A exibição da novela Que Rei Sou Eu no canal a cabo Viva, que transmite programas antigos da Rede Globo, permite ao telespectador uma análise sobre a evolução dos nossos políticos. A trama, ambientada no reino fictício de Avilan em algum momento do século XVIII, foi ao ar originalmente em 1989, quando o Brasil se preparava para a primeira eleição direta para escolha do presidente da República após quase 30 anos. Apesar das diferenças de regimes políticos monarquia na novela e república presidencialista na realidade os desmandos dos detentores do poder eram iguais. A corrupção corria solta, a população sofria com os altos tributos e convivia com a constante desvalorização da moeda e planos econômicos ditos salvadores. A bem da verdade, a não ser pela estabilidade econômica, os mesmos problemas ainda nos afligem.
Nesta semana, Que Rei Sou Eu trata de um tema bastante atual: os planos de governo. Em Avilan, os conselheiros da rainha Valentine resolveram fazer uma eleição para primeiro-ministro, apenas como forma de "distrair" a população. A disputa tem cartas marcadas e eles já contam com a vitória do candidato governista, o conselheiro Bidet Lambert. Este tem feito suas "promessas de campanha", praticamente do mesmo jeito que os candidatos a prefeito e vereador estão fazendo neste ano de 2012.
Bidet, aos poucos, vai revelando seu plano de governo. "Prometo trabalhar pelo povo, pelos pobres. Vou fazer mais escola, vou trazer mais empregos. Vou mudar a gestão fiscal para acabar com o abismo entre os mais pobres e os mais ricos!" A certa altura, se questiona se o discurso não está muito cheio de "prometo, prometo." Mas conclui: "Ah, fazer o quê? O povo gosta de promessas!" Outro conselheiro reclamou que as promessas eram mirabolantes demais, mas a resposta de Bidet revela a realidade dos bastidores da política. "Tive que anunciar que farei grandes obras que é para as empreiteiras ficarem felizes e financiarem minha campanha."
A sátira tinha alvo, e era o Brasil de 1989. Infelizmente, ainda se encaixa na nossa realidade.
Reportagem da Gazeta do Povo de ontem mostrou o conteúdo dos planos de governo dos quatro principais candidatos à prefeitura de Curitiba. São genéricos e falam mais de princípios do que metas. As coordenações das campanhas disseram que o detalhamento ainda não foi feito por questão de estratégia eleitoral. Para que o concorrente "não roube" nenhuma ideia.
A maioria dos eleitores não terá acesso ao conteúdo dos planos de governo em detalhe, ou nem vai se interessar. Mas, se não tiver como se aprofundar nas propostas dos candidatos, é bom se espertar ao ver a propaganda eleitoral e os anúncios de campanha. O que não pode é deixar-se enganar por promessas vazias. Nesta campanha de 2012, ainda veremos muitos políticos prometendo mais saúde ou mais educação só para fazer um discurso bonito e tentar impressionar, do mesmo modo como ocorria lá pelos idos de 1989.
Mas algumas coisas importantes mudaram de lá para cá, e é melhor os políticos se acostumarem. Agora é possível enquadrar candidatos e governantes mais facilmente. Com a criação de portais de transparência em várias esferas de governo, com a Lei de Acesso à Informação, com relatórios de gestão e planos de governo, os eleitores têm mais ferramentas para questionamentos. A internet, os sistemas de busca e os arquivos digitais ajudam muito. Com alguns cliques, conseguimos recuperar informações e relembrar discursos de meses ou anos atrás. Essas ferramentas têm sido bem aproveitadas por grupos organizados, como os cicloativistas. Por exemplo: o blog Ir e Vir de Bike, da Gazeta do Povo, tem sido um guardião atento do que já foi prometido e não foi feito, ou de promessas já feitas e que foram requentadas para parecerem novas.
Em resumo: nem todos precisam vasculhar os planos de governo dos candidatos, mas é bom se informar com pessoas de confiança ou sites respeitáveis sobre as promessas de campanha. Outra dica: desconfie dos discursos e daquelas propagandas típicas de família feliz em comercial de margarina, pois não é jingle ou clipe de campanha que vai garantir um bom governo.
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