Vinte e quatro anos após o impeachment de Fernando Collor, o primeiro presidente eleito após duas décadas de ditadura militar, a Câmara dos Deputados decide neste domingo (17) se autoriza a abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. A aprovação, que precisa do apoio de 342 dos 513 deputados, poderá deflagrar o fim da era de 13 anos do PT no poder.
Placar do impeachment: 350 deputados dizem que vão votar pelo impeachment
Caso a Câmara dê o sinal verde para processar Dilma, o Senado precisará decidir nas próximas semanas, por maioria simples, se abre o processo, o que levará ao afastamento imediato da presidente do cargo por até 180 dias. Na luta pelo Palácio do Planalto, Dilma e o vice Michel Temer, que assumiria em seu lugar, passaram o sábado disputando pessoalmente voto a voto o apoio de parlamentares. Ao fim do dia, aliados de ambos diziam ter os votos necessários.
A presidente arregaçou as mangas logo cedo: passou o dia telefonando para parlamentares ou recebendo-os em sua residência oficial, o Palácio da Alvorada. Dilma desistiu de participar do ato com acampados do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e outros movimentos de moradia que defendem seu mandato - não queria prejudicar sua imagem nos setores conservadores do Parlamento dos quais também espera apoio.
Dilma ficou reunida com seus ministros mais próximos e recebeu os governadores do Acre, Tião Viana (PT), do Ceará, Camilo Santana (PT), do Piauí, Wellington Dias (PT) e do Amazonas José Melo (PROS). Os quatro ficaram em contato com deputados de seus estados, pressionando-os para votarem contra o impeachment.
À tarde, Dilma foi ao seu gabinete no Palácio do Planalto, segundo fontes, para buscar um “mapa de votos”. Passou menos de uma hora no prédio e voltou para casa.
Com a voz rouca e aparência abatida, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva representou Dilma no evento do MST e manteve contato, por telefone e pessoalmente, com deputados. No acampamento, Lula comparou as últimas negociações em busca de votos com a “bolsa de valores”, devido ao “sobe e desce” do placar do impeachment. O líder petista intensificou a ofensiva contra Temer e afirmou que o PMDB deve concorrer “nas urnas” em 2018.
“Parece a bolsa de valores, tem hora que o cara está com a gente, tem hora que não está mais. E você tem que conversar 24 horas por dia”, disse.
Neste domingo, Dilma ficará no Alvorada acompanhando a votação, ao lado de ministros, que, por sua vez, tentarão até o último momento obter votos. É provável que a presidente fale à imprensa após o resultado da votação.
Depois de uma viagem relâmpago a São Paulo, onde ficou pouco mais de 12 horas, Temer voltou no sábado a Brasília ainda cedo, preocupado em não perder votos. Antes de embarcar, no fim da tarde de sexta-feira, Temer avisou: “se necessário, me chamem”. Necessário foi e às 9h30 deste sábado, Temer já recebia uma romaria de parlamentares no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente.
Cerca de cem deputados, segundo a contabilidade de peemedebistas, acompanharam as conversas. O vice também resolveu permanecer em Brasília e acompanhar do Jaburu a votação de amanhã. O plano inicial de Temer era ficar em São Paulo até segunda-feira.
Após ter sido pivô de uma das muitas brigas entre Dilma e Temer, que disputavam seu apoio, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab se aliou formalmente a Temer. Após a entrega do pedido de demissão do Ministério das Cidades, sexta-feira à noite, Kassab circulava hoje pelo Jaburu. Mesmo com a saída de Kassab do governo, o clima no PSD não era de unidade em torno do impeachment. Há ao menos oito deputados a favor de Dilma, enquanto outros 28 pelo impeachment.
O novo presidente do PMDB, senador Romero Jucá (PMDB-RR), que substituiu Temer, garantia ter mais que os 342 votos necessários para o impeachment. Jucá passou pela portaria da residência oficial do vice-presidente três vezes. Criticou os deputados que pretendem faltar à votação e disse que é preciso ter “elegância para perder”.
“O dia foi movimentado por conta de boatos plantados pelo governo. Foi um ataque especulativo que não se sustentou. Estamos tranquilos e conscientes da nossa posição a favor da maioria do povo brasileiro. O resultado será favorável com uma boa margem”, disse Jucá.
Articulações de bastidores
Nos corredores da Câmara, deputados iam e vinham de encontros no Alvorada e no Jaburu. Já a oposição tentou constranger a ofensiva do Palácio do Planalto. Além de ações judiciais, os líderes dos partidos a favor do impeachment tentavam conter o trabalho de governadores das Regiões Norte e Nordeste contra o afastamento da presidente.
Na disputa por votos, o Palácio do Planalto tentou reverter apoio de bancadas inteiras, caso do PV, com seis deputados, que já havia fechado questão a favor do impeachment. Numa conversa no Planalto, foi oferecido aos verdes o Ministério do Turismo, mas o partido rejeitou e mantém posição contra Dilma.
Os líderes da oposição acertaram um procedimento para reduzir seus discursos e encurtar a duração da sessão de amanhã. A ideia é que os debates terminem antes do início da tarde, para que a votação, marcada para começar às 14h, não atrase. Dos 170 inscritos da oposição, 67 que já falaram desistiram de discursar novamente. O número restante se igualaria aos cerca de 70 a favor de Dilma.
No governo, a estratégia hoje foi manter sigilo sobre os apoios conquistados porque, segundo um auxiliar presidencial,Temer voltou para Brasília para “partir pra cima” dos indecisos que resolveram votar contra o impeachment e dos que viraram o voto em favor do governo. A caça ao voto vai se prolongar durante toda a manhã deste domingo e se estenderá durante a votação. Os governistas acreditam que há uma “onda pró-governo” e, ao fim do dia de hoje, contabilizavam um placar apertado: entre 171 e 172 votos contra o impeachment.
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