O PT acabou. Essa é uma das frases mais ouvidas nos bastidores políticos. Entre os petistas, no entanto, nem todos reconhecem o desmoronamento do maior partido de esquerda das Américas. Como sempre, a legenda está dividida sobre o futuro. As previsões vão da derrocada final ao surgimento de um novo petismo.¶A maior dificuldade para reerguer o PT depois da tragédia do mensalão e do caixa 2 não está na árdua tarefa de catar os cacos do que sobrou do edifício em ruínas. O mais difícil, ou quase impossível, será recuperar o sonho de milhares de integrantes do partido que acreditavam em um novo país após a chegada de Lula à Presidência da República. Mesmo que muitos insistam em afirmar que sonhos não envelhecem ou acabam, a dura realidade do partido não permite mais utopias.

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No grupo dos que não acreditam ser possível reconstruir o PT estão aqueles que sacrificaram parte de suas vidas por um projeto político. São trabalhadores, desempregados, aposentados, empresários, estudantes, integrantes de movimentos sociais, sindicalistas e donas de casa que um dia viveram a ilusão de que era possível construir um país melhor por meio do PT. Quantos não correram risco para protestar contra as injustiças sociais, a corrupção e a falta de oportunidades? Quantos não desafiaram os muros da desigualdade para pichar em letras vermelhas "Fora Collor", "Fora FMI", "Fora FHC"?

Para grande parte desse grupo o PT chegou ao fim. E no triste crepúsculo da estrela restou a desilusão. O que fazer depois de tantos anos de luta, de décadas alimentando um sonho que da noite para o dia se transformou em pesadelo? Para esses, não adianta perguntar: "E agora José (Dirceu)?". Muitos menos questionar: "E agora José (Genoíno)?". Foram eles, os Josés, Delúbios e Sílvios que levaram o partido ao esfacelamento.

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Mas os grupos petistas não são poucos. Aglutinados em blocos de socialistas, trabalhistas, comunistas, guevaristas, trotskystas e muitos outros istas, somados a sociais-democratas, liberais e neoliberais, que mais recentemente ingressaram no partido, muitos ainda vêem uma luz no horizonte que a cada dia se torna mais escuro. Há os que apostam na possibilidade de conquistar o comando da sigla nas eleições de setembro próximo e, a partir daí, retomar o caminho iniciado há 25 anos. Estão nesse grupo nomes como Raul Pont e Plínio de Arruda Sampaio, candidatos a presidente do partido. A esses, que fazem parte da chamada esquerda petista, a grande barreira será vencer o chamado Grupo Majoritário.

Apesar de despedaçado, o bloco que comanda o PT desde a fundação até hoje, do qual Lula faz parte, ainda reserva força para continuar respirando. O ex-ministro Tarso Genro é a esperança desse grupo político para reavivar o brilho do partido antes que ele se apague. Resta saber quantos desse grupo sobrarão após a limpeza que a militância está exigindo.

Independentemente do remédio a ser aplicado para curar o PT, o tamanho do partido a curto prazo dependerá das eleições de 2006. O eleitor que sonhou em 2002 com um país melhor, livre da corrupção, hoje está decepcionado.

Não será surpresa se, após as eleições, o PT passar a ser lembrado nos livros de História apenas como o primeiro partido do país que elegeu um presidente oriundo da classe operária. E nada mais.