Os chefes fizeram os quitutes com mais de mil toneladas de alimentos que seriam descartados| Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

Boas práticas

Ceasa cria estratégias e reduz o desperdício

As cinco unidades da Ceasa Paraná comercializam 1,2 milhão de hortigranjeiros por ano. Segundo estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), 30% disso é desperdiçado – os principais fatores são transporte inadequado, colheita antes de hora e manipulação errada. Mas a Ceasa Curitiba conseguiu reverter o cenário. De acordo com Luiz Dâmaso Gusi, diretor-presidente da Ceasa Paraná, o porcentual na cidade caiu para 12%.

"A receita é que temos dado cursos de capacitação de boas práticas de produção, como no processo de caixarias e embalagens. Temos também uma parceria com o Sebrae, que ensina nossos profissionais a fazer uma embalagem melhor, transportar o produto com mais segurança."

Outra iniciativa da Ceasa que reaproveita alimentos é o Banco de Alimentos, programa que estimula a redução do descarte diário. Por dia, cerca de 150 toneladas de frutas, verduras e legumes são reaproveitados. São doados para 160 entidades ­­assistenciais, como casas lares, creches, hospitais públicos, asilos e casas de recuperação.

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Sem fome

O Brasil desperdiça 14,6 milhões de toneladas de alimentos por ano, o que daria para acabar com a fome de 19 milhões de pessoas, segundo a Embrapa. No mundo, conforme a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), 1,3 bilhão de alimentos (30% de toda a produção) vão para o lixo por ano. Diante desse quadro, o Disco Xepa é uma iniciativa do movimento Slow Food, associação internacional que promove o consumo responsável da comida. Iniciado em Paris e Berlim, o evento chegou ao Brasil em 2013.

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Para comemorar o Dia Mundial da Alimentação, o Movimento Slow Food Paraná organizou o 1º Festival Disco Xepa de Curitiba. O evento, que aconteceu na Ceasa Curitiba ontem, reuniu 11 chefes de cozinha de renome, que prepararam pratos com alimentos que iriam para o aterro sanitário. No cardápio, ceviche, ratatouille, guacamole, chips de casca de batata e mais 16 opções. As hortifrutigranjeiras não utilizadas na cozinha foram doadas para famílias carentes da região."A ideia era mostrar que o alimento, apesar de feio, não precisa ser dispensado e pode ser aproveitado, evitando o desperdício", diz o representante regional da organização, Rafael Bonilha.

A Ceasa de Curitiba movimenta 570 mil toneladas de hortifrutigranjeiros por mês. Desse total, 535 toneladas são descartadas no aterro sanitário. Mas a palavra desperdício estava fora do vocabulário dos chefes e dos mais de 50 profissionais envolvidos. Até a parte branca da melancia, geralmente jogada fora, virou sobremesa.

"Você pode aproveitar tudo dela. Da semente à parte branca. Esta última você pode usar, inclusive, para substituir o pepino da salada", ensina a chefe Iracema Bertoco, do Centro Europeu.

O evento foi aberto ao público. A aposentada Maria das Dores de Souza, 68 anos, moradora da região, estava feliz da vida. "Já comi não sei quantas vezes isso aqui", disse sorrindo. Nas mãos, segurava um copo de plástico com compota de maçã, feita com a fruta, especiarias, açúcar e gengibre.

Um DJ alegrava os presentes. A música Dança da Vassoura, do grupo Molejo, fez as cozinheiras largarem a panela para acompanhar a letra "diga onde você vai, que eu vou varrendo, vou varrendo, vou varrendo...". Alguns participantes também distribuíram os pratos para os trabalhadores da Ceasa.

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Preparação

A preparação do evento começou na sexta-feira. Mais de dez pessoas da organização ficaram nos lixões da Ceasa – galpões onde os alimentos "ruins" são descartados – à espera de verduras e legumes. "Quando víamos algo que prestava, corríamos para pegar", brinca a chefe Gabriela Carvalho, proprietária do Quintana Café & Restaurante, do movimento Gastronomia Responsável, iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza que alia gastronomia e conservação.

Os alimentos, depois de resgatados, foram transportados para um aparelho de higienização e armazenados em uma câmera fria. Além da preparação e distribuição de pratos, o evento também contou com workshops. Gabriela, por exemplo, proferiu um sobre compostagem, separação de lixo e gastronomia responsável.