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Um mês depois da revogação do aborto como direito constitucional nos Estados Unidos, o YouTube anunciou na última quinta-feira (21) medidas para evitar a desinformação sobre a prática. Associações em defesa da vida desde a concepção, porém, temem como será julgado a veracidade desses conteúdos.
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O termo passou a fazer parte da política contra a desinformação da plataforma no último dia 22 de julho. Desde então, quaisquer vídeos que contenham informações falsas sobre métodos de aborto declarados seguros pelas autoridades, bem como aqueles que promovem métodos "alternativos", serão removidos.
Em nota à Gazeta do Povo, o YouTube informou que revisa continuamente as políticas e produtos à medida que situações e acontecimentos se desenrolam no mundo real. Segundo a plataforma, "é importante conectar as pessoas a conteúdo de fontes autorizadas sobre tópicos de saúde".
"Passamos a remover conteúdo que forneça instruções sobre métodos de aborto inseguros ou promova alegações falsas sobre a segurança do aborto, de acordo com nossas políticas de desinformação médica", informou a empresa.
A plataforma não entrou em detalhes sobre os tipos de mensagens que podem ser excluídos. O porta-voz do YouTube apenas reforçou que serão removidos vídeos que tratam de "crendices", chás abortivos que podem trazer risco à saúde ou que vão contra as orientações das autoridades locais de saúde ou da OMS sobre certas práticas médicas seguras.
Nos vídeos relacionados ao tema, a plataforma vai lançar "um painel de informações para fornecer contexto adicional ao espectadores".
Entre as políticas de desinformação, o Youtube recomenda que não sejam publicados conteúdos que se encaixam em qualquer descrição abaixo:
- Supressão de participantes de um censo: conteúdo que tem como objetivo fornecer informações incorretas sobre o horário, local, meios ou requisitos de qualificação para o censo, ou vídeos que apresentam alegações falsas que podem desencorajar a participação.
- Mídia manipulada: conteúdo que foi editado ou adulterado para enganar os usuários (além de clipes fora de contexto) e que possa apresentar sérios riscos de danos significativos.
- Conteúdo atribuído erroneamente: vídeos que podem representar um sério risco de danos ao afirmar falsamente que imagens de um evento passado fazem parte de um evento atual.
- Promoção de medicamentos, formas de cura ou substâncias perigosas: conteúdo que promova tratamentos ou substâncias nocivas ou que apresentem um risco inerente de lesões corporais graves ou morte.
- Contradição da opinião consensual entre especialistas sobre determinadas práticas médicas seguras: conteúdo que contradiz as orientações das autoridades locais de saúde ou da OMS sobre certas práticas médicas seguras.
Associações pró-vida criticam medidas do YouTube
Entidades nacionais e internacionais pró-vida, como a plataforma VIDA SV em El Salvador, demonstraram preocupação em relação as novas medidas do YouTube. Em entrevista a ACIPrensa, Sara Larin, fundadora e presidente da VIDA SV, informou que "a decisão do YouTube é uma morte anunciada para todo conteúdo que tenta alertar sobre os riscos físicos e psicológicos do aborto".
"Quais critérios o YouTube usará para essa limpeza de conteúdo? O da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Planned Parenthood? Será um expurgo total da posição pró-vida e de um trabalho minucioso de tornar invisível o nascituro", alertou Larin.
O advogado Paulo Fernando Melo, da Rede Nacional Pró-Vida e Pró-Família, disse que a medida anunciada de forma genérica causa "estranheza". Segundo ele, advogados e médicos podem ser censurados por informarem os malefícios causados pelo aborto. "Uma pessoa que vai se submeter ao aborto precisa saber dos riscos", disse.
"Temos uma constituição que assegura a liberdade de expressão e de informação. Essa é uma medida absurda e ditatorial. Você imagina uma associação de médicos católicos que passa um vídeo dizendo as sequelas de um aborto - o médico estaria censurado de dar uma opinião técnica sobre os males do aborto, que é real? Não me parece razoável isso", questionou.
Pelas redes sociais, a deputada federal Chris Tonietto (PL-RJ) chamou as medidas de "controle social" e "autoritarismo. "O mais estarrecedor é a plataforma considerar que omitir os riscos do ab0rt0 é uma proteção à mulher", escreveu a parlamentar.
Denúncias podem derrubar conteúdos a favor e contra o aborto
Em uma reportagem recente da Gazeta do Povo, o YouTube informou que todos os conteúdos precisam seguir as Diretrizes de Comunidade. Para saber se o conteúdo é inadequado ou não, a empresa usa uma combinação de inteligência de máquina e revisores humanos, e também conta com denúncias de usuários para identificar materiais com conteúdo suspeito. "São medidas para manter a comunidade da plataforma segura", diz a rede.
Entre os temas passíveis de análise pela plataforma estão "bullying, assédio virtual, discurso de ódio, spam, práticas enganosas e também desinformação médica sobre a COVID-19, vacinas e desinformação eleitoral".
A plataforma informou ainda que "qualquer pessoa pode denunciar conteúdos que acredite que estejam em desacordo com as nossas regras e, se a equipe de análise identificar violações às diretrizes da comunidade, o vídeo será removido e o canal penalizado, de acordo com a nossa política de avisos".