Grevistas dos Correios fizeram passeata pelo centro de Curitiba| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

Descuido humano

Bombeiros e montanhistas concordam quando se fala em uma possível causa para o incêndio no Pico Paraná. "Acredito seja causa humana, principalmente por a situação toda ter início no domingo, que é quando há um maior número de visitantes no parque. Mas não sei exatamente se foi balão, fogueira ou até mesmo um cigarro", afirma o major Rircado Silva, do Corpo de Bombeiros.

"A maior probabilidade é ter sido um descuido humano", completa o consultor de turismo de aventura e presidente da Federação Paranaense de Montanhismo (Fepam), Ronaldo Franzen. (ACB)

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Desde o último domingo, um grupo de montanhistas sobe diariamente os morros Getúlio e Caratuva, localizados no Parque Estadual do Pico Paraná, na Serra do Mar. Acostumados a enfrentar as trilhas da região em busca de lazer e contato com a natureza, desta vez os aventureiros sobem as encostas das montanhas por outro motivo. Eles são voluntários no combate ao incêndio que se alastra pela região.

A preocupação com a preservação da área e a indignação com o descuido de visitantes que podem ter causado o início do fogo fizeram até mesmo com que abandonassem compromissos pessoais para se colocarem ao lado dos bombeiros. "Temos de proteger o parque porque os maiores picos do sul do país estão ali", explica o analista técnico e montanhista há três anos, Wilson Rulka Ceslak.

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A mobilização começou logo que o fogo foi detectado. Os primeiros a perceberem as chamas foram alguns visitantes que passavam o feriado acampados no parque e o proprietário da Fazenda Pico Paraná, que dá acesso ao parque estadual, Dilson Serighelli. O grupo, preocupado com a proporção que o incêndio tomava, deu início a uma espécie de corrente do bem, avisando amigos e conhecidos através de ligações e e-mails. Enquanto isso, Serighelli acionava pela primeira vez o Corpo de Bombeiros.

A partir de então, o objetivo em comum de salvar os morros uniu bombeiros e montanhistas em um trabalho "cansativo e lento", como eles próprios definem. Para ajudar no combate ao fogo, mais de 20 montanhistas se revezam para subir as encostas dos morros, somando-se aos cerca de 50 bom-beiros que se encontram na região desde o início do incêndio. "Os que não podem ir durante o dia, se mobilizam para ir à noite", conta o técnico em informática e montanhista há 22 anos, Élcio Douglas Ferreira.

Apesar do trabalho árduo, desenvolvido em conjunto, durante a semana o fogo consumiu todo o Morro do Getúlio, estendendo-se ao Morro do Caratuva e seguindo ainda para os outros morros da região, como o Taipabuçu e o Itapiroca. O trabalho dos voluntários consiste em servir como apoio para os bombeiros, já que a maioria não tem conhecimento suficiente para enfrentar o fogo diretamente.

Durante a semana, o fogo foi controlado, mas o perigo continua. Folhas e material orgânico depositados no solo e entre as pedras das encostas ao longo do tempo continuam pegando fogo, gerando um incêndio quase subterrâneo, ainda mais difícil de ser combatido.

Segundo o comandante do Grupo de Operações e Salvamento Tático do Corpo de Bombeiros, major Samuel Prestes, a corporação conta com nove homens pernoitando todas as noites no cume do Morro do Caratuva para monitorar e combater os focos de incêndio, além do apoio dos montanhistas.

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O Corpo de Bombeiros reconhece a importância da ajuda dos voluntários, mas esclarece que esse trabalho deve ser ordenado. "A ajuda é muito bem-vinda e importante no momento, mas os montanhistas têm de saber se irmanar na operação e obedecer as nossas orientações para que a gente não tenha que se preocupar com a segurança deles", explica Prestes.