Mãe e filha dividem a sala de aula em Foz do Iguaçu: aproximação com os pais ajudou no bom rendimento das escolas| Foto: Marcos Labanca/Gazeta do Povo

Envolvimento

Mediação familiar é um dos segredos de Foz do Iguaçu

Além de ter tido a maior nota do Ideb 2011, Foz do Iguaçu colocou 15 escolas que atendem alunos com baixo perfil socioeconômico na lista da Fundação Lemann. Para a secretária da Educação, Shirlei Ormenese de Carvalho, a mediação de conflitos familiares ajudou os alunos a terem bons desempenhos na avaliação. "Além de contraturno escolar e reforço, agimos com as famílias em regiões carentes. A Lagoa Dourada, por exemplo, era uma favela que foi reurbanizada. Na Santa Rita de Cássia (escola com maior nota do Ideb no país, 8,6) nosso melhor aluno morava numa favela e tivemos de negociar com a mãe para ele fazer o Ideb." Elisangela Racouto Araújo tem três filhos matriculados na Escola Municipal Professora Suzana Moraes Balen, em Foz do Iguaçu, e diz que o comportamento dos pais mudou, acompanhado a mudança no atendimento da escola. "Muitos pais agora conversam com os professores quase que diariamente. Meus filhos melhoraram muito de desempenho", diz a artesã de 32 anos.

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Exemplo

Escola de Apucarana atinge 100% de nível adequado em matemática

O envolvimento dos pais foi fundamental para que a Escola João Batista, em Apucarana, conseguisse que 100% dos seus alunos tivessem o chamado "conhecimento adequado" em matemática na última Prova Brasil. Em Português, esse porcentual ficou em 88% – bem acima da média estadual para o quinto ano do ensino fundamental (45%).

"No início, tivemos de usar a tática de convidar os pais para eventos. Porque quando eles sabiam que era para tratar de problemas, não vinham. Agora, eles já estão habituados e até o telefone dos professores têm", conta Maria Rosina de Oliveira, professora da escola.

Para chegar ao nível sonhado pelo Ministério da Educação em matemática, Maria Rosina revela que teve de mudar o conteúdo e instituir reforços escolares. "Passamos a adotar problemas concretos no ensino em todos os anos e o reforço no contraturno". Em 2011, 33% dos alunos brasileiros do Ciclo 1 do Fundamental atingiram o adequado em matemática.

O que é o Ideb

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica é um indicador de qualidade educacional que combina informações do desempenho em exames como a Prova Brasil ou o Saeb, obtidos por alunos ao final das etapas de ensino (5º e 9º anos do fundamental e 3º do médio), com o rendimento escolar (aprovação).

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A chave do sucesso

O coordenador de projetos da Fundação Lemann, Ernesto Faria, apontou as parcerias de secretarias e escolas como instrumento fundamental para o bom desempenho de municípios como Sobral, no Ceará, e Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná, entre os mais bem avaliados no estudo. As cidades tiveram, respectivamente, oito e 15 instituições entre as 215 selecionadas. "O que vimos de diferente é que não basta cobrar de cima para baixo. As secretarias precisam ser parceiras e dialogar para apontar o melhor caminho, não apenas apontar erros."

Mudança na linha pedagógica, reforço escolar e participação dos pais. Essas foram as principais estratégias adotadas pelas 31 escolas paranaenses que atendem alunos em regiões de alta vulnerabilidade social, mas que obtiveram desempenho acima da média no último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), de 2011. As instituições foram mapeadas pela Fundação Lemann e compõem um quadro de 215 unidades educacionais que nadaram contra a maré para oferecer uma educação de qualidade aos seus estudantes.

INFOGRÁFICO: Veja os estados onde ficam as escolas

Foz do Iguaçu, no Oeste do estado, teve 15 escolas das 31 unidades selecionadas pelo estudo no Paraná. Uma delas é a Professora Suzana Moraes Balen, onde os pouco mais de 230 alunos matriculados no ciclo 1 do ensino fundamental (1.º ao 5.º ano) conseguiram superar o baixo perfil socioeconômico e aumentaram de 4,7 para 7,5 a nota no Ideb – ficando 47% acima da sua própria meta e passando as médias nacional (4,7) e estadual (5,4).

A receita para o feito envolveu um trabalho conjunto feito por professores, fonoaudiólogos, coordenadores e assistentes sociais para aproximar os pais da escola. "Muitos desses pais trabalhavam na informalidade na fronteira com o Paraguai, e as crianças faltavam às aulas. Fomos às casas deles, explicamos a importância da educação e agora a participação é maciça", conta a diretora Rozilda Luísa dos Reis.

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Na Escola Municipal São José, em Joaquim Távora, no Norte do estado, onde a meta do Ideb foi superada em 73%, a receita incluiu buscar alunos em suas casas. "Muitos pais trabalham em frigoríficos da cidade e levantam de madrugada para ir trabalhar. Como não tinha ninguém que acordasse o aluno, ele perdia aula", conta Dezuita Vieira de Souza, à época coordenadora da Secretaria da Educação que hoje comanda.

O trabalho na cidade também envolveu a revisão da linha pedagógica. "Em 2005, quando a Prova Brasil foi instituída, fizemos ajustes na matriz pedagógica e criamos novas apostilas", completa.

O Paraná foi o segundo estado com a maior quantidade de escolas no quadro levantado pela Fundação Lemann, atrás apenas de Minas Gerais – com 109 instituições na lista. O perfil socioeconômico foi estabelecido pela fundação de acordo com os questionários respondidos pelos estudantes durante a Prova Brasil e as unidades selecionadas tiveram de apresentar evolução nos últimos três Ideb e, na avaliação de 2011, nota superior a 6 – patamar este esperado pelo governo brasileiro para todas as escolas a partir de 2022.

Perfil social influi na escola, mas pode ser contornado

Os resultados do estudo da Fundação Lemann mostram que é possível contornar os problemas provenientes da alta vulnerabilidade social e alcançar bons resultados em escolas instaladas nesses locais. Essa é a opinião de Antônio Augusto Gomes Batista, coordenador de desenvolvimento de pesquisas do Centro de Estudos e Pesquisa em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), instituição que há 25 anos analisa o ensino público no país.

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"Um dos principais preditores de resultados na educação é a origem social. Isso porque as escolas repetem a sociedade, distribuindo recursos de forma diferenciada quando deveriam fazê-lo de forma igualitária. Mas isso não é uma lei, um destino. O mérito dessa pesquisa é mostrar que toda criança pode aprender desde que sejam dadas as condições para tal."