Na própria carne
Piraí do Sul estuda cortar o salário do prefeito e dos secretários
A situação financeira da prefeitura de Piraí do Sul, cidades dos Campos Gerais, estava tão preocupante que a área contábil do município determinou que seria necessário economizar pelo menos R$ 1 milhão até janeiro de 2014. Desse total, cerca de R$ 100 mil teriam que sair da folha de pagamento. Tudo para que o município se adequasse à Lei de Responsabilidade Fiscal. Além do corte da verba para as secretarias municipais e do fim das horas extras, a prefeitura ainda está estudando a possibilidade de mexer no bolso dos políticos municipais. De acordo com a proposta em análise, prefeito, vice e secretários teriam redução de 10% nos vencimentos. Para funções gratificadas, a diminuição seria de 20% dos salários.
O professor de Direito Financeiro Rodrigo Kanayama alerta que a redução dos salários é inconstitucional. "Os prefeitos não podem alterar o vencimento de servidores. Se querem economizar, têm que cortar comissionados ou evitar novas contratações", diz.
Pelo menos 20% das prefeituras paranaenses adotaram medidas de contenção de gastos para não fechar o ano no vermelho. Levantamento feito pela Gazeta do Povo com associações de municípios de todo o estado indica que no mínimo 80 cidades apertaram os cintos com atitudes que vão do simples corte do cafezinho à demissão de funcionários. Boa parte dos municípios que acenderam a luz vermelha tem população reduzida e depende de repasses da União para sobreviver. Eles temem não poder pagar o 13.º salário do funcionalismo, além de sofrer sanções do Tribunal de Contas ou ser enquadrados na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) se não cortarem os gastos até dezembro.
Uma das medidas mais utilizadas pelas prefeituras para reduzir custos, a redução da jornada de trabalho de servidores municipais e comissionados, vem sendo questionada pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR). A ideia das prefeituras é que, com carga de trabalho menor, o funcionalismo utilize menos os recursos da prefeirura (luz, água, materiais, café) o que implica menos gastos.
Mas o MP entende que a redução da carga de trabalho com a manutenção do salário configura ato de improbidade administrativa e até de enriquecimento ilícito. "No mínimo, é dano ao patrimônio público", diz o promotor Claudio Diniz, do Centro de Apoio ao Patrimônio Público do MP. Apesar da recomendação do MP, o promotor de cada comarca pode decidir se abre ou não investigação nesses casos.
Mesmo assim, prefeituras que haviam adotado o expediente reduzido foram orientadas pela Associação dos Municípios do Paraná (AMP) a procurar outras formas de economizar. O presidente da AMP, Luiz Sorvos, recomenda que os municípios em situação financeira "grave"cortem horas extras e diminuam outros gastos, como o com combustíveis. Se nada der certo, ele ainda orienta os prefeitos a demitir comissionados, servidores indicados politicamente e que não passaram em concurso.
O peso do FPM
A dificuldade para os municípios fecharem as contas no fim de ano é mais sentida em cidades pequenas, que têm como principal fonte de renda os repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), feitos mensalmente pela União. Até setembro, o valor dos repasses aumentou 7,4%. O índice é maior que o do ano passado, mas ainda fica pouco acima da inflação do período e abaixo do reajuste do salário mínimo nacional (9%) valor pago a grande parte do funcionalimo.
Na prática, o aumento no FMP é pequeno para as necessidades das prefeituras, diz o economista François de Bremaeker, do Observatório de Informações Municipais. A estimativa é que 70% dos municípios do Paraná dependam do FPM que é formado por 22,5% da receita total dos impostos de Renda (IR) e dos Produtos Industrializados (IPI).
Além dos recursos recebidos, os prefeitos também reclamam de terem assumido, neste ano, prefeituras endividadas e com alto custo de manutenção da máquina. "A receita do FPM cresceu um pouquinho e as despesas dos municípios cresceram muito mais", comenta Sorvos.
O aumento salarial de várias categorias de servidores, aprovado no Congresso, também é alvo de críticas. "O governo [federal] aumenta o salário do magistério, por exemplo, e isso desencadeia todo um processo de aumento de gastos nas prefeituras. O piso ainda é baixo, a gente sabe, mas dá um impacto muito grande nos municípios", comenta José Kristemiuk, secretário da Associação dos Municípios do Sudoeste do Paraná (Amsop).
Correria injustificada
A "pressa" em regularizar as contas no fim de ano é criticada pelo professor de Direito Financeiro da UFPR Rodrigo Kanayama. Ele opina que não adianta correr para fazer economia em novembro e dezembro porque o Tribunal de Contas analisa os gastos com pessoal, por exemplo, do ano inteiro.
Colaborou Mariana Ceccon, especial para a Gazeta do Povo
Prefeitos vão a Brasília para pedir R$ 6,1 bilhões a mais
Das agências
Prefeitos de todo o Brasil se reuniram na manhã de ontem em Brasília para pressionar o Congresso a aprovar a proposta de emenda à Constituição (PEC) que aumenta em 2% os repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) o que daria R$ 6,1 bilhões adicionais às prefeituras brasileiras ao ano. Na contramão do que o Palácio do Planalto vem articulando com a base aliada no Congresso, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), se comprometeu com os prefeitos a dar rapidez na tramitação da PEC.
"A situação dos municípios não pode ficar como está", disse Alves."Os municípios viraram os primos paupérrimos da nação", completou. O presidente da Câmara afirmou ainda que a situação dos municípios é crítica, com prefeituras fechando as portas e sem dinheiro para pagar o 13.º salário do funcionalismo.
Organizada pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), a mobilização também quer sensibilizar os congressistas de que os municípios não têm condições de arcar com o aumento dos pisos salariais de diversas categorias sem que haja nova fonte de financiamento para as prefeituras.
"Tivemos boas reuniões com os presidentes da Câmara e do Senado [Renan Calheiros]. Também tivemos uma audiência com a ministra Ideli Salvatti [das Relações Institucionais]. As conversas foram positivas, mas vamos pressionar até o dia 10 de dezembro, quando faremos uma nova e ainda maior mobilização de prefeitos em Brasília pelos 2% [a mais no FPM]", disse Paulo Ziulkoski, presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM).
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