas precisam de reforma
Além dos 210 colégios estaduais que passam por reforma ou ampliação atualmente, outros 1,5 mil necessitam de algum tipo de intervenção. Total equivalente a 70,2% das 2.136 escolas estaduais do Paraná. Segundo o superintendente de Desenvolvimento Educacional da Secretaria de Estado da Educação (Seed), Jaime Sunye Neto, a Defesa Civil notificou essas escolas por apresentarem problemas de segurança e de acessibilidade. Há ainda 650 unidades, de acordo com um relatório da Copel, que estão com o quadro de luz inadequado. "Acredito que em junho poderemos dizer quanto tempo vamos precisar para regularizar tudo isso", afirma Sunye.
O material escolar tinindo de novo na mochila de muitos alunos de 210 escolas estaduais do Paraná não vai combinar com a situação encontrada pelos estudantes na volta às aulas, na próxima terça-feira. Isso porque as escolas ainda estão em reforma, passam por ampliações ou estão concluindo a construção de quadras poliesportivas. O total representa 10% das 2.136 unidades da rede estadual de ensino. Como consequência, os estudantes terão de conviver por algum tempo lado a lado com o barulho, a poeira e com algumas salas de aula montadas no improviso.
Em Curitiba, dos 165 colégios estaduais, 18 estão em reforma. Um exemplo é o Escola Estadual Francisco Azevedo Macedo, no bairro Novo Mundo. Em 22 de abril do ano passado, a chuva destelhou a escola e danificou algumas salas de aula, a estrutura elétrica e tacos do piso. Apesar de a escola ter ficado durante o segundo semestre de 2010 em reforma e estar com as salas prontas, os alunos ainda vão encontrar o cheiro de tinta porque parte das paredes não foi pintada assim como os tacos do chão não foram remontados e a reforma dos banheiros não foi concluída.
A situação é ainda pior na Escola Estadual Arlindo Carvalho de Amorim, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Totalmente depredada, há quatro anos a administração brigava por uma reforma que vai iniciar justamente na semana em que começam as aulas. O diretor do colégio, Sérgio Gomes, está feliz com a notícia da reforma, esperada por tanto tempo. "Só a administração vai ficar no prédio com os pedreiros. Os alunos continuam no edifício ao lado, que é novo e ficará isolado", diz.
No imóvel novo, porém, a escola funciona improvisada porque o número de alunos é grande para a quantidade de salas. O diretor foi forçado a dividir as turmas em quatro turnos: manhã, intermediário pela manhã, tarde e noite. Além disso, o edifício antigo, que será reformado, fica ao lado do novo e está com o pátio abandonado e cheio de entulhos. "Não tínhamos como começar a obra nas férias porque o contrato só foi assinado agora, esta semana", afirma Gomes.
Mais cimento e areia estão espalhados na Escola Estadual Pedro Macedo, também em Curitiba, que começou a reforma em 2009 e até agora não terminou. Atualmente, a obra está parada, há material de construção no pátio e a previsão é de que ela retorne neste ano. Há uma quadra poliesportiva que precisa ser terminada e a sala dos professores está sem o telhado. Um prédio incorporado ao colégio também passa por reformas, onde há salas de aula em manutenção. Por causa dos empecilhos, o colégio reduziu o número de vagas ofertadas para dar conta da reforma e das aulas ao mesmo tempo.
Justificativa
A mudança de governo é a explicação para que as obras estejam na atual situação. Segundo o superintendente de Desenvolvimento Educacional da Secretaria de Estado da Educação (Seed), Jaime Sunye Neto, foi feito o possível para adiantar as reformas, mas além do período de moratória, houve outros empecilhos. "Passamos por alguns meses de fortes chuvas que atrasam o cronograma. Algumas empreiteiras acabaram segurando as obras porque houve especulações de que o governo atual não pagaria os contratos antigos, o que não é verdade", afirma Sunye.
O superintendente lembra que a Seed precisa aumentar em cinco vezes o número de engenheiros contratados para agilizar as obras, inclusive as que nem começaram. "As escolas que estão em reforma devem ficar prontas em três meses, mas queremos adequar 500 colégios para o ensino integral e vamos precisar mexer na estrutura física deles também", diz. A intenção, segundo Sunye, é melhorar ainda o processo de manutenção durante todo o ano, pois, quando isso é bem feito, há menos necessidade de grandes obras. "Uma infiltração, por exemplo, pode ser evitada se a telha quebrada for imediatamente substituída", explica.
Primeiro contato
O especialista em Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Angelo de Souza afirma que nada justifica a ineficiência do poder público em não dar condições de infraestrutura ao ensino. "Há um certo mito de que o bem capital é caro, mas não é. O que encarece é o recurso humano, que chega a três quartos do custo educacional. Não dá para aceitar que a primeira experiência de um aluno, que começa a frequentar uma destas escolas, por exemplo, se dê em um espaço inadequado", afirma Souza.
Além do problema de segurança, Souza lembra que crianças com alergia ao cheiro da tinta, por exemplo, podem ser afetadas com a reforma. "A escola precisa estar pronta antes de começar o ano letivo. E está previsto na LDB [Lei de Diretrizes e Bases] que é possível alterar o calendário escolar para que a escola possa se adequar às reformas necessárias", lembra.
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Interatividade
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