As ruas de Curitiba já têm data marcada para voltarem a ficar congestionadas. A partir da próxima quinta-feira, 377 mil estudantes das redes de ensino municipal, estadual e privada iniciam o ano letivo. A estimativa da Secretaria Municipal de Trânsito (Setran) é que o fluxo de veículos aumente em 30%.
O porcentual é uma média histórica e não permite sinalizar quantos automóveis estarão ao mesmo tempo nas ruas. Mas basta o motorista sair com o carro da garagem para entender, na prática, o efeito de mais veículos em vias que, mesmo na época de férias, ficam esgotadas nos horários de pico.
O crescimento da frota também desafia a mobilidade na capital. Somente no último ano, 28,3 mil automóveis foram adquiridos em Curitiba, atingindo a marca de 914,3 mil carros (excluindo motos, ônibus e caminhões). Os números evidenciam uma realidade cada vez mais preocupante para urbanistas e gestores públicos: o transporte individual continua sobrepujando o transporte coletivo. Isto em uma cidade que ganhou fama internacional justamente pela criação de uma infraestrutura pioneia para os ônibus.
Com a volta às aulas, quem enfrenta o trânsito diariamente vai demorar um pouco mais para chegar ao destino, principalmente no início da manhã e no fim da tarde as aulas na rede municipal e na estadual começam às 7h30 no período matutino e encerram às 17 horas no vespertino. Isso somado às obras e desvios que já impactam na mobilidade do veículos. Entre as intervenções em andamento estão as readequações das estaçõestubo ao longo da Avenida Sete de Setembro, a interdição parcial da Avenida Vicente Machado e as obras na Avenida Salgado Filho.
Para diminuir os efeitos da volta às aulas no trânsito, a Setran informa que vai monitorar o fluxo nas principais escolas do anel central e enviar agentes assim que houver sinais de interrupção do tráfego.
Segundo o secretário de Trânsito, Joel Krüger, outras medidas adotadas incluirão a reprogramação dos semáforos, conforme o horário e o local dos cruzamentos, e o envio de boletins durante todo o dia para as rádios, com o objetivo de disseminar informações sobre os pontos que devem ser evitados pelos motoristas.
Paliativos
O próprio secretário e especialistas em mobilidade urbana, no entanto, concordam que estas são medidas paliativas, frente ao esgotamento do trânsito na capital. Confira ao lado as principais ações que estão sendo pensadas a curto, médio e longo prazo para Curitiba, envolvendo três áreas consideradas estratégicas: o transporte coletivo, a gestão de tráfego e o incentivo a modais alternativos.
Gestão de tráfego
O uso da tecnologia para o monitoramento e a gestão do tráfego é uma das alternativas mais viáveis para agilizar o fluxo de veículos na capital a curto prazo. Medidas relativamente simples, como a reprogramação dos semáforos conforme o volume de tráfego, podem evitar congestionamentos. A previsão é que o Sistema Integrado de Mobilidade (SIM) de Curitiba, que prevê painéis informativos (alguns já em operação), câmeras de monitoramento e uma central de controle para agilizar a resposta dos órgãos de trânsito, esteja em pleno funcionamento até o fim deste ano. O secretário de Trânsito, Joel Krüger, afirma que a pasta já iniciou estudos para melhorar a sincronização dos semáforos motivo de críticas constantes dos motoristas.
ÔnibusConvencer os motoristas a deixar o carro em casa e migrar para o ônibus tem sido uma tarefa difícil em Curitiba o número de automóveis aumentou 21% nos últimos seis anos, enquanto o de passageiros estagnou em 309 milhões de pagantes por ano desde 2010. Discussões sobre melhorias no conforto dos ônibus e aumento da frota e da frequência, principais reivindicações dos usuários, têm sido deixadas de lado frente a uma questão básica, ainda sem resposta: como tornar o sistema financeiramente viável. A prefeitura tenta manter o subsídio estadual ao transporte, enquanto se prepara para iniciar as discussões sobre o reajuste na tarifa. No campo das ações práticas, a Urbs cogita implantar faixas exclusivas para ônibus em algumas ruas de Curitiba para tentar retirar os veículos do congestionamento. A medida está na fase de estudos e é vista com simpatia por especialistas.
Ciclovias
A expansão da rede cicloviária atual, de 120 quilômetros, é uma das prioridades da prefeitura da capital. Ainda não há prazos, porém, para que o incentivo à bicicleta evolua do discurso para ações práticas. O secretário de Trânsito, Joel Krüger, afirma que a pasta trabalha em conjunto com o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) para projetar as novas ciclovias, que devem formar uma malha total de 300 quilômetros. A expectativa é que, até o próximo ano, os projetos estejam prontos, para aí sim começar a busca por recursos. Paralelo à expansão da rede, a Setran promete criar também espaços de apoio aos ciclistas, como bicicletários e vestiários públicos. Outra demanda, defendida pela Comissão de Urbanismo e Obras Públicas da Câmara de Vereadores, é que parte das ciclovias sejam instaladas junto às canaletas de ônibus, para aproveitar os eixos estruturantes do transporte.
Metrô
O sistema metroviário é uma solução um pouco mais demorada. Não apenas pelo tempo de construção, mas também devido às incertezas que ainda rondam o projeto, que teve os recursos anunciados no final de 2011. Uma comissão foi instaurada pela prefeitura mês passado para analisar a necessidade de mudanças e a viabilidade do projeto. A expectativa é que, logo após o carnaval, o grupo apresente algum parecer. Segundo o prefeito Gustavo Fruet, a previsão é lançar o edital ainda neste primeiro semestre. O orçamento inicial da obra gira em torno de R$ 2,33 bilhões. O projeto prevê 14,2 quilômetros de metrô, da CIC-Sul até a Rua das Flores, no Centro, a serem construídos ao longo de quatro anos. "O metrô é uma boa alternativa, mas sozinho não funciona. Precisa ser interligado com outros modais. Se o ônibus já não para na porta de casa, o metrô muito menos", alerta o professor do Departamento de Transportes da UFPR Garrone Reck.