O Ministério da Saúde vai apresentar nesta quinta-feira (28) à Organização Mundial da Saúde (OMS) os resultados de um novo estudo que aponta que as chances de um bebê ter microcefalia são multiplicadas se a mãe for contaminada pelo zika vírus. Conforme o boletim mais recente, são investigados 3.448 relatos suspeitos de microcefalia e o país já confirmou 270 casos da má-formação. Com perspectivas de que uma vacina só saia em três anos, o governo ampliará o combate ao vetor, o Aedes aegypti, e para isso usará 220 mil militares das Forças Armadas para visitar cerca de 3 milhões de residências.
O debate sobre como lidar com a doença, que se espalha por diversos países, passou a fazer parte das prioridades da OMS nos últimos dias e, nesta quinta, a entidade organiza reunião especial para tratar do assunto. “O mundo inteiro está preocupado”, disse a diretora-geral da OMS, Margaret Chan. Ela fará um alerta inicial no encontro, seguido por uma declaração da diretora da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), além de intervenções do Brasil e dos EUA.
Um dos principais pontos do encontro, porém, será a apresentação da pesquisa que estabelece uma relação entre o zika e a microcefalia pelo diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Claudio Maierovitch. “O estudo mostrará que mulheres contaminadas pelo zika têm um índice de desenvolver microcefalia em seus bebês elevado muitas vezes”, disse o chefe da delegação brasileira nas reuniões da OMS, Jarbas Barbosa.
A busca por estabelecer uma relação entre a má-formação e o vírus também fará parte dos trabalhos conjuntos entre Brasil e Estados Unidos. Ontem em Genebra, Barbosa se reuniu com representantes do governo americano para consolidar a aliança entre os dois países, com destaque para o desenvolvimento de um imunizante.
Barbosa destacou, porém, que uma vacina apenas poderia começar de fato a ser usada em três anos. “O prazo normal de uma vacina é de dez anos para ser desenvolvida”, declarou. Um primeiro grupo de especialistas brasileiros do Instituto Evandro Chagas seguirá para a Universidade do Texas na semana que vem para dar início à cooperação e outras missões seguirão nos próximos meses.
Combate
Enquanto não existe vacina, o governo federal decidiu ontem detalhar a estratégia para ampliar o combate ao Aedes pós-carnaval, mobilizando 60% do efetivo das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica). O anúncio aconteceu dois dias depois de a presidente Dilma Rousseff cobrar demonstrações públicas de ação.
Inicialmente, 50 mil homens atuarão diretamente visitando residências para eliminar focos de proliferação do mosquito e orientar moradores. Essa ação ocorrerá entre os dias 15 e 18 do próximo mês e será articulada em conjunto com o Ministério da Saúde e com os governos estaduais e municipais. Atualmente, há 2 mil militares nas ruas.
A tropa completa, de 220 mil homens, vai ser mobilizada para atuar em uma campanha de caráter educativo, com a entrega de panfletos com orientações à população. A mobilização está prevista para ocorrer no dia 13 de fevereiro e a ideia é visitar 3 milhões de casas em 356 municípios - 115 deles considerados endêmicos.
O Ministério da Defesa também vai colocar homens e mulheres para participar da campanha que o Ministério da Educação vai realizar em escolas.
Depois do puxão de orelha da presidente, os ministros Jaques Wagner (Casa Civil) e Marcelo Castro (Saúde) também iniciaram ontem uma rodada de negociações para comprar repelentes que serão distribuídos a cerca de 400 mil grávidas inscritas no programa Bolsa Família.
Balanço
O Ministério da Saúde informou nessa quarta-feira que há registros de microcefalia em 23 estados e no Distrito Federal e os relatos atingiram 830 municípios no país. São 3.448 casos suspeitos de microcefalia, 270 confirmados - 6 com relação confirmada com o zika vírus - e 462 descartados. Entre 22 de outubro e 23 de janeiro deste ano, o governo oficializou 4.180 notificações - englobando casos em investigação, confirmados e descartados. Também foram registradas 68 mortes durante a gestação ou após o nascimento.
Sobre as mortes que foram contabilizadas, 12 têm relação confirmada com infecção congênita e dez delas aconteceram no Rio Grande do Norte. Outros 51 óbitos estão sendo investigados.
Professor de infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Celso Granato diz que a possível subnotificação dos casos de microcefalia antes do surto, tendo em vista que a notificação não era compulsória, fez com que especialistas em saúde e órgãos como o ministério não tivessem a real dimensão do problema no País.
“É possível que o número de casos já fosse maior, mas estava subnotificado”, explicou o também diretor-clínico do laboratório Fleury.