| Foto: Felipe Lima

Se você quer saber como alguém realmente é, tem de observar como essa pessoa se comporta quando não está sendo observada. É o caso do sujeito que respeita o sinal quando o guardinha está na esquina, mas que fura quando não vai ser punido. No caso da Câmara de Curitiba, os vereadores têm se cuidado mais neste ano para justificar suas faltas em plenário. Sabem que estão sendo olhados. Por isso, o melhor jeito de ver o que eles pensam sobre a importância de sua presença no plenário é checando as justificativas apresentadas no ano passado.

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Neste ano, embora o número de faltas abonadas ainda seja absurdamente alto, começaram a aparecer alguns indeferimentos de justificativas. Pelo menos, para as mais esquisitas. O vereador Denílson Pires (DEM), por exemplo, não conseguiu evitar o desconto no salário quando alegou que chegou atrasado por causa de um congestionamento na Linha Verde. Valdemir Soares (PRB) também acabou levando falta quando alegou que o motivo da falta era uma entrevista para a Rádio Atalaia. Mesmo assim, são só dez justificativas indeferidas, contra mais de 130 aceitas em 2012.

No ano passado, justificar uma falta era ainda mais fácil. Prova disso é que, durante o ano inteiro, os vereadores apresentaram 260 razões para faltar às sessões plenárias a que deveriam assistir. E conseguiram abono em absolutamente todas as vezes. Não houve um único indeferimento durante 2011.

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E isso mesmo com algumas justificativas que não justificam nada. Uma tabulação dos motivos apresentados, por exemplo, mostra que em 32 ocasiões os vereadores simplesmente mandaram dizer que tinham "compromissos" previamente agendados e que impediam seu comparecimento à Câmara. Eles não sabiam que não deviam marcar outra coisa para o mesmo horário da sessão? E que "compromissos" são esses que eles nem se dignam a especificar e que são mais importantes do que a sessão plenária?

Não importa: a presidência engoliu todas as justificativas assim mesmo. Assim como engoliu quando em nove outras ocasiões vereadores afirmaram que faltaram ao plenário por motivo de "força maior", de novo sem grandes explicações. Ou quando alegaram, por nove outras vezes, que estavam faltando para fazer algo que era "do interesse da Casa", claro que na maioria das vezes sem nem mencionar do que se tratava. Ou quando, por 19 vezes, admitiram que faltavam por "motivos de ordem pessoal".

Mas o que mudou, afinal, do ano passado para cá? Com a chegada da Lei de Acesso à Informação, os vereadores sabiam que qualquer um poderia pedir as justificativas. Decidiram se antecipar e publicaram tudo no site da Câmara. E agora é possível ver o que eles fizeram nos verões passados. Inclusive quando nem imaginavam que alguém, mais tarde, poderia fuçar em suas justificativas furadas.

Há outras razões: o fato de os vereadores terem entrado em uma série de escândalos trocou a direção da Câmara. E o Legislativo, no olho do furacão, aceitou finalmente punir com desconto salarial quem gazeteia a sessão sem motivo razoável. Agora, é papel do eleitor decidir com base nos dados o que pensa do comportamento do vereador que elegeu quatro anos atrás. E que, certamente, vai estar pedindo seu voto de novo daqui até outubro.